O Fusion 25, primeira edição do evento da Devoteam, trouxe ao debate como tornar a Inteligência Artificial mais humana, mas foi a revelação de iniciativas estruturantes para Portugal, desde a candidatura a uma “gigafactory” de IA até ao uso da tecnologia para combater a burocracia na administração pública, que marcaram a diferença
Portugal quer assumir-se como polo europeu de inovação em Inteligência Artificial (IA), e coloca a tecnologia, a ética e o desenvolvimento económico no centro da estratégia. A ambição foi reforçada no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, que recebeu a estreia do Fusion 25, um evento da Devoteam que reuniu decisores políticos, líderes empresariais e especialistas para discutir o impacto da IA e como esta pode ser moldada para servir as pessoas e as organizações. “Este lugar representa a ciência e a descoberta. O Fusion 25 é sobre misturar tópicos que parecem opostos e provocar discussões em torno disso”, revelou Bruno Mota, CEO da Devoteam Portugal, lembrando que o objetivo do evento não passava por fechar consensos, mas abrir espaço para perguntas difíceis. O Group Managing Director da Devoteam, Sebastien Chevrel, deu conta de que “o futuro da IA é realmente trazer a fusão da humanidade e da tecnologia, da utopia e do pragmatismo, da ética e da inovação”. Já Patrícia Milheiro, AI Agency Strategy Director da Devoteam, alertou para a necessidade de ultrapassar tanto o entusiasmo desmedido como o medo paralisante em torno da IA. Para a responsável, “a pergunta que devíamos estar a fazer não é o que é que a IA é capaz de fazer, mas como é que a vamos utilizar. Como é que a pomos a servir o humano, as organizações e a sociedade?”. A ideia de equilíbrio foi retomada por Martim Sousa Tavares, Diretor Artístico, que trouxe a perspetiva da arte para o debate. “Nas orquestras, o melhor e o pior são sempre as pessoas. Ignorar a empatia pode funcionar a curto prazo, mas a médio e longo prazo cria problemas”, afirmou. A analogia com empresas surge naturalmente: tal como na música, a excelência organizacional depende de lideranças que saibam equilibrar conhecimento, decisão e relações humanas. Portugal e o futuro da IA: inovação, emprego e modernizaçãoPedro Reis, antigo ministro da Economia, questionou se alguma vez existiu “uma mudança tecnológica com impacto tão rápido e avassalador como a da inteligência artificial” e apontou a forma como esta está a democratizar o acesso ao conhecimento. Pese, no entanto, os riscos que acarreta, uma vez que, segundo o ex-governante “estamos perante um fenómeno que é, ao mesmo tempo, concorrencial e complementar. Pode empoderar o indivíduo, mas também manipular uma sociedade”. Na sua perspetiva, a Europa enfrenta o desafio de equilibrar ética e competitividade, e, numa comparação, apontou que “se ficarmos apenas com os valores certos, mas sem indústria, voltamos à Grécia antiga”. Num espaço que se revelou ideal para a partilha de ideias inovadores, Gonçalo Regalado, CEO do Banco Português de Fomento, revelou uma iniciativa que pode alterar o posicionamento de Portugal no mapa tecnológico europeu. Anunciou que o país apresentou à Comissão Europeia uma candidatura para instalar em Sines uma “gigafactory” de IA – uma infraestrutura destinada não apenas a alojar dados, mas a criar valor em toda a cadeia. “Não queremos ficar só com os data centers. O objetivo é ter produção, novos modelos e inovação, garantindo um cluster que abarque desde a manufatura até à saúde, defesa e economia digital”, explicou. O responsável acrescentou que a candidatura reúne apoio institucional, parceiros privados nacionais e internacionais e vantagens competitivas como cabos submarinos e energia a preços competitivos. Segundo o gestor, estão já garantidos 100 mil GPU para suportar o arranque do projeto. “Os estudos apontam para 85 milhões de trabalhos em todo o mundo que vão sofrer o impacto da inteligência artificial já no próximo ano, mas, em contrapartida, 97 milhões de empregos surgirão. Portanto, o saldo é claramente positivo”, disse Gonçalo Saraiva Matias, Ministro Adjunto e da Reforma do Estado. O governante acrescentou que tal representa “uma criação líquida de empregos de 112 milhões e um aumento mundial do PIB em 15 pontos percentuais”. Para o ministro, estes dados servem “para aplacar já um pouco esta ideia de que a inteligência artificial vai deixar toda a gente sem emprego”. Numa altura em que Portugal assume a presidência do D9+, o grupo dos países líderes digitais na União Europeia, o ministro destacou o papel da inteligência artificial na modernização da Administração Pública. Sublinhou que simplificar processos antes de os digitalizar é essencial para não “criar ainda mais complexidade” e apontou projetos como o Licencia, uma plataforma com recurso a IA que pretende acelerar os licenciamentos. |