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Nearshoring: porquê Portugal?

Ao longo da última década, Portugal tem-se tornado cada vez mais no “destino” de nearshoring, fruto de um conjunto de fatores que tornam o país extremamente atrativo para a prestação de serviços para o estrangeiro

Nearshoring: porquê Portugal?

O outsourcing do IT faz parte da realidade da grande maioria das empresas – mesmo antes da transformação digital. Para otimizar custos, muitas organizações voltaram-se para o off-shoring, tomando partido de países com níveis elevados de profissionais qualificados e custos reduzidos. Contudo, e particularmente com o advento da transformação digital, muito rapidamente se revelou uma faca de dois gumes: com a redução de custos vem também um elevado risco relacionado com a falta de controlo sobre os projetos, dificuldade de comunicação e desconhecimento da legislação e práticas de negócio do cliente.

A transformação digital veio agravar o problema: numa altura em que a tecnologia deixou de ter um papel meramente operacional para se tornar parte intrínseca dos processos de negócio, a comunicação aberta e a contextualização das necessidades do cliente tornam-se imperativas para o sucesso de um projeto. Não basta apenas a encomenda e entrega de um produto final ou serviço, mas uma forte relação entre cliente e fornecedor.

O nearshoring apresentou, assim, um meio-termo atrativo. Os projetos são delegados para países vizinhos; os custos não são tão reduzidos, mas a proximidade geográfica garante um nível de risco muito menor a nível da eficiência e sucesso dos projetos. Por um lado, permite que os dois lados se reúnam com facilidade, e as zonas horárias compatíveis favorecem o tempo de resposta por parte do fornecedor. Por outro lado, na maioria dos casos, os dois países terão muito em comum em termos de legislação e práticas de negócio. Existe também uma questão de afinidade cultural que, apesar de ser difícil de traduzir em resultados concretos, tem um impacto mensurável na qualidade e eficiência da comunicação e, como tal, do serviço prestado.

Assim, o serviço de assistência técnica de uma empresa pode ser relegado para off-shoring, mas em projetos, especialmente que sejam altamente integrados no processo de negócio, esta opção torna-se contraproducente; implicam um constante processo de comunicação, feedback e ajustes. A agilidade requerida pelos negócios de hoje não permite estar à espera que a equipa acorde e entre em serviço para dar resposta a um pedido; uma ferramenta de software desenvolvida sobre pressupostos errados – em termos de legislação, práticas de negócio ou simplesmente os objetivos do cliente – terá uma utilidade significativamente limitada que o custo reduzido não consegue justificar.

“Com o crescimento da migração de serviços do offshore para o nearshore, as perspetivas de expansão dos serviços são grandes”, refere José Oliveira, CEO da BI4All. “Numa era marcada pela transformação digital e pela constante evolução tecnológica como a Inteligência Artificial, Data Science, Machine Learning, Internet of Things, entre outras tendências disruptivas, as organizações necessitam de implementar soluções que tornem os gestores capazes de encontrar o melhor meio de nortear o crescimento das suas empresas que, cada vez mais, percebem que a inovação e a criação de valor passam por reforçar atividades e redesenhar processos através do nearshore”.

Portugal aqui tão perto

É fácil perceber como Portugal acabou por se tornar uma fonte popular de serviços de nearshoring na Europa. A sua proximidade física e horária a países como a Inglaterra e Alemanha facilita a coordenação de projetos. Em competição, maioritariamente, com países da Europa de leste, Portugal destaca-se pelo perfil dos seus profissionais. Nas palavras de João Domingos, Vice-Presidente para a Europa Ocidental da Fujitsu, os portugueses têm “a capacidade de desenvolver rapidamente equipas com apetência para falar diversos idiomas, bem como a proximidade geográfica com os grandes centros de decisão europeus e o forte alinhamento cultural” favorece Portugal neste tipo de serviço, que assenta no contacto direto com os utilizadores, na compreensão dos seus problemas e na resolução rápida desde a origem.

A isto junta-se também a qualidade do ensino superior e alto nível de escolaridade da população, frequentemente citados pelos fornecedores de serviços portugueses.

“No setor das tecnologias de informação, o reconhecimento destas competências a nível internacional posiciona Portugal como um interveniente de qualidade capaz de assegurar os desafios em mercados competitivos como o europeu e o americano”, refere Nuno Dionísio, Diretor dos Centros de Inovação da Softinsa.

O talento, esse ativo tão escasso

Por outro lado, as empresas prestadoras destes serviços sofrem exatamente da mesma dificuldade que, em parte, leva os seus clientes a contratá-los: a escassez de talentos e dificuldade na sua retenção. Assim, os prestadores de serviços de nearshoring têm de encarar e gerir um nível de rotatividade bastante elevado. A aquisição de talento é, em parte, endereçada através de ligações fortes com a academia e criação de programas que suportem a formação de profissionais para este propósito. No caso da Softinsa, por exemplo, existe uma parceria de seis anos com Instituto Politécnico de Tomar, que é responsável pela formação de 75% dos 400 profissionais empregados no seu centro de competências de Tomar, o maior em Portugal.

A segurança ao nível da situação político-económica e qualidade de vida é também um fator de competitividade, assegurando a estabilidade do serviço, da performance das equipas e da relação com o cliente.

Outra vantagem, segundo José Oliveira, é o facto de Portugal “apostar fortemente no desenvolvimento de infraestruturas e comunicações, como a cobertura de banda larga e as redes de nova geração, bem como no incentivo à inovação, investigação e desenvolvimento, o que nos permite uma oferta de serviços bastante competitivos”.

O facto de Portugal estar no mercado de nearshoring há relativamente pouco tempo apresenta, de certa forma, uma vantagem, na forma como a relação valor/preço se desenvolve. Historicamente, existem duas vias pelas quais é possível errar. Por um lado, a sobrevalorização dos preços competitivos em detrimento do valor acrescido dos serviços vai levar, inevitavelmente, à perda do cliente para um concorrente – tanto ao nível do prestador como ao nível do país – com valor equivalente e preço mais baixo.

Por outro, como aconteceu na Irlanda, um mercado altamente favorecido enquanto fonte de nearshoring poderá levar à sua saturação e valorização ao ponto de os seus preços se tornarem equivalentes ao onshoring.

Assim, os fornecedores e clientes devem concentrar- se, mais do que apenas o custo a longo prazo – que, afinal, era o principal ponto forte do off-shoring – , no valor acrescido do serviço e benefícios não monetários, como o baixo risco e o suporte contínuo.

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