As aplicações empresariais têm vindo a evoluir e têm um papel fulcral na transformação digital das organizações. Numa mesa-redonda virtual, a Claranet Portugal, a Pontual e a Tungsten Automation partilharam a sua visão sobre o mercado de software e para onde vão as aplicações empresariais
A transformação digital está a redefinir a forma como as empresas operam, impulsionando uma nova geração de software empresarial mais inteligente, integrado e automatizado. O crescimento da inteligência artificial, a necessidade de maior interoperabilidade e a evolução dos modelos de consumo de SaaS estão a moldar um ecossistema tecnológico cada vez mais dinâmico. Numa mesa-redonda virtual, Hugo Gonçalves, da Claranet Portugal, Pedro Sousa, da Pontual, e João Diniz, da Tungsten Automation, partilharam com centenas de leitores a sua visão sobre as tendências que impactam os decisores em tecnologia e que estão a redefinir o futuro das aplicações empresariais. Qual é o 'estado da nação' sobre a evolução do software empresarial e de que forma é que o software empresarial tem conquistado um papel central na transformação digital das organizações?
Hugo Gonçalves, Business Developer Senior Manager, Claranet Portugal: “Temos estado a viver um grande período de transformação. O software empresarial tem um impacto muito grande na transformação digital das organizações, para além de ser o core de muitos processos. Em termos de impacto, o software empresarial traz uma maior eficiência operacional – como automatização ou redução de custos –, também traz uma melhor experiência para o cliente e, por fim, todo o impacto que tem na inovação, as análises que se fazem aos dados e transformar a informação em valor e reorientar as ofertas e os produtos com base nessa informação” Pedro Sousa, Business Developer, Pontual: “O software empresarial tem vindo a evoluir de uma forma muito significativa. Hoje, representa um pilar daquilo que chamamos de transformação digital nas organizações. Já não falamos de automatizar processos, mas sim de integrar operações e criar modelos de negócio que sejam mais ágeis e resilientes. Plataformas como o ERP, HCM e business intelligence tornaram-se, hoje, verdadeiros centros nevrálgicos das organizações que se adaptam ao mercado. A diferença não está apenas na tecnologia disponível, mas na capacidade de adaptar essa tecnologia à especificidade de cada negócio” Quais são as principais tendências em plataformas e software empresarial que as organizações ainda estão a subestimar? Hugo Gonçalves, Claranet Portugal: “Hoje fala-se muito da inteligência artificial; não há como não trazer este tópico para as tendências. Mas há alguns pressupostos para tirar o máximo valor da inteligência artificial, que não funciona se não tivermos uma boa base de dados. A forma como os temas funcionam de uma forma integrada e como é que a informação circula entre os sistemas. É importante que os sistemas sejam abertos e interoperáveis para depois, a partir daí, podermos extrair valor a partir da análise e amplificar o conhecimento na empresa. Também é preciso termos uma cultura de melhoria contínua, de ver como é que as pessoas interagem com os sistemas” Ao falarem com os clientes, quais são os fatores que mais pesam na decisão de escolha de uma plataforma? Como é que se responde a esses fatores? João Diniz, Senior Sales Strategic Account Director, Tungsten Automation: “Num mundo em que tudo está a mudar, esta continua a ser uma área onde existe alguma estabilidade. A avaliação do fornecedor continua a ser muito importante, tudo o que são os requisitos técnicos das plataformas. Feliz ou infelizmente, os custos continuam a ser muito importantes; a capacidade de investimento ainda continua a ser bastante limitada e, como tal, as empresas têm de escolher onde vão gastar dinheiro. A questão da interoperabilidade, das plataformas interagirem com outros sistemas, é uma necessidade fundamental para as organizações”
Pedro Sousa, Pontual: “Temos mais de três mil clientes e, junto deles, percebemos três grandes áreas para a escolha de uma plataforma. A primeira é a adaptação ao negócio: os clientes procuram tecnologia que se molde aos seus processos e não ao contrário; querem soluções flexíveis que cresçam com eles. O segundo ponto é a experiência de utilização, o user experience; já lá vai o tempo em que bastava que a ferramenta tivesse as funcionalidades. A nova geração de clientes avalia muito com as suas equipas como é que elas vão interagir com a plataforma. O último ponto tem a ver com a credibilidade do fornecedor; os clientes querem saber quem está por trás da solução e procuram parceiros de longo prazo e não apenas os vendedores imediatistas” Hugo Gonçalves, Claranet Portugal: “Efetivamente, esta capacidade de as plataformas serem escaláveis e flexíveis é uma necessidade para as organizações. Os clientes olham para a sua realidade como muito própria e há uma necessidade de adaptar a plataforma à sua visão e ter esta escalabilidade e flexibilidade é, claramente, uma necessidade. Depois, também é preciso que a plataforma tenha um roadmap evolutivo para trazer novas funcionalidades e componentes que possam ser utilizadas pelas várias organizações para implementar a sua visão e inovações” De que forma é que podemos escolher a plataforma certa para determinadas aplicações críticas? João Diniz, Tungsten Automation: “Há algumas coisas que continuam a ser muito importantes. A flexibilidade das plataformas é essencial porque os clientes têm sempre a opção entre as soluções que permitem dar resposta a uma necessidade específica ou a possibilidade de ter uma plataforma que pode dar resposta a várias necessidades e construir sob essa plataforma vários processos. É preciso perceber as verticalizações que são construídas nessas plataformas e o ecossistema de parceiros a que a organização tem acesso para o suporte das soluções” Pedro Sousa, Pontual: “Escolher a plataforma certa para aplicações é um processo que envolve equilibrar vários fatores chave: escalabilidade, segurança e capacidade de integração. Vivemos num tempo muito imprevisível e a adaptação das plataformas é crucial, já que as necessidades do mercado mudam muito rapidamente; as próprias empresas têm de se adaptar às condicionantes da economia. Se é uma área essencial como gestão financeira ou de recursos humanos, a plataforma escolhida precisa de ser capaz de garantir não só uma alta disponibilidade, mas também performance e segurança em tempo real” Há uns anos, era habitual existir a personalização das soluções empresariais. Até que ponto é que isso faz sentido em 2025? Ainda é vantajoso para o cliente? Qual é o ponto de equilíbrio entre uma solução out of the box e uma adaptada ao negócio do cliente? Pedro Sousa, Pontual: “A personalização continua a ser fundamental na implementação de um ERP, mas o conceito de personalização evoluiu. Já não falamos em desenvolvimentos à medida que eram pesados e difíceis de manter; hoje, falamos de uma configuração inteligente, de integração de plataformas e de flexibilidade na integração dos processos. O ponto de equilíbrio está em conseguir oferecer uma solução que respeite o ADN do cliente, sem criar sistemas tão específicos que fiquem presos no passado e se tornem num bloqueio à inovação e à mudança”
João Diniz, Tungsten Automation: “Em primeiro lugar, o que são as soluções out of the box hoje já não são o que era anteriormente. Se, por um lado, as soluções out of the box não são tão estanques como eram anteriormente, também as plataformas de desenvolvimento têm um modo de desenvolvimento muito mais rápido, mais acelerado e com custos muito mais baixo. Por vezes, faz sentido a integração de soluções out of the box e, noutras, faz sentido o desenvolvimento de plataformas próprias” Como é que tecnologias como inteligência artificial e plataformas de desenvolvimento low-code ou no-code - separadamente ou em conjunto - estão a mudar fundamentalmente não só o que as aplicações empresariais podem fazer, mas também quem as pode construir ou adaptar? Adicionalmente, como estão a mudar a nossa interação com essas mesmas aplicações? Hugo Gonçalves, Claranet Portugal: “Este tema do low-code e no-code tenta dar resposta àquilo que havia e continua a haver que é o shadow IT. Antes, as plataformas de ERP que existiam eram mais rígidas e havia muitas pessoas que faziam a sua gestão fora das plataformas para dar resposta às necessidades do seu trabalho e que a plataforma não permitia. As plataformas de low-code e no-code vieram dar às organizações a capacidade de inovar, de dar uma resposta mais rápida para adaptar, mas também a modelos menos centralizados de quem pode criar, de quem pode fazer e de quem pode inovar. Isso deu mais poder às pessoas para poderem ser elas próprias a contribuir com ideias e pequenas aplicações” João Diniz, Tungsten Automation: “Estas plataformas de low-code e no-code vêm da necessidade de desbloquear a inovação na organização. Também há uma dificuldade em ter recursos técnicos que é um bloqueio grande para a inovação e a transformação digital porque as empresas vêm-se no ponto de ter de decidir que projetos podem implementar, onde alguns desses projetos eram deixados para trás por não haver capacidade de inovação simultânea. As plataformas de low-code e no-code, assim como a inteligência artificial generativa, vieram abrir essa porta para muitas organizações” Como é que os clientes mais maduros medem o ROI das soluções empresariais atualmente? Pedro Sousa, Pontual: “O retorno do investimento está subjacente a qualquer decisão dos empresários em Portugal. Mas o ROI não se mede apenas dos retornos a curto prazo, mas também a longo prazo. A primeira que deve ser considerada é a eficiência operacional, aumentar a produtividade e reduzir redundâncias. Se uma plataforma consegue diminuir o tempo de inatividade, é um ponto positivo. Se a plataforma se consegue adaptar às alterações do mercado com ajustes rápidos e com custos baixos de implementação, então tem um ROI que vai para lá do curto prazo. Empresas que estejam bem informadas tomam decisões mais rápidas que, por sua vez, aumentam a competitividade e rentabilidade das organizações” Qual é o futuro a curto e a médio prazo do mercado de software empresarial? Que tendências e inovações podemos esperar ver nos próximos anos? João Diniz, Tungsten Automation: “Podemos olhar para as tendências a partir do momento em que estamos e, a médio prazo, podem ser bastante diferentes. Garantidamente, a tendência de mudança das soluções para a cloud vai continuar a existir; mesmo indústrias e setores mais tradicionais e mais avessos ao risco estão a fazê-lo. A partir do momento em que os clientes começarem a perceber como podem utilizar a inteligência artificial nos seus processos, muita coisa vai mudar, trazendo mais produtividade para as organizações e para as plataformas que estas utilizam” Hugo Gonçalves, Claranet Portugal: “O tema da inteligência artificial e da agentificação é uma tendência. Os agentes podem conseguir gerir um processo end to end. Sentimos que as software houses estão a licenciar o seu software para uma base de consumo em vez de um número de utilizadores ligados; através do licenciamento por consumo, a organização também consegue provar o valor das aplicações mais facilmente. É algo que devemos estar atentos e em alguns use cases pode fazer sentido este modelo de consumo” |