Cloud, o alicerce da transformação digital

A cloud abriu portas a uma nova forma de consumir IT. É a fundação da transformação digital, a origem de modelos de negócio disruptivos e o motor de inovação das empresas. ALE, Claranet, IBM e Microsoft Portugal pronunciam-se sobre as múltiplas faces da ‘nuvem’

Cloud, o alicerce da transformação digital

Num mundo onde só a mudança é uma certeza, a cloud é sinónimo de possibilidades sem fim: recursos on-demand, escalabilidade, agilidade no go-to-market – tudo o que as empresas mais valorizam, das maiores às menores, das mais às menos tradicionais. Porque todas, sem exceção, enfrentam o mesmo desafio: adaptação constante às tendências do mercado, às expetativas dos consumidores, aos movimentos da concorrência.

Em Portugal, as empresas já estão conscientes dos seus benefícios. “Têm-se verificado, nos últimos seis meses, claras diferenças na maturidade da adoção da cloud. Estamos no bom caminho”, reconhece Vasco Afonso, head of public cloud na Claranet. As nossas empresas já não estão num processo de exploração do conceito, em parte porque a evangelização por parte dos grandes players de cloud pública tem sido intenso. “Já não perguntam ‘porquê cloud’, mas ‘porque não’”.

A fase de eleger aplicações menos críticas para experimentar a cloud tem vindo a ser ultrapassada. “Temos constatado que o primeiro passo tem sido a adoção do modelo cloud para workloads de commodity, como é o caso do e-mail”, indicou Pedro Raminho, director of software sales na IBM. “Passo a passo, a maioria das empresas começaram a inovar a partir de modelos cloud ready, com um go-to-market muito mais célere. E só depois transitam para um modelo mais empresarial, de suporte ao negócio”. Muitas já têm um lema “cloud first”, com as novas aplicações a nascerem indubitavelmente na cloud.

Mas, para Vasco Afonso, falta ainda definir o roadmap de adoção da cloud em direção à utilização de serviços que operem verdadeiras transformações. Neste ponto existe ainda muito trabalho pela frente. “As empresas querem ir para a cloud, mas precisam de ajuda para fazer o planeamento. O nível de consciencialização já é elevado, mas o nível de maturidade ainda é baixo. Estão agora a fazer esse caminho”, frisa.
 

PMEs e grandes empresas – realidades distintas

 Abel Aguiar, diretor executivo de PMEs e Parceiros na Microsoft Portugal, identificou duas realidades no processo de adoção da cloud, no nosso mercado: o das grandes empresas e o das PME, onde predomina a heterogeneidade.
“Uma média empresa, em Portugal, está abaixo das suas congéneres europeias em termos de adoção”. Ainda assim, disse, estas empresas têm feito um caminho interessante nos últimos anos. “Apesar de somente 15% das empresas trabalharem numa lógica cloud first, uma grande maioria têm cloud incorporada na sua estratégia”.

Ainda assim, existem setores muito tradicionais, como é o caso do grande retalho, da indústria e das pequenas empresas, em estádios menos avançados de adoção. No caso das PME, uma eventual resistência à cloud explica-se pela escassez dos recursos internos de IT. “O último estudo que li sobre esta matéria diz que só 14% das empresas em Portugal têm uma pessoa dedicada ao IT. E a maioria das PME têm menos de dez funcionários”, assinalou Abel Aguiar. “Por norma, estas empresas estão muito dependentes de alguém que faz de tudo um pouco, e até acabam por entender esta realidade como uma ameaça”.

Do lado das comunicações, a Alcatel-Lucent Enterprise (ALE) tem observado que a adoção da cloud é uma realidade. “Uma aproximação às comunicações full cloud não é uma realidade, nem é essa a nossa visão. Há serviços que fazem sentido na cloud, porque podem abrir as empresas à comunidade. Mas há ganhos em manter outros serviços dentro de casa”, sublinhou Luís Coelho, pre-sales and business development na ALE. “O mercado está a adotar a cloud em grande parte devido aos modelos de negócio. Começa a haver interesse por comunicações em tempo real – telefonia, videoconferência, instant messaging”. A possibilidade de pagar por utilização, do lado das PME, aliada à sua necessidade de não terem infraestrutura, também têm sido importantes drivers da migração para a cloud.
 

Híbrida, certamente

Os investimentos em IT tradicional não estão a abrandar, em Portugal, o que confirma que a realidade das organizações não é nem cem por cento pública nem cem por cento privada. Além do mais, o próprio IT tradicional atravessa uma grande mudança, em direção a uma maior flexibilidade.

 

Este ano, avançou Abel Aguiar (Microsoft), prevê-se que 50% dos gastos se destinem ao IT tradicional. “O mundo vai ser claramente híbrido. Conheço muito poucos casos cem por cento cloud e não conheço um que seja cem por cento de cloud pública”.

As empresas full cloud, reconheceu Pedro Raminho (IBM), são “pouco representativas”, e tendem a ser as que já nasceram neste modelo. “As que têm processos que vêm de trás terão sempre um modelo híbrido. Haverá um equilíbrio entre o que se coloca numa cloud pública e o que permanece dentro de casa. É preciso que cada organização defina o caminho que pretende para as suas aplicações”. Luís Coelho (ALE) realçou que “nem tudo o que vem da cloud traz mais valor à empresa”, havendo aspetos em que, realçou, “não se deve abdicar de ter as infraestruturas de comunicações on-premises, em formato de cloud privada, com o complemento de serviços de cloud pública”.

O mais importante é definir o tipo de serviços que, do ponto de vista operacional ou financeiro, ficam na cloud. “Por exemplo, ter plataformas de gestão das infraestruturas de comunicações na cloud tem benefícios diretos, nomeadamente o facto de poderem se acedidas em qualquer local e a qualquer momento”. Por outro lado, e porque na economia digital as empresas operam num contexto de abertura permanente, também é necessário que disponibilizem serviços a terceiros, a um parceiro de negócio ou cliente, “o que é mais difícil de conseguir quando se instala tudo no data center”.

A cloud pública não é, portanto, resposta para tudo, motivo pelo qual o edge computing está a impor-se em determinados contextos. Por questões de latência, setores como a indústria, referiu Vasco Afonso (Claranet), “necessitam que o processamento continue a existir on-premises, próximo dos equipamentos”, assinalou. “Nos próximos três anos teremos certamente um mundo híbrido e não sei se alguma vez deixará de o ser”.
 

A cada empresa a "sua" cloud

A variável decisiva, e o motivo pelo qual a cloud não tem uma fórmula matemática, é o negócio, que está a ditar a forma como as empresas investem na cloud e a utilizam para serem mais competitivas. “A primeira preocupação tem de ser perceber os objetivos de negócio e os pontos críticos de diferenciação”, notou Abel Aguiar (Microsoft). A partir desta definição, que inclui aspetos como a intenção de internacionalização da empresa e o seu ritmo de inovação, por exemplo, é possível delinear um plano de evolução tecnológica.

Importa, também, que as organizações conheçam o que têm dentro de casa. “Se desconhecem o ponto de partida, não conseguem comparar o antes e o depois, não conseguem perceber os benefícios”. O responsável da Microsoft apontou “o apego do IT” aos seus recursos como um problema. “É por isso que este é um tema de gestão da mudança”. Pedro Raminho (IBM), no entanto, defendeu que a mudança de mentalidade de quem está à frente dos negócios está a acontecer. “No passado, os gestores tinham um mindset voltado para a propriedade da infraestrutura. Hoje, a perspetiva encaminha-se no sentido de contratar um serviço”. A verdade é que não existe uma receita para os investimentos. Precisamente pelas especificidades do negócio, referiu Pedro Raminho (IBM), já que, no fim de contas, as empresas “esperam ganhar um modelo de governo de IT mais simples e ágil”.
 

Como ganhar competitividade

No momento de decidir o que fica on-premises e o que vai para a cloud pública, o que há a ter em conta? Vasco Afonso (Claranet) apontou o elemento mais diferenciador, que é também o único não tecnológico: as pessoas. “Sem elas, não se faz a transformação. Não há um botão que faça a conversão para a cloud. As empresas têm de decidir se pretendem ter um centro de competências cloud interno ou se preferem externalizá-las em entidades que as podem ajudar com a gestão da infraestrutura”.

Quando uma empresa pretende abraçar a cloud, o mais importante, reforçou, “é estar preparada para a mudança constante”, porque os ciclos de renovação e de inovação são cada vez mais reduzidos. “Só quando começam a utilizar serviços e a fazer pequenas transformações é que as organizações encontram o verdadeiro valor da cloud. O lift and shift representa 10% da equação”. Além do mais, lembrou, a cloud é fundamental para acelerar toda a componente de análise de dados e desenvolvimento de soluções baseadas em inteligência artificial e machine learning.

 

Adoção tem de ser acompanhada de mudança cultural

A verdade é que nem todas as empresas estão no mesmo patamar de utilização da cloud enquanto ferramenta de transformação digital. “Temos os followers e os inovadores”, sinalizou Vasco Afonso (Claranet). “Os primeiros, com elevada resistência à mudança, olham para a cloud na esperança de baixar custos”. Estas empresas não entendem a cloud como uma ferramenta de transformação e inovação, antes como um substituto do IT on-premises. “Tendem a utilizar a cloud como um data center normal, o que resulta num aumento de custos, efetivamente. Isto acontece porque não estão preparadas para mudar processos, nem procuram investir na formação das suas pessoas. Nestes casos, a cloud não é financeiramente viável, porque as empresas não estão preparadas para a gerir”. Do lado oposto estão as empresas que estão a tirar verdadeiro partido da cloud, os inovadores, que olham para a ‘nuvem’ como oportunidade para criar. “Quem apenas pensa em sobreviver, e não em liderar, vê na cloud um centro de custos. Quem está a inovar vê na cloud um mar de recursos e serviços”. Tomemos como exemplo o Office 365, a suite de produtividade na cloud da Microsoft.

A adoção desta solução SaaS é somente um ponto de entrada para a cloud, já pouca transformação produz, sobretudo se não for acompanhada de um verdadeiro processo de mudança organizacional. “A tecnologia, sozinha, não cria competitividade”, reforçou Abel Aguiar (Microsoft). “Os processos têm de mudar, para ser possível tirar partido do trabalho em mobilidade, da colaboração, para conhecer melhor o cliente, para melhorar a sua experiência”.

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