A r(evolução) da cloud híbrida e multicloud

Para lidar com os desafios da transformação digital, as organizações devem olhar não apenas para a evolução da tecnologia, mas também olhar para o desenvolvimento de competências próprias internas para ter sucesso na revolução das plataformas de tecnologias digitais. Bravantic, Claranet, Colt, Schneider Electric e Warpcom partilham a sua visão sobre o mercado de cloud híbrida e multicloud

A r(evolução) da cloud híbrida e multicloud

Se 2022 foi o ano da cloud híbrida, então 2023 poderá ser o ano em que as empresas entenderão as vantagens de combinar os ativos on-premises com a diversificação dos seus serviços em vários cloud providers. Esta é uma estratégia conhecida por adotar uma abordagem multicloud e oferecer uma série de vantagens, incluindo maior flexibilidade e segurança.

Também impede que as organizações se tornem muito ligadas a um ecossistema específico - uma situação que pode criar desafios quando os cloud providers mudam as aplicações que suportam ou param de suportar aplicações específicas. Adicionalmente, ajuda a criar redundância, o que reduz a chance de erros do sistema ou do tempo de inatividade causar uma falha crítica nas operações comerciais.

 

 

A cloud híbrida e a multicloud não param de crescer, mesmo em contexto economicamente menos favorável. Este já é modelo de infraestrutura de primeira escolha para a maioria das organizações portuguesas?

Pedro Teixeira, Claranet

 

Pedro Teixeira, Cloud Director, Claranet: “No híbrido – entre o on-prem e a public cloud – nota-se, cada vez mais, uma maturidade das empresas em Portugal, especialmente empresas que têm algum lastro em termos tecnológicos que os obrigava a ficar com as funções presas on-prem; nota-se uma tendência cada vez maior a escolher com bastante critério que workloads deverão migrar para public cloud. O mundo é híbrido; o mais normal é que a situação híbrida tenda a não desaparecer, mas sim a estabelecer-se

André Ribeiro, Data Center Field Sales Engineer, Schneider Electric: “É [preciso] determinar os seus fatores críticos de negócio e as suas estratégias futuras para ver se faz sentido adotar algum tipo desta infraestrutura, ou até migrar a sua atual infraestrutura para esta. Para isso, é necessário estar muito bem estabelecido qual é a sua estratégia, se vão necessitar de aplicações que precisem de múltiplos recursos alojados em diferentes infraestruturas e, se isso corresponder, acredito que a evolução será – e está a ser – essa”

Ricardo Fernandes, Consulting Services Solutions Architect, Warpcom: “Uma das circunstâncias que também faz com que haja uma maior adoção e escolha de cenários hybrid cloud tem a ver com o facto de, hoje, o acesso aos equipamentos físicos ser um pouco mais complicado, ou, pelo menos, assiste- se a um maior atraso nessas entregas. Tendencialmente, recorrermos aos serviços de cloud e consumir os serviços de forma imediata traduz-se numa maior celeridade e é muito mais fácil para as empresas adotarem rapidamente os seus serviços sem ter de esperar por uma solução tradicional, tornando- se mais ágeis”

Muitas organizações decidiram manter parte dos seus workloads on-premises. São decisões já amadurecidas e por vezes são mesmo regresso a casa para cloud privada. Quais os motivos que levam os clientes a este tipo de decisão?

Rui Dias, Sales Engineer, Colt: “Acredito que temos de olhar para aquilo que são as transições – tanto para cloud pública como para cloud privada – caso a caso, tendo em consideração o negócio e cada empresa e temos de ter em atenção vários aspetos, como o nível regulatório. Existe a necessidade de fazer uma análise financeira extremamente audaz, no sentido em que na cloud temos uma flexibilidade de crescimento, temos modelos comerciais pay-as- -you-grow, no entanto o custo, por vezes, é mais difícil tendo em conta a dimensão da empresa”

Mário Acúrcio, Sales Specialist, Bravantic: “Muitas empresas migraram e colocaram os seus workloads, processos e aplicações na cloud pública; não havia um controlo de custos tão efetivo. Muitas aplicações legacy que se julgavam poderem ser transformadas e colocadas na cloud não aconteceram e houve este roll-back. Muitos fabricantes têm soluções que permitem dizer ao cliente que têm uma solução pay-per-use e pay-as-you-grow e que define quais são as suas soluções, qual a sua necessidade e, mesmo para utilizações esporádicas, têm um buffer pré-definido, consome e volta à sua arquitetura tradicional” 

Pedro Teixeira, Claranet: “Por vezes, há uma falta de acompanhamento na fase de preparação. A forma como não se estudam os workloads que vão funcionar em cloud pode trazer dissabores. Existe aquela política de ‘primeiro passamos, depois logo se vê’, o puro lift-and-shift, que é a receita para o desastre; depois, traz uma subida de custos, complexidade e falta de noção do que é necessário gerir que traz uma experiência muito negativa que leva muitas empresas a recuar e, infelizmente, a ficarem com uma péssima impressão do que é trabalhar em public cloud”

 

André Ribeiro, Schneider Electric

André Ribeiro, Schneider Electric: “Existem negócios que carecem de guardar informações estratégicas e sigilosas, como é o caso das instituições bancárias. Isso poderá ser um dos motivos – além de outros – de manter os seus workloads on-premises. Também temos a questão da confiança nas soluções de cibersegurança para proteger os seus workloads e toda a sua infraestrutura; não há razão para os empresários e gestores de IT manterem os seus workloads em casa, a não ser se quiserem mesmo proteger algumas informações sigilosas e estratégicas”

A cloud híbrida e a multicloud dependem de uma grande interconetividade entre sites. Aplicações como o IoT e outras que precisam de baixa latência estão a levar a computação até ao edge. A computação será cada vez mais descentralizada. Como é que os fornecedores estão a responder a estes desafios? 

Mário Acúrcio, Bravantic: “Face a esta mudança de paradigma e aos novos desafios diários, é necessária uma rápida adaptação para garantir a continuidade de negócio. Cada vez mais, as empresas têm de se adaptar mais rapidamente; não só as empresas, mas também os fabricantes e fornecedores. Hoje, saem tecnologias de forma cada vez mais rápida. A evolução tem sido tão grande e nota-se que os fabricantes estão todos ao mesmo nível, as soluções estão a sair e há uma oferta cada vez mais vasta no mercado”

Rui Dias, Colt

 

Rui Dias, Colt: “Não nos tentamos posicionar como fornecedor, mas sim como um parceiro. Os CEO procuram cada vez mais parceiros que possam ajudar e apoiar aquilo que são as transições destes ambientes entre multicloud. Fizemos um investimento na rede de fibra ótica, criando uma rede de forma dinâmica com recurso a software-defined network em que temos a capacidade de fornecer serviços em real-time e temos a capacidade de fazer ligações entre as clouds públicas tendo em conta a presença em tudo aquilo que são os data centers onde se encontram sediadas”

André Ribeiro, Schneider Electric: “Não pode acontecer esta transformação, baixas latências e altas velocidades, se não houver uma infraestrutura física de qualidade. Com as camadas aplicacionais que conseguimos colocar para gerir essa própria infraestrutura física e daí tirar todos os benefícios para a tomada de decisão de um gestor de IT, até a nível de capacidade futura, se necessita de colocar mais capacidade de computação, se precisa de mais energia ou, até, tirar indicadores da eficiência energética do próprio equipamento alojado”

Pedro Teixeira, Claranet: “Não só em Portugal, mas também internacionalmente estamos a ver alguns projetos de edge computing e a verdade é que estamos a ir ao pormenor de que muita informação que é passada entre os devices é selecionada para, no fundo, garantir que a informação mais importante é tratada. Hoje, já existe uma abordagem de perceber o que é crítico de passar primeiro para uma decisão rápida e o que pode esperar, exatamente para garantir que a informação chega no momento certo”

O armazenamento é para muitas empresas a forma inicial da adoção de cloud. Como está a evoluir o armazenamento e o backup nos ambientes cloud? 

Ricardo Fernandes, Warpcom: “Aquilo que assistimos é a que quase todos os providers têm esta oferta e cada vez é mais abrangente nos diversos tipos de armazenamento que são oferecidos, seja para armazenamento comum ou backup. Isto faz com que as empresas, de alguma forma, deixem de ter a preocupação de gerir, de controlar os seus dados ou o hardware onde se albergam estes dados; simplesmente, passam esse serviço para a cloud e deixam de ter essa preocupação e, cada vez mais, esse serviço é mais acessível”

Mário Acúrcio, Bravantic: “Quando se começou a falar de adoção de cloud, o armazenamento não era tão considerado. Tínhamos o Office 365, os emails, e depois começou a evoluir para a parte do backup. Os clientes procuram uma abordagem 3-2-1 em que há um repositório na cloud para garantir que o mesmo não é afetado. Depois, na parte dos dados, há vários fornecedores de cloud pública que têm uma oferta muito interessante. Sem dúvida que a cloud está mais apetecível para as empresas colocarem os seus dados, seja por backup, seja por arquivo ou mesmo para produção”

Rui Dias, Colt: “Big data, hoje, é uma componente muito forte de negócio da cloud pública; desde muito cedo existiu uma oferta nesta área. Acredito que a componente de backup tenha aparecido por uma questão de otimização de workflows de produção; quando temos o nosso storage na cloud, faz sentido trazer o backup por uma questão de harmonização de infraestrutura. No entanto, do ponto de vista de cloud híbrida, pode ser um pouco distinto; pode ser necessário ter o backup in-house por questões regulatórias”

A cibersegurança das clouds é um ponto importante da transformação digital das organizações. Como é que as organizações olham para esta componente e, habitualmente, por onde é que começa o investimento nesta área? 

Mário Acúrcio, Bravantic: “O tema da segurança já existe há muitos anos – sempre existiu –, mas, de facto, era descurada. Com a pandemia e com o crescimento dos ciberataques, começou a ser mais falado e as organizações passaram a dar mais ênfase a este tema. Ao dia de hoje, já começa a ser uma realidade para todos, já existe um budget para segurança coisa que, há uns anos, não existia. Mais de metade das PME que fecham não tem a ver com a sua liquidez financeira; tem, sim, a ver com a falta de confiança dos clientes após serem alvo de um ciberataque”

Pedro Teixeira, Claranet: “Dado os eventos que têm acontecido, especialmente nos últimos anos, as empresas olham agora para a cibersegurança como um ponto nos seus orçamentos. É sempre um ponto que mostra alguma falta de maturidade em alguns clientes; alguns clientes corporate ainda se nota e alguns clientes acham que uma firewall é cibersegurança e cabe-nos a todos nós fazer esta evangelização que a cibersegurança é precisa, tal como outra coisa qualquer”

Ricardo Fernandes, Warpcom: “O tema da segurança, face também aos últimos ataques de ransomware, leva a que as empresas fiquem mais preocupadas e, face a essa experiência, tentam logo evitar esses mesmos ataques. A forma mais fácil é, muitas vezes, recorrer aos serviços de cloud que tentam colmatar e oferecem o serviço de forma mais ágil, ou também tentam colocar esse serviço dentro de casa para minimizar as possibilidades de sofrerem qualquer impacto com esses ataques”

As organizações precisam de flexibilidade e é importante que se derrubem barreiras na adoção de soluções cloud. Como é que a cloud híbrida e a multicloud vem apoiar essa flexibilidade necessária para as empresas? 

André Ribeiro, Schneider Electric: “Não é dramático se uma empresa não adotar soluções cloud. Na verdade, e simplificando, se uma empresa, mesmo pequena, já tiver um data center no local onde desenvolve o seu negócio, essa empresa já tem uma cloud privada, sendo essa infraestrutura uma cloud privada interna. Agora, esta solução pode não ter a flexibilidade e escalabilidade que novos recursos ou aplicações venham a precisar; aqui, o gestor de IT terá o papel fundamental de transitar para a cloud híbrida ou para a multicloud”

 

Ricardo Fernandes, Warpcom

Ricardo Fernandes, Warpcom: “A cloud híbrida e a multicloud vem dar às empresas a agilidade muitas vezes necessária para os negócios atuais, vem dar a oportunidade de consumir os recursos, as aplicações necessárias para o seu negócio, independentemente do local e da forma mais eficiente possível. Desta forma, permite às empresas ter as suas necessidades a serem executadas num sítio que lhes seja mais vantajoso”

Rui Dias, Colt: “O modelo cloud veio trazer, de forma nativa, ao mercado o conceito de flexibilidade. Ao dia de hoje, tudo o que são clouds públicas têm opções de pay-as-you-grow na qual temos a capacidade de pagar apenas tudo aquilo que estamos a utilizar e, com isso, temos um rápido crescimento daquilo que são as infraestruturas, as plataformas e serviços; isso dá a dimensão necessária às empresas, dá às equipas de DevOps de desenvolverem e produzirem de forma mais rápida”

Pedro Teixeira, Claranet: “Temos de olhar muito para o objetivo de utilizar public cloud. O cliente não tem de ir para cloud; não podemos transformar public cloud numa tendência só porque é moda. Temos de olhar do ponto de vista de negócio o que é que faz sentido para nós. Podemos ter a nossa própria infraestrutura, mas quando queremos testar alguma funcionalidade nova ou plataforma a public cloud é, aí, uma excelente ferramenta para esse tipo de solução”

A gestão dos custos de ambientes complexos de multicloud, o lock-in e a atualização ou descontinuidade de apps por parte dos cloud providers são alguns problemas com que as organizações têm de lidar. Como simplificar esta gestão e que soluções existem?

Ricardo Fernandes, Warpcom: “Cada cliente terá de fazer uma análise bem feita e aprofundada porque cada cliente vai ser um caso específico. Para alguns poderão não fazer sentido os temas de multicloud ou cloud híbrida. Um aspeto importante é o controlo do custo nestes cenários porque se o cliente perde o controlo dos custos na utilização dos vários serviços o tema vai escalar para um lado menos positivo e rapidamente vai tentar sair dessa situação. Tem de ser adotada a solução que seja mais benéfica para o negócio”

André Ribeiro, Schneider Electric: “Do nosso ponto de vista, esta complexidade, sendo ela uma cloud híbrida, on-prem ou até edge, tem de estar alojada em algum lado que é um espaço físico. Temos a capacidade de oferecer e conjugar todos estes ambientes através de camadas operacionais e software que temos vindo a desenvolver para dar esta facilidade ao gestor de IT ou cloud provider a tomar a sua decisão, qualquer que ela seja, independentemente da altura que for”

Rui Dias, Colt: “Acredito que este tema esteja na mente daquilo que são os nossos CEO. Acho que uma grande arma para combater o lock-in na cloud pública é ter uma abordagem multicloud, ter uma equipa interna de DevOps com know-how suficiente para implementar aquilo que são as suas infraestruturas, tudo aquilo que são os workloads do negócio de uma forma mais abrangente, com capacidade de integração entre vários ambientes cloud”

Mário Acúrcio, Bravantic

 

Mário Acúrcio, Bravantic: “Falamos de modelos de financiamento e associamos sempre a cloud a OpEx e chamo à atenção que muitos fabricantes permitem que seja um modelo OpEx on-premises; tem a ver com os modelos de negócio e já existe essa flexibilidade da cloud, mas on-prem. Alguns clientes querem criar a sua própria cloud e disponibilizar para toda a organização; isto assenta sempre na questão do hypervisor e das ferramentas que queremos. Podem controlar os custos e ter acesso num portal, mas tudo de forma privada”

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IT INSIGHT Nº 48 Março 2024

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