Maioria dos trabalhadores considera a Inteligência Artificial sobrevalorizada

Um estudo recente aponta a falta de conhecimento em inteligência artificial, a desconfiança e um fosso entre colaboradores e líderes de IT como as principais barreiras ao sucesso da tecnologia nas empresas

Maioria dos trabalhadores considera a Inteligência Artificial sobrevalorizada

Um estudo recente, intitulado “The Pulse of Work in 2025: Trends, Truths, and the Practicality of AI” e realizado pela GoTo em parceria com a consultora Workplace Intelligence, revela que 62% dos trabalhadores acreditam que a Inteligência Artificial (IA) é sobrevalorizada, enquanto 86% admitem não explorar o seu pleno potencial. O inquérito, que abordou 2500 trabalhadores e líderes de IT de vários países entre fevereiro e abril de 2025, expõe um cenário de ceticismo e oportunidade perdida.

A Perceção dos Trabalhadores: IA Sobrevalorizada

Apesar de a maioria dos colaboradores (78%) já recorrer a tecnologias de IA, desde soluções gratuitas a ferramentas internas especializadas, muitos sentem que estas não cumprem o que prometem. Com efeito, 57% consideram que o valor e o retorno sobre o investimento (ROI) da IA são exagerados, e 59% discordam da ideia de que a tecnologia irá substituir todos os postos de trabalho.

A desconfiança estende-se à forma como a IA é promovida: 64% alertam contra a visão da IA como uma panaceia para todos os problemas de negócio, e 68% afirmam que a tecnologia é frequentemente apresentada como infalível e superior aos humanos. Em contraste, os líderes de IT tendem a ser mais otimistas, com menos de metade a partilhar da opinião de que a IA está a ser sobrevalorizada.

De acordo com o estudo, os líderes de IT enfrentam diversas barreiras à adoção da tecnologia. A principal são as preocupações com a segurança (35%), seguida da falta de confiança por parte dos colaboradores (26%). Em terceiro lugar surge a ausência de ferramentas adequadas ou específicas para a indústria (22%), a par dos desafios de integração (21%). O custo representa a quinta maior barreira (20%), a par da falta de suporte e formação adequados (20%).

Sobrevalorizada ou Subutilizada?

A investigação demonstra que, se as promessas da IA não estão a ser cumpridas, não é por falta de poder das ferramentas, mas sim por subutilização. A esmagadora maioria dos trabalhadores (86%) admite não usar o potencial total da IA, e este não é um problema geracional: profissionais de todas as idades reconhecem que poderiam tirar mais partido da tecnologia.

Cerca de 61% dos colaboradores acreditam que o investimento em ferramentas de IA poderia melhorar a sua produtividade e motivação, permitindo-lhes assumir tarefas de maior valor. Em média, os trabalhadores de todas as gerações relatam perder 2,6 horas por dia, o equivalente a 13 horas semanais, em tarefas que poderiam ser automatizadas pela IA.

Este tempo perdido representa um enorme custo de oportunidade. Segundo o estudo, só nos EUA, as empresas podem estar a perder mais de 2,9 biliões de dólares por ano em ganhos de eficiência. Se as organizações conseguissem libertar apenas uma fração deste potencial, os benefícios seriam partilhados por colaboradores e empregadores.

A Lacuna do Conhecimento: Porque a IA Não é Plenamente Utilizada?

Um dos maiores obstáculos à adoção da IA no local de trabalho é a falta de conhecimento prático. Cerca de 82% dos colaboradores admitem não estar familiarizados com as aplicações práticas da IA no seu trabalho diário, uma dificuldade que afeta até a Geração Z (74%), tipicamente considerada mais proficiente em tecnologia. As gerações com maiores dificuldades são os Baby Boomers (87%), a Geração X (84%) e os Millennials (83%).

Existe também uma clara desconexão entre a perceção dos trabalhadores e a dos líderes de IT. Enquanto 82% dos colaboradores reportam falta de conhecimento, apenas 49% dos líderes acreditam que as suas equipas enfrentam esta dificuldade. Esta clivagem estende-se à confiança: 86% dos funcionários duvidam da precisão da IA, em comparação com apenas 53% dos líderes.

Além disso, a necessidade de refinar os resultados gerados pela IA é apontada por mais colaboradores (76%) do que líderes (63%), com 42% dos próprios gestores de IT a identificarem regularmente erros nos sistemas das suas organizações. A falta de formação é outro ponto crítico: 87% dos trabalhadores sentem que não recebem treino adequado, uma perceção partilhada por apenas 59% das lideranças.

IA para Tarefas Inesperadas

O estudo revela que a IA já está a ser usada para auxiliar os colaboradores, mas não necessariamente nas tarefas que as chefias esperam. Muitos estão a recorrer à tecnologia para lidar com questões complexas e delicadas, invadindo áreas tradicionalmente reservadas ao julgamento humano e à inteligência emocional, como a resolução de conflitos ou a tomada de decisões estratégicas e éticas.

Notavelmente, 77% destes colaboradores afirmam não se arrepender de utilizar a IA desta forma, mesmo que 25% reconheçam que os seus empregadores proíbem explicitamente tais usos (enquanto 17% admitem desconhecer as regras). Estes dados desafiam a visão convencional de que a IA serviria apenas para simplificar tarefas rotineiras.

A Lacuna no Acesso às Ferramentas

Muitas organizações continuam a falhar no fornecimento de ferramentas de IA adequadas. Apenas 40% dos trabalhadores afirmam que a sua empresa oferece as soluções de que necessitam, um número que desce para 30% em empresas de menor dimensão. Nas pequenas empresas, 46% dos funcionários sentem falta de formação para usar a IA, em comparação com 30% nas grandes companhias.

Esta lacuna é ainda mais evidente quando se confrontam as necessidades com a realidade. A maioria dos colaboradores reconhece os benefícios de ferramentas como assistentes virtuais (88%), automação de dados (86%) ou IA generativa (81%), mas apenas entre 39% e 43% têm, de facto, acesso a elas. Do lado das lideranças de IT, 95% valorizam a IA para análise de dados e resolução de problemas, mas só 67% dispõem dessa funcionalidade. O mesmo acontece com a monitorização de segurança, considerada essencial por 96%, mas implementada em apenas 69% dos casos.

Uma Implementação Estratégica e Intencional

Para que a IA gere valor real, as empresas devem adotar uma abordagem estratégica, evitando a adesão acrítica a tendências, uma falha admitida por 21% dos líderes de IT. O sucesso assenta em três pilares:

  1. Remover barreiras financeiras: Demonstrar que um investimento modesto (muitas vezes inferior a 20 dólares mensais por pessoa) pode gerar ganhos de produtividade significativos.
  2. Desenvolver políticas de IA claras: Atualmente, menos de metade das empresas possui diretrizes bem definidas, o que leva a um uso inadequado e a riscos de segurança.
  3. Investir em formação de qualidade: É imperativo colmatar a discrepância entre a perceção dos colaboradores (87% consideram a formação insuficiente) e a dos seus líderes (apenas 59%).

Medir o ROI da IA

A forma como o retorno sobre o investimento (ROI) da IA é medido está, provavelmente, a dificultar a justificação de novos investimentos. A avaliação está esmagadoramente focada em ganhos operacionais e financeiros. A melhoria da produtividade e eficiência é a principal métrica (72%), seguida pela satisfação do cliente e pelo aumento da receita (ambas com 55%).

Em contrapartida, os benefícios centrados no capital humano, como a satisfação profissional (42%) e o bem-estar dos colaboradores (34%), são muito menos considerados. Esta tendência sugere que uma análise mais holística do ROI, que valorize também as pessoas, poderia não só justificar mais investimento em IA, como também potenciar a criação de valor sustentável para o negócio e para as suas equipas.

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