Num país onde 99% das empresas são PME, o estudo em curso “IT Future Trends 2035” alerta para as disrupções tecnológicas que prometem transformar o tecido empresarial português e desafia os gestores a adotarem uma visão estratégica a longo prazo, sob risco de ficarem para trás
A Compuworks, com apoio da IT Insight e em parceria com o Ecossistema Inova, organizou um webinar para dar início ao estudo “IT Future Trends 2035”, que visa antecipar as disrupções tecnológicas da próxima década e adaptá-las à realidade portuguesa, lançando um debate sobre o futuro das IT em Portugal.
“O que é uma PME em Portugal, nos Estados Unidos é uma microempresa”, recordou Ricardo Teixeira, CEO da Compuworks, ao justificar a necessidade de um estudo com foco nacional. “Portugal tem características muito específicas”, reforçou, destacando a ausência de estruturas que representem o setor tecnológico português nas decisões estratégicas. Ricardo Teixeira sublinhou que “temos de começar hoje a desenhar o nosso roadmap para os próximos anos” e alertou que “uma empresa que não tenha um roadmap para os próximos cinco anos não está a fazer um bom trabalho”. Para o CEO da Compuworks, o estudo pretende “antecipar as disrupções tecnológicas até 2035.
Sob risco de os desafios específicos das empresas portuguesas estarem a ser ignorados pela maioria dos estudos internacionais que “refletem realidades de grandes mercados”, Luís Rasquilha, CEO da Inova Ecosystem e Board Member da NTT Data Brazil, referiu que a ideia passou por “entrevistar um conjunto de CTO e abrir o estudo às pessoas, mas também trazer a visão de cenários e tendências da nossa equipa de research”. Com mais de 60 entrevistas a CTO de organizações de diferentes setores, o estudo aposta agora numa consulta pública. “Queremos mostrar a realidade portuguesa e as tendências da realidade portuguesa, e não as tendências de França ou da Alemanha”, explica Ricardo Teixeira na mesma linha. A participação na consulta pública do estudo é um convite para que mais vozes se unam na construção de um retrato mais realista e abrangente do futuro tecnológico em Portugal. O responsável sublinhou que a capacidade de antecipação portuguesa ainda é limitada, sendo que, explica, “tendencialmente os gestores […] pensam a curto prazo”. A missão do estudo passa por estimular uma mudança de mentalidade e “tentar evangelizar os executivos a pensar um bocadinho mais à frente”.
Também Sérgio Carvalho, Executive Director for Tech & CTO da Nova SBE, realçou a importância de um estudo adaptado à realidade nacional. “99% das nossas empresas onde é criada a riqueza, são PME, e, raramente, conseguem ultrapassar os 50 milhões de euros de faturação”. O especialista identificou a baixa produtividade como o principal entrave ao crescimento, mas defendeu que “todos nós sabemos que a tecnologia é uma maneira de aumentar a produtividade das empresas”. O Executive Director for Tech & CTO da Nova SBE alertou ainda para a aversão ao risco e o medo do desconhecido que ainda caracteriza muitos gestores. “Muitos deles andam assustados, ouvem falar de inteligência artificial (IA), ouvem falar de problemas de cibersegurança; e quase que lhes apetece desligar o computador da rede”. Considera, por isso, que o estudo pode ser uma ferramenta de literacia tecnológica, essencial para transformar medo em oportunidade. Além disso, revelou: “temos de lhes criar a capacidade de antecipação”. Ao falar sobre tendências tecnológicas, é impossível não abordar o tema da IA, que, para o responsável, representa uma mudança sem precedentes: “provavelmente, […] a maior transformação das nossas vidas”. Com todos os elementos alinhados, um dos méritos do estudo será, precisamente, “permitir que eles [os profissionais] se consigam adaptar, consigam olhar para bons exemplos e que criem agilidade nas suas empresas”. Portugal: ponto de passagem ou plataforma de valor?
A discussão destacou o papel estratégico de Portugal nas rotas digitais globais, sublinhando a sua importância no desenvolvimento da infraestrutura digital e na atração de investimentos. Tiago Santos, CEO da AR Telecom, reconheceu os progressos na conectividade, mas considera que o país ainda é sobretudo um ponto de passagem. “O tráfego passa por Portugal, mas tem como destino o centro da Europa ou os Estados Unidos”, referiu o especialista. Para criar valor, defende a aposta em plataformas cloud nacionais, com apoio de políticas públicas: “se houver uma visão global do país que incorpore as necessidades das empresas, vamos certamente conseguir extrair muito mais valor deste nosso posicionamento”.
Rui Ribeiro, Associate Partner da Zertive e Diretor Executivo da LES, partilhou esta visão, criticando a falta de literacia digital. “Falta que as organizações, e neste caso o Estado, […] saibam o que estão a fazer”, alertou, destacando a incoerência de armazenar dados sensíveis em cloud fora do espaço europeu. O responsável defende uma mudança de mentalidade: “Portugal é uma migalha no meio do mundo”, disse, apelando a uma maior proximidade tecnológica e reforço da resiliência digital. Prioridade crítica em cibersegurança e resiliênciaO tema da cibersegurança foi outro dos eixos do debate com Fábio Ribeiro, Cybersecurity Senior Sales Engineer da Watchguard, a assinalar que as ameaças evoluíram e estão longe de ser exclusivas de grandes empresas. “Cada vez mais os ataques estão mais sofisticados”, afirmou, e muitas vezes exploram fragilidades nas PME que integram cadeias de fornecimento.
Chamou a atenção para a ausência de planos de resposta, uma vez que “normalmente é: saem a correr, desligam os cabos, desligam os computadores”. Além disso, evidenciou a realidade preocupante no terreno, apontando “clientes sem redes segmentadas, utilizadores sem soluções de multifactor authentication, políticas de resposta completamente inexistentes”. O Cybersecurity Senior Sales Engineer da Watchguard alertou que “sem visibilidade não conseguimos ver absolutamente nada do que se passa na nossa empresa” e alertou para o erro comum de muitas organizações que confundem resiliência com backups e antivírus, o que “é equivalente a fechar uma porta, mas depois deixar as janelas abertas”. Apesar de investimentos em XDR, “a base está completamente descurada”. A solução, afirmou, passa por uma abordagem em múltiplas camadas, integrando tecnologias e processos. Soberania dos dados e inteligência artificial nas PMETiago Santos destacou que, na adoção da cloud, a soberania dos dados tem sido muitas vezes ignorada, referindo que isso envolve “a localização, por um lado, é quem é que controla a infraestrutura e o stack de software”. Embora esta preocupação ainda seja incipiente, começa a surgir em setores estratégicos, pelo que “existe ainda muito trabalho de sensibilização a fazer”.
Nuno Carreira, CTO & Partner da Compuworks, centrou-se na IA como oportunidade para as PME, explicando que muitos colaboradores acumulam diversas funções e que, por isso, a inteligência artificial pode ajudar a aumentar a eficiência e reduzir custos. Sublinhou ainda que a adoção da IA não pode ser opcional, devendo ser encarada como uma “estratégia essencial”. O especialista defendeu ainda que a integração nas plataformas ERP será fundamental para massificar a transformação, com destaque à urgência “requalificar funções internas e planear a transição”. Conformidade como vantagem competitivaA diretiva NIS2 e o DORA tiveram o seu protagonismo habitual neste debate, durante o qual Rui Ribeiro abordou os principais desafios e alertou que o modelo europeu passou da sensibilização à exigência “à semelhança do que aconteceu com o RGPD”. Relembrando que as novas regras impõem responsabilidade direta sobre os líderes, mesmo quanto à cadeia de fornecedores. “São 20% tecnologia e 80% processos”, afirmou, destacando a necessidade de garantir a continuidade operacional, não apenas cumprir com requisitos formais. Segundo o responsável, o desconhecimento sobre os regulamentos é generalizado fora do setor financeiro, o que exige mais sensibilização. A conformidade, concluiu, deve ser vista não como um obstáculo, mas como uma oportunidade para reforçar a resiliência empresarial num contexto de ameaças crescentes. O “IT Future Trends 2035” assume um papel fundamental na preparação do tecido empresarial português para o futuro. Ancorado na realidade nacional, o estudo é mais do que um relatório: é uma ferramenta para apoiar decisões e promover a visão a longo prazo – algo que é ainda uma exceção no nosso contexto empresarial. A apresentação em setembro dará início a um debate mais alinhado com os desafios reais das empresas, mantendo-se até lá aberto o convite à participação para um retrato mais completo do futuro tecnológico em Portugal. Participe no estudo em: https://compuworks.pt/estudo-it-future-trends-2035/
Conteúdo co-produzido pela MediaNext e pela Compuworks |