Building the Future 2022

ROI sustentável: “todos os stakeholders têm de estar à mesa”

No painel sobre Sustainable Return on Investment do Building the Future 2022, discutiu-se as abordagens para o futuro da sustentabilidade aplicadas às organizações - o conceito, a métrica, os objetivos e enquadramentos

ROI sustentável: “todos os stakeholders têm de estar à mesa”

No Building the Future, entre vários temas e oradores, falou-se em Sustainable Return on Investment (ROI). Segundo a Microsoft, “a sustentabilidade tem, hoje, um retorno no investimento que vai muito para além do impacto direto nas reduções de carbono”, pelo que impacta as marcas, os investidores, os colaboradores e “toda a cadeia de valor”. Nesse sentido, num painel mediado por Sérgio Magno, Executive Editor na Exame Informática, ouviu-se Filipe Almeida, Presidente da Estrutura de Missão Portugal Inovação Social, Miguel J. Martins, Sustainable Investments Partner at Grosvenor, e Luís Costa, Partner e membro fundador da Get2C, para debater o conceito de ROI, “a que muitos já se referem como um novo KPI”.

Para Miguel J. Martins, um ROI sustentável “implica trabalhar capitais com os quais não trabalhamos”. Apesar de estarmos na quarta revolução industrial, “continuamos a usar uma medida para o desempenho das economias, que foi inventada para medir a primeira revolução industrial – são métricas com centenas de anos”. 

Assim, pensar em ROI sustentável é “ir além de medir o desempenho económico ou financeiro” e “passa por medir o capital humano e o capital natural”. Nesse sentido, a tecnologia representa um papel fundamental: “ajuda-nos a fazer este trajeto de transferir dados, em informação, em conhecimento e, eventualmente, em sabedoria”. 

Adicionalmente, alerta para que quando se menciona que os produtos sustentáveis são mais caros, “na realidade não são – são produtos com o preço certo. A t-shirt de 1 dólar é que não mede os impactos negativos”, afirma Miguel J. Martins. Mais, refere que poderiam não existir os problemas atuais no plano da “destruição das barreiras planetárias, se nos estivéssemos a medir esses custos”. “A sustentabilidade é criar valor, mas, muitas vezes, aquilo que nós sentimos é que estamos a criar valor económico-financeiro, mas estamos a destruir valor natural e humano”, conclui.

Já Filipe Almeida, começa por notar que a palavra sustentabilidade é “uma palavra do nosso tempo e uma palavra escorregadia porque pode ter muitos significados”. Todavia, numa conceção mais ampla, considera que o conceito “sintetiza um desígnio existencial com dois pólos que nem sempre convivem em harmonia – as pessoas e a natureza. O conceito de sustentabilidade inclui o desafio fundamental de conciliar a saúde e a longevidade do planeta, por um lado, e o bem-estar e a sobrevivência da humanidade, por outro. É nessa interceção que vamos encontrar uma das chaves do futuro – de pouco servira salvar o planeta, se não salvarmos as pessoas”. Nesse aspeto, Miguel J. Martins remata que “o planeta não precisa de ser salvo; a única razão pela qual ele precisa de ser salvo, do nosso ponto de vista, é para nos continuarmos a existir. Estamos a salvar o planeta para nós, mas se não fizermos nada, ele vai continuar – o que está aqui em causa é a nossa sobrevivência”.

Existe um sistema, desde 2015, “que nos ajuda a olhar para a sustentabilidade de forma mais sistemática, qua são os SDG” – Sustainable Development Goals – constituídos por 17 objetivos, refere Luís Costa. O percurso a seguir para um ROI sustentável, segundo o Partner da Get2C, passa por recorrer a este tipo de métricas. “Acho que podemos começar por aí e depois cada empresa e projeto deve fazer a sua análise de materialidade para perceber o que é relevante para a organização a nível de sustentabilidade, depois para quem é relevante, a nível de stakeholders", assevera. 

Nesse âmbito, Miguel J. Martins concorda com Luís Costa, pelo que os SDG “são um framework criado pelas Nações Unidas e um excelente ponto de partida”. Refere, contudo, que é complicado convencer as organizações a aplicar este tipo de métricas e utiliza a metáfora: “o tempo das cenouras acabou, temos de entrar no tempo do chicote – que, normalmente, vem sobre a forma de regulamentação”. 

Já Filipe Almeida acredita que “o chicote no nosso tempo é a realidade concreta”, explicando que, hoje em dia, “já não é preciso convencer as empresas a aderirem a um conjunto de estratégias de práticas sustentáveis, porque isso é a única forma de legitimarem a continuidade da sua atividade – o chicote está aí”. Luís Costa nota uma atitude positiva quando ao caminho percorrido pelas empresas, nesse aspeto. “Nós trabalhamos com empresas grandes e sentimos uma mudança brutal na forma como estão a abordar a sustentabilidade – passou de ser de um pequeno departamento para ser core – e isso é fundamental”. Finalmente, Miguel J. Martins conclui: “todos os stakeholders têm de estar à mesa”.

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