Cibersegurança, IA e soberania digital: o retrato do IT em Portugal

Um estudo exclusivo da Compuworks revela que as empresas portuguesas continuam vulneráveis a ciberataques e que a inteligência artificial e a cibersegurança vão marcar o IT nos próximos anos

Cibersegurança, IA e soberania digital: o retrato do IT em Portugal

A Compuworks apresentou esta quinta-feira, em Lisboa, os primeiros resultados do estudo “IT Future Trends 2035”, realizado em exclusivo para o mercado português com o apoio do Ecossistema Inova. O trabalho traça um retrato claro: as empresas nacionais continuam vulneráveis a ciberataques, a Europa perde terreno na corrida tecnológica e a sustentabilidade passa a ser critério central nas decisões de IT.

Para Ricardo Teixeira, CEO da Compuworks, a principal conclusão é que “as empresas estão ainda pouco preparadas para os desafios que vão acontecer muito rápido nos próximos anos”. O responsável reconhece que existe em Portugal uma tendência para adiar decisões estratégicas, o que pode comprometer a competitividade, por isso, acrescenta, “há um longo caminho ainda para percorrer e este estudo vem alertar e consciencializar os CEO para a necessidade de reservarem budget e terem no seu roadmap em consideração o que se está a passar, fornecendo também aos CTO uma ferramenta de apoio à decisão”.

A investigação percorre várias áreas críticas para o futuro tecnológico do país, da cibersegurança, à inteligência artificial, passando pela geopolítica e soberania digital, pela sustentabilidade, pelos novos modelos de trabalho e pelo reposicionamento estratégico do IT dentro das organizações. Em todos estes domínios há falhas que continuam a pesar, mas também pistas de futuro que podem fazer a diferença na competitividade do país.

O puzzle da cibersegurança

O estudo confirma um sinal claro de que “há desigualdade na maturidade digital e cibernética entre as empresas”, o que pode colocar em risco “cadeias produtivas inteiras, especialmente se as organizações menos preparadas estiverem conectadas a ecossistemas maiores”.

Os dados revelam que 76% dos líderes acreditam que a sua organização sofrerá um ciberataque material até 2035, mas 58% admitem não estar preparados para responder eficazmente. Mais de metade nunca implementou arquiteturas Zero Trust ou soluções XDR. E embora 95,6% das empresas afirmem já ter alguma medida de segurança digital, muitas continuam sem políticas de resposta consistentes.

Ricardo Teixeira admite que “a cibersegurança, por ser uma tarefa complexa, torna difícil para os decisores perceberem o que é essencial e o que é acessório”. O responsável sublinha que a fragmentação de soluções – entre e-mail, redes, firewalls, servidores ou autenticação – acaba por tornar a proteção um desafio árduo, sobretudo para as PME com menos recursos.

Inteligência Artificial: hype ou estratégia?

O estudo indica que 55% das empresas já estão a desenvolver ou a considerar soluções de IA e que mais de 70% planeiam adotá-las até 2035. Ainda assim, a adoção real em Portugal era de apenas 8,6% em 2024.

Na visão de Ricardo Teixeira, a Inteligência Artificial (IA) é muitas vezes mal compreendida e reduzida ao “hype”, quando, sublinha, “não é instalar o ChatGPT ou o Copilot, é muito mais do que isso”. O estudo conclui que falta maturidade e estratégia, já que os dados e a inteligência artificial aplicada ao negócio raramente são aproveitados em pleno.

No caso das PME, o CEO da Compuworks distingue duas realidades e explica que “as novas empresas feitas por jovens têm a inteligência artificial como um dado adquirido e potenciam imenso o negócio através disso. As antigas PME têm um caminho a fazer”.

Cenário europeu e Portugal no mapa digital

A investigação revela ainda a vulnerabilidade da Europa, com 92% da infraestrutura de cloud controlada por empresas norte-americanas e 80% dos semicondutores a chegar de fora da União Europeia.

Apesar de 74% dos líderes portugueses considerarem decisiva uma ciberdefesa europeia para garantir soberania digital, apenas 12% acreditam que a Europa conseguirá atingir liderança tecnológica até 2035.

Questionado sobre o papel português neste contexto, Ricardo Teixeira destaca a posição geográfica como uma vantagem, uma vez que “Portugal, face ao seu posicionamento no mundo e ser o país mais próximo do continente americano, acaba por ter uma posição estratégica muito valiosa. Estão a abrir vários data centers de grande dimensão em Portugal e faz todo sentido”. Ainda assim, alerta para entraves como a capacidade energética e a falta de visão política, e lembra que “às vezes não aproveitamos, como se vê, por exemplo, com o data center de Sines, que é um ativo extraordinário”.

O perfil do IT até 2035 é híbrido

De acordo com estudo, o futuro do trabalho em Portugal será marcado pela consolidação do modelo híbrido, que combina presença física e trabalho remoto. O estudo revela que 69% dos líderes acreditam que este será o formato dominante até 2035, o que vai permitir às empresas conciliar flexibilidade, eficiência e retenção de talento.

O papel do profissional de IT está a mudar rapidamente. Já não basta dominar tarefas técnicas, sendo cada vez mais exigido ter uma visão global do negócio, comunicar com diferentes equipas e liderar mudanças. A formação contínua e a atualização do ensino são pontos decisivos para preparar estas competências. O estudo destaca as competências essenciais para os profissionais de IT, com 72% dos líderes a apontarem a cibersegurança, 68% a inteligência artificial, 64% a visão estratégica e 58% a capacidade de adaptação.

Tags

NOTÍCIAS RELACIONADAS

RECOMENDADO PELOS LEITORES

REVISTA DIGITAL

IT INSIGHT Nº 57 Setembro 2025

IT INSIGHT Nº 57 Setembro 2025

NEWSLETTER

Receba todas as novidades na sua caixa de correio!

O nosso website usa cookies para garantir uma melhor experiência de utilização.