Mobilidade empresarial: pessoas, processos e tecnologia no novo mundo do trabalho

A transformação dos modelos de trabalho, impulsionada pela mobilidade empresarial, esteve em debate numa mesa-redonda promovida pela IT Insight e pelo IT Channel. A discussão contou com as perspetivas estratégicas de representantes da Asus, Claranet Portugal, HP, Ingecom Ignition Portugal, Lenovo, WatchGuard e Zaltor, que analisaram as tendências e os desafios do setor

Mobilidade empresarial: pessoas, processos e tecnologia no novo mundo do trabalho

A modernização do local de trabalho digital é uma prioridade estratégica, especialmente em fases de reorganização e aumento de carga de trabalho. Especialistas da indústria têm vindo a debater os principais desafios e soluções nesta área, focando-se em quatro pilares fundamentais: a complexidade da gestão de dispositivos móveis, o desenvolvimento de soluções de workplace ágeis, o reforço da segurança informática e a exploração do potencial disruptivo da inteligência artificial para criar sistemas mais integrados e eficientes.

Que percentagem dos clientes ainda vê a mobilidade como 'dar um portátil ao colaborador' versus uma estratégia integrada de workplace? Como é que isso se reflete nos orçamentos?

 

Nelson Martins, Key Account Manager, Asus

Nelson Martins, Key Account Manager, Asus: “Quando se fala de mobilidade e do workplace atualmente, o ponto essencial já não é só o equipamento. As empresas precisam de oferecer uma solução completa que capacite o colaborador a ser produtivo, a estar seguro, a estar sempre conectado, seja no escritório, seja em casa ou em qualquer outro lugar. É uma área estratégica que tem como objetivo capacitar os trabalhadores a serem produtivos em todos os lugares, de forma segura e eficiente. Esta área tem vindo a evoluir como uma resposta às tendências de trabalho híbrido e remoto”

Manuel Vieira, Business Developer Expert, Claranet Portugal: “As PME estão sempre muito focadas num contexto de entrega de equipamento que vá ao encontro das funções do colaborador e que traga alguma satisfação para o mesmo. Já as empresas de maior dimensão pensam na componente workplace, não só focada no dispositivo, mas no dispositivo e em todos os acessórios, sejam eles de hardware ou componentes de serviços”

Rui Gouveia, Channel Sales Manager, Lenovo: “A percentagem de empresas que olham para a mobilidade como a mudança de algum dispositivo ainda é grande. Essa mobilidade é uma visão um pouco limitada e tem também ela um investimento limitado, sem uma estratégia verdadeira de acesso à rede corporativa. A estratégia está muito relacionada com a visão da empresa sobre se a mobilidade favorece ou não a produtividade. O tema ainda é um debate. Há muitas empresas portuguesas que veem a produtividade a cair e estão a dar passos atrás em relação ao trabalho remoto”

António Correia, Area Sales Manager, WatchGuard: “Vemos que as empresas de maior dimensão já têm uma estratégia, já veem a parte da segurança como algo que tem de estar incluída e pensada de raiz. A verdade é que nos deparamos muitas vezes com clientes que não têm esta sensibilidade e que pensam que é simplesmente ter um computador, uma VPN e está tudo resolvido. Mas vemos cada vez mais clientes – e aqui há muito trabalho dos parceiros tecnológicos que apoiam os clientes a fazer essa passagem – a terem noção de que com a mobilidade abre-se muito mais a superfície de ataque. É muitíssimo importante ter uma solução TDR, uma solução de proteção de identidade. Notamos cada vez mais a adoção de soluções de SASE”

Victor Bighetti, PreSales Engineer, Zaltor: “Notámos que as grandes empresas já possuem alguma estratégia integrada de workplace, enquanto as pequenas e médias empresas ainda estão no processo de evangelização. Há um grande trabalho pela frente para evangelizar os que têm poder de decisão de que não é apenas por entregar um portátil ou o facto de o colaborador não estar dentro das suas instalações físicas que existe mobilidade. Nós entendemos que a mobilidade envolve pontos para garantir um ecossistema completo - um ecossistema seguro. Pontos como um acesso remoto, uma gestão centralizada dos endpoints, a parte dos acessos, a autenticação forte e controle de identidade são pontos necessários”

Que métricas de produtividade é que as empresas portuguesas estão realmente a medir no workplace híbrido?

Nuno Cordeiro, Workplace Services and Solutions Business Manager, HP

 

Nuno Cordeiro, Workplace Services and Solutions Business Manager, HP: “Entendemos que a produtividade do modelo híbrido vai muito mais além das tarefas concluídas. As empresas já começam a avaliar atualmente outros tipos de indicadores, não só apenas a nível dos equipamentos, se estão funcionais ou não, mas também o tempo de inatividade dos colaboradores devido a falhas de tecnologia. Quando falham, o tempo que estão sem produzir para a empresa é importante, e essa medida é importante para que se possam evitar esse tipo de situações. Outro ponto é a satisfação dos utilizadores com os dispositivos com que trabalham: se um utilizador não está satisfeito com os equipamentos de tecnologia, a produtividade não vai ser a melhor”

Com o aumento do trabalho remoto, como é que as empresas estão a lidar com a gestão de identidades e acessos? Que soluções falham mais?

 

António Correia, Area Sales Manager, WatchGuard

António Correia, WatchGuard: “Vê-se cada vez mais essa preocupação. A maior parte dos ataques que são noticiados e que vemos acontecer, em alguma altura, passam por um roubo de credenciais. Sentimos que as empresas estão cada vez mais sensíveis a isso. O que vejo muitas vezes é que não se assume o compromisso com a força com que se devia assumir, ou seja, pensamos muito bem, já estamos convencidos de que isto é uma necessidade, mas vamos só pensar em quem tem acesso a sistemas mais críticos. A verdade é que, normalmente, quem ataca procura sempre o elo mais fraco”

Victor Bighetti, Zaltor: “A gestão de identidades e acesso tornou-se um dos maiores desafios para as equipas de IT e para as empresas porque passa por garantir que quem está a aceder é realmente aquela pessoa, que os dados são corretos, que as permissões estão corretas e que tudo vai funcionar. Esta questão não vem de um funcionário que está dentro das instalações – sobre quem é mais fácil ter esse controlo –, mas de um funcionário que está em trabalho remoto”

Pedro Madeira, Cybersecurity Business Developer Manager, Ingecom Ignition Portugal: “A gestão de identidades e acessos passou de ser apenas uma questão técnica para ser adotada quase como uma estratégia de negócio. Atualmente assiste-se à implementação de soluções como o MFA, o Zero Trust, os IAM, os EDR, e é muito por aqui que as empresas protegem as infraestruturas. Um dos desafios para as empresas passa por tentar agregar todas as soluções para que a gestão das ferramentas seja mais simples. Outro desafio é a integração de infraestruturas legacy que não suportam este tipo de soluções mais modernas”

Qual é o ciclo médio de renovação de hardware que estão a ver no mercado português? Como justificam as atualização de equipamentos face à pressão nos orçamentos?

Rui Gouveia, Channel Sales Manager, Lenovo

 

Rui Gouveia, Lenovo: “Tendo por base os números presentes na Europa diria que serão dois, três anos para smartphones, e entre quatro e seis anos para portáteis e desktops, um pouco menos para portáteis, mais para desktops. Obviamente depende muito do nível de maturidade da empresa e depende das áreas em que estamos a falar, por exemplo, áreas de tecnologia, software houses, developers, banca, tendem a renovar equipamentos mais frequentemente, diria até três anos, e outras áreas, como administração pública ou indústria, estendem mais o ciclo de vida dos equipamentos”

Nelson Martins, Asus: “O ciclo de renovação varia de empresa para empresa, com o uso que é dado ao computador, com o desempenho que é esperado da máquina, com as tarefas que são necessárias executar e tendo em conta o que é possível fazer com a integração da inteligência artificial e o plano de desenvolvimento tecnológico que existe dentro de cada empresa. Como é que isto se alinha dentro daquilo que são os orçamentos disponíveis? Aquilo que temos observado é que as empresas querem modernizar-se, muitas sem aumentarem os investimentos, mesmo quando já estão identificadas essas necessidades e esses custos”

Que tipo de projetos de workplace têm maior taxa de aprovação pelos diretores financeiros neste momento? Porquê?

 

Victor Bighetti, PreSales Engineer, Zaltor

Victor Bighetti, Zaltor: “Temos de tentar demonstrar aos diretores financeiros que essas aplicações são justamente para tentar reduzir um risco operacional, um risco que não é nem mensurável. Por exemplo, dependendo do risco, um ataque pode culminar no fim daquela empresa. É aí que entramos para tentar demonstrar aos diretores financeiros que é válido o investimento. Ou seja, tudo o que ajude na gestão de IT para reduzir falhas de segurança, para garantir a produtividade em ambientes remotos ou híbridos, com o menor investimento possível, temos a certeza de que será aprovado”

Pedro Madeira, Ingecom Ignition Portugal: “Os exercícios com maior taxa de aprovação são aqueles que combinam eficiência operacional, a segurança digital e o retorno de investimento. Destacaria a automação de processos com inteligência artificial, que acaba sempre por reduzir os custos operacionais, aumentando a produtividade das equipas. A verdade é que este tipo de projetos, quando bem vendidos pelas áreas de IT aos departamentos financeiros, acabam por ter aqui um ciclo de decisão rápido, porque existe o tal retorno de investimento, ainda que aos olhos do IT e do financeiro o mesmo seja diferente”

Com a expansão do perímetro digital através da mobilidade, dispositivos pessoais e ligações remotas, que desafios acrescidos de segurança estão a surgir? É necessário evoluir para modelos como zero trust, SASE ou proteção de endpoint baseada em IA?

Pedro Madeira, Cybersecurity Business Developer Manager, Ingecom Ignition Portugal

 

Pedro Madeira, Ingecom Ignition Portugal: “A evolução para este tipo de modelos é quase uma necessidade estrutural. A expansão do perímetro digital, o bring your own device, as aplicações de software as a service e o próprio trabalho remoto em si acabam por desmantelar o conceito tradicional que tínhamos da segurança perimetral. O que num passado recente era uma muralha à volta da empresa, hoje é uma rede distribuída, muito dinâmica e altamente vulnerável. As superfícies de ataque estão muito mais fragmentadas e muitas vezes invisíveis. Os ataques de phishing estão na ordem do dia e também as aplicações não autorizadas e a falta de ferramentas que nos deem resposta em tempo real. Esses são os maiores desafios que as empresas têm”

António Correia, WatchGuard: “Vai acelerar e alargar brutalmente a superfície de ataque e aumentar os pontos de entrada, mas estes tipos de tecnologias vêm ajudar. O que considero essencial nas empresas é, mais do que começar pela tecnologia, começar por uma política de segurança com pés e cabeça, ou seja, definir muito bem o que existe e que tipo de tecnologia nos vai ajudar a precaver os ataques. A WatchGuard tem uma componente fortíssima na ajuda da implementação de zero-trust que classifica 100% das aplicações e só permite executar o que tem a certeza que é bom. Através do machine learning conseguimos garantir que entregamos este resultado num espaço de segundos”

Ao falar de inteligência no local de trabalho, que aplicações práticas estão a implementar nos vossos clientes e com que resultados?

 

Manuel Vieira, Business Developer Expert, Claranet Portugal

Manuel Vieira, Claranet Portugal: “Na Claranet Portugal temos feito uma aposta muito grande em inteligência artificial, inclusivamente temos uma practice só dedicada a Inteligência Artificial, - practice Data and AI –, e desde o momento em que o Copilot surgiu no mercado, também atuamos e decidimos estar junto da Microsoft para poder ajudar os nossos clientes e também internamente utilizarmos e adaptarmos estas novas ferramentas”

Nuno Cordeiro, HP: “A IA, para além da automatização de todas as tarefas, também já nos ajuda na análise do próprio sentimento dos colaboradores. Na HP temos uma plataforma de DEX suportada pela IA que é o Workforce Experience Platform, onde já conseguimos efetuar inúmeras tarefas com a ajuda da IA, como recomendar dispositivos e aplicações com base no perfil dos colaboradores, das empresas, e antecipar os problemas antes que se tornem críticos para os colaboradores e para a empresa”

Rui Gouveia, Lenovo: “Há inúmeras aplicações, desde a colaboração, produtividade também, assistentes virtuais, automatização de tarefas, ferramentas de ajuda na escrita, gestão de projetos, otimização de fluxos, etc. Já assistimos a esta realidade nas empresas e no posto de trabalho, com diferentes graus de maturidade. Alguns clientes já utilizam ferramentas, às vezes sem se aperceberem, porque muitas estão ligadas à segurança”

Nelson Martins, Asus: “A Asus tem investido bastante em inteligência artificial, não só a nível dos produtos, neste caso do hardware, mas também a nível de software. Isso significa que a inteligência artificial não está presente apenas nos produtos, mas sim em toda a solução, em todo o ecossistema que pretendemos apresentar. Alguns exemplos práticos que estamos a implementar nos nossos clientes são precisamente os computadores e software com inteligência artificial. Os nossos computadores já estão equipados com os processadores, com as tais unidades de processamento neural, os tais NPU”

Se tivessem de aconselhar um diretor de tecnologia português a investir apenas numa área de workplace nos próximos 12 meses, qual seria e porquê?

Nuno Cordeiro, HP: “Na área do Digital Employee Experience, e agora com a plataforma do Workforce Experience Platform, é algo disruptivo de tudo o que tem estado a ser feito um pouco no mercado. A abordagem que temos estado a fazer às empresas no mercado português tem sido extremamente bem aceite e realmente é uma visão que as empresas estão a ver agora de futuro, ou seja, uma plataforma que tenha a capacidade de ser um facilitador e não mais uma barreira, tanto para as equipas de suporte de IT, como para os colaboradores”

Manuel Vieira, Claranet: “Se for uma pequena média empresa, a nossa sugestão passa essencialmente por criar um roadmap de evolução para o IT que esteja 100% alinhado com o negócio. Este é um dos pontos fundamentais que deve começar com um diagnóstico profundo daquilo que existe, daquilo que o negócio necessita e de que forma é que o IT pode ajudar o negócio a crescer e a solidificar. Para uma entidade que já tem uma maturidade elevada, aquilo que gostaríamos de desafiar é, durante estes 12 meses, investirem em experimentação de inteligência artificial no workplace”

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IT INSIGHT Nº 57 Setembro 2025

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