Os desafios e as tendências do setor industrial

Estudo identifica os principais fatores que estão a moldar o setor industrial e como é que as empresas se podem adaptar à nova realidade

Os desafios e as tendências do setor industrial

Nos últimos anos, o setor industrial tem vindo a sofrer grandes mudanças, que ocorrem a um ritmo cada vez mais acelerado. Hoje, os líderes deste setor deparam-se com fatores como os estrangulamentos na cadeia de abastecimentos, a subida da inflação, pressões para a relocalização da produção, exigências crescentes para reduzir a pegada de carbono e uma escassez de talento cada vez mais persistente, que se traduzem em novas tendências e desafios que estão a moldar as estratégias das empresas.

Neste sentido, o ManpowerGroup lança o seu estudo “ManpowerGroup Global Insights - Tendências do Mundo do Trabalho no Setor Industrial” onde analisa os quatro desafios associados às tendências que estão já a impactar a indústria e também o talento deste setor.

Fenómenos como a automatização e digitalização dos modelos de negócio e a cada vez maior necessidade de transição para uma economia mais sustentável têm vindo a impactar consideravelmente o setor industrial, não só em Portugal, mas em todo o mundo. A Indústria está a viver um momento de forte transformação, que ocorre num contexto de elevada escassez de talento, provocada pela dificuldade em aceder a talento com competências digitais e de sustentabilidade, cada vez mais necessárias, mas também pelo envelhecimento da população e a reforma de muitos trabalhadores, sem que haja capacidade de atrair e renovar essas bases de talento”, afirma Daniela Lourenço, Brand Leader da Manpower, em comunicado. “Face a este cenário, e para que consigam acompanhar o ritmo das mudanças, é fundamental que as empresas invistam em estratégias de construção de talento, que lhes permitirão capacitar e requalificar os trabalhadores com as competências necessárias para acompanhar e promover a transformação da indústria”.

Atração de talento qualificado com competências digitais

Os rápidos avanços tecnológicos da indústria têm vindo a ser um indicador de um futuro mais promissor para os profissionais do setor industrial. A adoção da robótica, com robots colaborativos (cobots) que trabalham em conjunto com os trabalhadores das unidades fabris, especialmente em tarefas perigosas ou fisicamente exigentes, a utilização de gémeos digitais, que são uma representação virtual de um objeto ou sistema no processo de produção, a introdução de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) e de Realidade Virtual (RV), e o aumento da preferência dos compradores B2B por modelos de compra online, estão já a moldar o setor, proporcionando maior eficiência, economia de custos e oportunidades em funções especializadas e mais seguras para os trabalhadores. Além destes, também a produção aditiva e a impressão 3D continuam a estar na vanguarda da Indústria 4.0.

Esta evolução tecnológica do setor está já a ter, naturalmente, implicações na gestão de talento. De acordo com dados do ManpowerGroup Employment Outlook Survey, 59% dos empregadores do sector industrial acreditam que as tecnologias emergentes vão ter um impacto positivo no número de trabalhadores nos próximos dois anos. No entanto, o aumento na procura por talento com competências de transformação digital, mas também de gestão da experiência do cliente e do utilizador (CX/UX), implica que os empregadores do setor industrial competem com vários setores por esses profissionais. Nesse sentido, e apesar da crescente automação, a construção de bases de talento adequadas e a sua fidelização tornam-se uma prioridade crítica para as organizações.

Capacidades de resiliência e flexibilidade na gestão de talento

O setor industrial está num processo de transformação. Nos últimos anos, as perturbações significativas nas cadeias de abastecimento criaram uma maior urgência para construir mais resiliência, redundâncias e mitigação de riscos em operações industriais globais. Isto é particularmente verdade quando elementos críticos de uma cadeia de abastecimento podem ser expostos a tensões geopolíticas crescentes, à subida de salários ou à escassez de matérias-primas.

Estão a surgir novos modelos no setor, como os modelos de Production-as-a-Service (PaaS), mediantes os quais, em vez de ser proprietário das instalações que fabricam os seus produtos, o produtor paga uma taxa de utilização para partilhar uma fábrica altamente flexível com outras empresas. Além desta solução, a integração vertical, o nearshoring e o reshoring das operações industriais estão a tornar-se também cada vez mais populares, à medida que os fabricantes procuram construir resiliência. Finalmente, as cadeias de abastecimento devem ainda tornar-se ainda mais transparentes, no sentido de alcançarem as metas ESG em toda a cadeia. Uma tendência muito desafiante face ao atual nível de complexidade das cadeias de abastecimento das operações industriais globais. 

Esta transformação no sector industrial reflete-se também nas suas estratégias de talento. Está a aumentar a procura e a competição por talento altamente qualificado, capaz de alimentar os processos de automatização, integração vertical e de reshoring, num momento em que fabricantes de vários sectores procuram, ao mesmo tempo, concretizar estas estratégias. Ao mesmo tempo, os modelos de PaaS e a necessidade aumentar a resiliência e reduzir os riscos, reforçam a importância de estratégias otimizadas de talento temporário, que permitam responder a uma procura flutuante, assegurando o acesso a uma base suficiente de talento local qualificado. Finalmente, é ainda fundamental que os empregadores invistam numa planificação estratégica do talento, que inclua uma análise aprofundada das estratégias de localização, garantindo assim que as novas instalações, ou que a ampliação de instalações existentes, têm acesso a uma base suficiente de talento local qualificado.

Capacidade de atração de talento e reforço das propostas de valor

À medida que a força de trabalho na maioria dos mercados desenvolvidos envelhece, o cenário de escassez de talento industrial qualificado agrava-se, ao mesmo tempo que aumenta a produção local. Paralelamente, a imagem da indústria mantém-se, para muitos trabalhadores, como demasiado “suja”, perigosa e fisicamente exigente, mesmo quando a automatização a está a tornar mais segura do que nunca. Esta é uma realidade mais acentuada no caso das mulheres que apenas representam 30% da força de trabalho da indústria, segundo dados do estudo da Deloitte, Industrial Products & Construction Under The Spotlight.

Para contornar este cenário e dar resposta à escassez de profissionais no setor, os empregadores devem, assim, ter como prioridade o desenvolvimento de propostas de valor diferenciadas, apostando num processo de recrutamento que ajude a eliminar preconceitos e a competir com outros setores. De facto, construir uma cultura de Diversidade, Equidade, Inclusão e Sentimento de Pertença (DEIB) deve continuar a ser uma prioridade máxima para colmatar a significativa diferença de género e aumentar as bases de novo talento que poderá substituir os trabalhadores que se reformam e saem do mercado.

Necessidade de upskill e reskill

O sector industrial revela-se um dos mais interessantes e inovadores, à medida que a digitalização e a transformação global para uma maior sustentabilidade aceleram. Com o investimento em tecnologia e em funções verdes a crescer em todo o mundo, a competição pelo talento qualificado necessário para sustentar a inovação verde e a transformação digital está a aumentar. Na verdade, os empregadores do sector industrial são dos mais interessados em recrutar para competências verdes em funções técnicas qualificadas, como Produção (44%), Engenharia (37%) e Operações e Logística (30%), segundo dados do ManpowerGroup Employment Outlook Survey. Mas não estão sozinhos, a maioria dos responsáveis de recrutamento em sectores similares como Energia & Utilities (81%) e Transportes, Logística & Automóvel (73%) afirmam estar também ativamente a recrutar para funções verdes, segundo dados do estudo Green Business Transformation do ManpowerGroup. Além disso, as operações que se estão a regionalizar são cada vez mais digitais e automatizadas, pelo que necessitam de talento qualificado.

Aumenta, assim, a necessidade de apostar em estratégias de construção de talento, com a requalificação a revelar-se fundamental para preparar os trabalhadores para as funções de futuro crescimento. É essencial que haja um investimento na atualização contínua das competências dos trabalhadores, capacitando-os na utilização de ferramentas de automação cada vez mais complexas, por forma a poderem acompanhar a rápida evolução da tecnologia, e promover maior eficiência operacional e uma experiência mais digital e centrada no cliente.

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