A maioria dos primeiros utilizadores de tecnologias quânticas acredita que o “Q-day” – o momento em que os computadores quânticos podem quebrar os algoritmos criptográficos atuais – deve chegar na próxima década
A computação quântica está a aproximar-se de um ponto crítico, e com ela surgem riscos significativos para a segurança da informação. De acordo com o relatório Future Encrypted: Why post-quantum cryptography tops the new cybersecurity agenda, publicado pelo Capgemini Research Institute, o avanço desta tecnologia pode tornar os atuais sistemas de criptografia rapidamente obsoletos. Um dos principais alertas do estudo refere-se aos ataques “harvest-now, decrypt-later”, nos quais dados encriptados são recolhidos atualmente para serem descodificados no futuro, quando a tecnologia permitir. Mais de metade (65%) das organizações inquiridas neste estudo (realizado entre abril e maio de 2025, junto de mil organizações com receitas anuais superiores a mil milhões de dólares, distribuídas por 13 setores e países na Ásia-Pacífico, Europa e América do Norte), indicaram preocupação com esta ameaça. A proporção de “early adopters” – entidades que já estão a trabalhar ou a planear adotar soluções quânticas seguras nos próximos cinco anos – é significativa. Entre estas, seis em cada dez acreditam que o chamado “Q-day” vai ocorrer entre cinco a dez anos, enquanto um em cada seis considera que pode acontecer já dentro de cinco anos. Segundo Marco Pereira, responsável global de cibersegurança e serviços de infraestrutura em cloud da Capgemini, “a prontidão quântica não se trata de prever uma data – trata-se de gerir riscos irreversíveis. Cada ativo encriptado hoje pode tornar-se a violação de amanhã se as organizações atrasarem a adoção de proteções pós-quânticas”. Para o especialista, a segurança quântica deve ser encarada como um investimento estratégico e não como uma despesa opcional. Migração para criptografia pós-quântica lidera resposta das empresasA pesquisa revela que 70% das organizações já estão a adotar uma combinação de algoritmos de criptografia pós-quântica (PQC), encarando esta abordagem como a mais eficaz para responder às ameaças quânticas de curto prazo. Quase metade dos “early adopters” estão a explorar, avaliar ou testar soluções nesta área, impulsionados, em grande parte, por exigências regulatórias. Nos setores mais sensíveis, como a banca e a defesa, a urgência é maior e a preparação está mais avançada. No entanto, noutros segmentos mais voltados para o consumidor, como o retalho ou os bens de consumo, a resposta tem sido mais lenta. O relatório identifica dificuldades na alocação de recursos humanos e financeiros como barreiras à migração para soluções mais seguras, sendo que 30% das organizações continuam a ignorar os riscos associados à computação quântica. Apesar dos computadores quânticos ainda não conseguirem quebrar amplamente os algoritmos em utilização, a comunidade de cibersegurança alerta para a necessidade de antecipação. A preparação para o “Q-day” é vista como essencial para garantir a continuidade das operações e preservar a confiança dos clientes e parceiros. A Capgemini sublinha ainda que a transição antecipada para criptografia pós-quântica pode não só mitigar riscos, como também posicionar estrategicamente as organizações para um futuro digital mais resiliente. |