O novo iPhone ou o fim da Apple como a conhecemos

A Apple acaba de lançar o seu iPhone low-cost, designado de SE, um smartphone de quatro polegadas por menos de 400 dólares. A notícia nem é bem notícia porque a Apple é cada vez mais um "vazador" de informação e já era conhecida esta sobre-vida do iPhone 5. Verdadeiramente relevante é o facto da Apple ter decidido entrar numa guerra que não é a sua zona de conforto.

O novo iPhone ou o fim da Apple como a conhecemos

Numa década, a Apple passou de uma empresa que produzia computadores Mac fiáveis para mercados premium a uma empresa de dispositivos premium, onde os Mac apenas representam 9 por cento do seu volume de vendas.

Agora, já nem o posicionamento premium se pode afirmar. A Apple recuperou o seu descontinuado iPhone5, deu-lhe uma atualização, chamou-lhe SE (ler detalhes no IT Channel)   e vai produzi-lo ao nível de preço da sua concorrência chinesa.
 

O iPhone SE é exteriormente igual ao descontinuado iPhone 5. O preço será de apenas 399 dólares

Ao fazer isto a Apple sai da sua zona histórica de conforto e das margens elevadas para um “oceano sangrento” infestado de tubarões orientais, dispostos a fazer no mercado dos dispositivos móveis aquilo que fizeram há 10 anos no mercado dos PCs: transformar a tecnologia numa simples commodity.

Um dia perguntaram a Steve Jobs se ele não se frustrava pela Apple ter apenas 7 por cento da quota de mercado de PCs e ele sugeriu que dirigissem a mesma pergunta à Ferrari .

A famosa fortaleza financeira que a Apple é não foi edificada a vender muito, foi feita a vender um produto dispendioso para um mercado que podia pagar a diferenciação.

Hoje, o Mac continua a ser um produto de luxo, tentando distinguir-se numa indústria onde todas as outras empresas de PC têm passado por uma mudança perto da extinção em massa, e onde impera a lógica da commodity chinesa.

A Microsoft olhou para o MacBook Air e entrou de forma bem-sucedida no mercado de onde todos fogem, impondo o seu Surface para o mesmo segmento premium que a Apple endereça, com a vantagem da compatibilidade das aplicações empresariais.

Com o lançamento do iPhone SE a Apple está a entregar os pontos. Está a dizer "não temos mais ideias brilhantes, mas agora temos ideias baratas".

A gigante máquina industrial de triturar chinesa vai desencadear esse efeito de comoditização no iPhone e iPad. O que fez pela indústria de PC antes, a China ira fazer pelo que hoje é o core business da Apple: se a vantagem está só no preço, nós somos mais baratos.

Na verdade, o smartphone está num ponto de maturação tão grande que já nada pode ser muito revolucionário. Podem existir melhorias na velocidade, utilizando simplesmente a Lei de Moore; pode aumentar-se a eficiência da bateria e tornar os ecrãs ainda mais nítidos; pode adicionar-se mais memória flash e ainda melhorar a tecnologia de banda larga móvel num futuro 5G.

Porém, tudo isto são atualizações, não grandes mudanças no paradigma global.

Esta não é zona de conforto, da Apple. A Apple perde sempre que uma destas batalhas ocorrem, como aconteceu no passado quando tentarem licenciar um Mac low cost a outras empresas OEM.  É o mesmo jogo de degradação das margens por falta de inovação disruptiva.

O que a Apple faz bem é inovar com novos produtos, e por um período de tempo gera uma lealdade intensa à marca. Na indústria do IT chama-se "The Next Big Thing" e esse tem sido o ciclo de inovação da Apple.

O maior trunfo que a Apple tem é a sua marca - e a fidelidade dos clientes para essa marca. Há uma base de utilizadores que compra produtos da Apple uma e outra vez, mas esta base não é suficiente para crescer, nem mesmo manter os atuais níveis de negócio da empresa, dado o impacto do efeito comoditização na indústria como um todo.

Ou a Apple é capaz de gerar novamente um "The Next Big Thing", ou este caminho agora aberto com o iPhone SE tem, a prazo, um destino final que já conhecemos.

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