A empresa portuguesa Firmo lançou o WiseBook, um híbrido entre papel e digital que combina a escrita à mão com um tutor virtual baseado em inteligência artificial. O WiseBook, da empresa portuguesa Firmo e pioneiro em Portugal e na Europa, abre caminho a uma nova forma de estudar e interagir com os conteúdos escolares
A Firmo, tradicional marca portuguesa de papelaria, deu um salto tecnológico com o lançamento do WiseBook, um caderno físico que integra Inteligência Artificial (IA) para apoiar o estudo fora da sala de aula. O projeto junta “o melhor dos dois mundos” – a escrita à mão e a tecnologia – e foi desenvolvido a pensar nas novas gerações, que já recorrem diariamente a aplicações de IA para apoiar o estudo. O que distingue o WiseBook não é o facto de ser um caderno acompanhado por uma aplicação, mas sim a tecnologia que o sustenta. Na prática, o aluno escreve no caderno como sempre fez, mas ao digitalizar as páginas estas são processadas por um pipeline proprietário de IA – já com pedido de patente internacional – que combina modelos de visão computacional e reconhecimento de escrita manual (HTR). “O resultado não é apenas uma transcrição literal, mas uma representação digital estruturada e contextualizada do conhecimento do aluno”, explica Ângela Araújo, Gestora de Marketing da Firmo. A tecnologia por trás do cadernoO coração do WiseBook é um tutor virtual que funciona com duas camadas de IA: uma arquitetura Retrieval-Augmented Generation (RAG), que garante respostas alinhadas com o Currículo Nacional Português, e um modelo Mixture of Experts (MoE), que distribui tarefas por diferentes agentes especializados. Este sistema identifica títulos, listas e parágrafos, organiza-os automaticamente por disciplina e prepara a base para resumos, quizzes, flashcards ou mapas mentais, ajustados ao estilo de aprendizagem de cada estudante. Recolhe padrões de desempenho nos quizzes e flashcards, identifica áreas de maior dificuldade, mede a frequência de revisões e o tipo de conteúdos preferidos. A partir desses dados, ajusta o nível de dificuldade, sugere revisões direcionadas e recomenda formatos de estudo mais eficazes, isto é, o sistema aprende com os hábitos de estudo de cada utilizador. No entanto, esse grau de personalização levanta inevitavelmente questões sobre enviesamentos e neutralidade pedagógica. Ângela Araújo explica que o equilíbrio é garantido pelo próprio sistema RAG, uma vez que “a informação gerada está sempre ancorada em conteúdos validados do currículo, o que reduz drasticamente o risco de enviesamentos e assegura que a experiência é pedagógica e não apenas tecnológica”. “Não queríamos uma aplicação aberta à internet, sujeita a erros ou a informação duvidosa. O ponto de partida é sempre o programa curricular e os apontamentos do aluno”, explica a gestora de marketing. Desafios e segurançaDo lado técnico, a maior dificuldade foi assegurar que a transição do meio físico para o digital fosse sem falhas.“Toda a viabilidade do sistema dependia de conseguirmos lidar com a enorme diversidade da caligrafia humana”, admite. A empresa dedicou a maior fatia de recursos ao treino do pipeline de IA para garantir que o processo fosse preciso, fluido e sem fricção para o utilizador. Desde o início, a equipa quis garantir que os dados dos alunos não seriam expostos. Por isso, todo o conteúdo, dos apontamentos digitalizados às interações com a aplicação, é encriptado e tratado segundo as regras do RGPD. O sistema foi concebido com o princípio de “privacy by design & by default”, o que significa que a proteção da informação não é um extra, mas parte da própria arquitetura da plataforma. “Queríamos que fosse uma ferramenta credível e controlada, em que os pais tivessem confiança e os alunos se concentrassem apenas em aprender”, reforça a gestora. Além disso, a arquitetura é escalável e suporta desde páginas isoladas até à totalidade de um caderno. Também consegue processar documentos externos de grande dimensão, como capítulos de manuais em PDF, sem comprometer a precisão. O WiseBook está disponível há pouco mais de um mês, mas já despertou curiosidade entre pais e alunos. Para Ângela Araújo, o arranque tem sido “muito positivo” e confirma que existe espaço para soluções deste género no ensino. O próximo passo, garante, será ouvir os utilizadores e acrescentar novas funcionalidades à medida que a tecnologia e os hábitos de estudo evoluam. |