Um novo relatório da KPMG prevê um crescimento económico modesto para a Zona Euro em 2025 (0,9%), marcado por uma forte divergência entre países, pela incerteza gerada pelas políticas comerciais dos EUA e pelo aumento do investimento na defesa, que impulsiona setores como a cibersegurança e a robótica
O panorama económico europeu para 2025 é de “crescimento modesto”, com o PIB da Zona Euro a crescer apenas 0,9%, subindo para 1,1% em 2026, de acordo com o mais recente estudo “European Economic Outlook” da KPMG. No entanto, estes números gerais escondem uma realidade divergente, uma “Europa a duas velocidades”, onde o desempenho varia drasticamente entre os Estados-membros. Enquanto países como Espanha (previsão de 2,5% de crescimento em 2025) e a Polónia (3,3%) se destacam positivamente, impulsionados pela forte procura interna e por fundos da União Europeia, os motores tradicionais da Europa, como a Alemanha, enfrentam uma estagnação (0,1%), penalizados pelos custos energéticos e pelas dificuldades no setor industrial. Já Portugal surge com uma previsão de abrandamento para 1,7% em 2025, ligeiramente acima da média da Zona Euro. Um dos maiores fatores de incerteza que paira sobre o continente são as tensões comerciais com os Estados Unidos. O relatório da KPMG modelou vários cenários e alerta para o impacto severo de uma escalada protecionista. Um cenário pessimista, que inclui a imposição de uma tarifa de 25% sobre produtos farmacêuticos, poderia reduzir o PIB da Irlanda em 1,4% e o da Suíça, Países Baixos e Alemanha em 0,5% até 2026. Mesmo um cenário de negociação bem-sucedida teria um impacto positivo limitado, acrescentando menos de 0,1% ao PIB europeu. Em contrapartida, a mudança no ambiente geopolítico está a forçar um aumento significativo e acelerado nos orçamentos de defesa. O estudo antecipa que este investimento terá um impacto económico positivo, embora modesto a curto prazo (adicionando cerca de 0,3 pontos percentuais ao PIB europeu até 2030). A grande oportunidade, segundo a KPMG, reside no investimento em Investigação e Desenvolvimento (I&D) no setor. Para igualar os EUA, a UE precisaria de investir mais 90 mil milhões de euros em I&D nos próximos cinco anos. Este impulso na defesa não se traduz apenas em equipamento militar tradicional. O relatório prevê que o investimento pode vir a desbloquear sinergias e avanços em tecnologias de dupla utilização, beneficiando diretamente subsetores tecnológicos como a cibersegurança, a robótica avançada, os drones autónomos e a logística. A atividade de fusões e aquisições no setor da defesa europeu já aumentou mais de 50% desde 2022, e espera-se que este dinamismo se estenda aos setores tecnológicos adjacentes. Apesar do aumento do financiamento, o setor da defesa europeu enfrenta um desafio estrutural significativo: a fragmentação. Ao contrário do mercado unificado dos EUA, as aquisições na Europa são feitas a nível nacional, o que limita as economias de escala, aumenta os custos e dificulta o planeamento a longo prazo e a inovação em tecnologias de ponta. Para que o aumento do investimento seja verdadeiramente eficaz, terá de ser acompanhado por políticas que simplifiquem os processos de aquisição e incentivem uma maior colaboração transfronteiriça. |