O setor de serviços de tecnologia está a entrar num ciclo de desaceleração profunda, pressionado pela IA, pelas mudanças geopolíticas e pelas transformações estruturais na economia mundial, segundo a Bain & Company. A consultora avisa que a inação pode custar 45% a 50% do valor das empresas
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Após um período prolongado de expansão, o setor global de serviços de tecnologia regista um abrandamento, com o crescimento médio a cair “2% a 3%”, longe dos “4% a 5% antes da Covid-19” e cujas margens recuaram “mais de 200 pontos base”. De acordo com a Bain & Company, as avaliações das empresas regressaram a níveis pré-pandemia, sinal de um mercado que já não recompensa modelos tradicionais. No estudo publicado em novembro deste ano, verifica-se que a pressão mais imediata vem da Inteligência Artificial (IA). A consultora afirma que operar em modo contínuo pode vir a reduzir receitas “30% ou mais à medida que o trabalho é automatizado ou substituído pela IA”, e que as empresas podem perder “cinco a sete pontos de margem EBIT por descontos em contratos”. Esta tendência pode traduzir-se numa queda de “45% a 50% do valor empresarial nos próximos cinco anos”, revela.
Pressões económicas e nova concorrênciaO relatório indica que o setor enfrenta pressões do protecionismo económico à reorganização das cadeias de valor, agravadas pelo envelhecimento populacional e pelos custos da transição energética. O avanço do nacionalismo económico e de um “sistema comercial pós-global” gera incerteza, reduz a procura e dificulta a contratação de talento internacional, enquanto o envelhecimento nas economias desenvolvidas obriga a reestruturar equipas e eleva custos operacionais. Paralelamente, a transição energética exige investimentos pesados, sobretudo na energia e na indústria. A Bain & Company acrescenta que a concorrência já não vem apenas de prestadores tradicionais, com plataformas de IA e hyperscalers a substituir diretamente muitos serviços das consultoras e modelos multimodais e novas capacidades de gestão de dados a empurrar o mercado para ofertas mais padronizadas e integradas nos produtos.
Oportunidades na era da IAApesar da rutura, a integração da IA nos fluxos de trabalho pode criar oportunidades e gerar procura imediata por serviços especializados. A Bain & Company destaca oportunidades na modernização de sistemas, incluindo a migração massiva de código Cobol com apoio de IA, bem como o aumento da procura de chips específicos que abre espaço para serviços de design e validação. A consultora aponta ainda o avanço de processos suportados por modelos “AI-first” e de serviços baseados em plataformas mais repetíveis, enquanto a emergência de sistemas autónomos reforça a necessidade de integração tecnológica, com dados modernizados e preparados para IA a tornarem-se um dos principais centros de despesa.
Os oito imperativos para a transformaçãoO estudo organiza a resposta em oito imperativos, do redesenho estratégico ao reajuste cultural, sublinhando que “já não é possível definir estratégia ao nível vertical e geográfico” e defendendo que as empresas identifiquem “quinze a vinte micro-batalhas” onde pretendem ser líderes. A Bain & Company realça soluções multisserviço, novos modelos comerciais e adaptação das equipas de front office, cujas funções em serviços de IA exigem “conversas fundamentalmente diferentes”. O modelo de entrega passa de soluções personalizadas para plataformas escaláveis, com automação a permitir preços orientados a valor. No talento, são necessários percursos de carreira, competências mais amplas e propostas de valor flexíveis, enquanto a cultura deve evoluir de “equipas homogéneas” para estruturas diversas e hierarquias ágeis. Parcerias e aquisições estratégicas são apontadas como diferenciais, sobretudo em IA e gestão de dados, num setor que a Bain & Company considera estar em ponto de viragem, podendo crescer “duas vezes mais rápido do que o mercado” se agir decisivamente. |