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Os atuais serviços de cloud exigem novas competências organizacionais

Poucas são as organizações preparadas para tirar partido em pleno das capacidades atualmente disponibilizadas pelos principais fornecedores de serviços de cloud

Os atuais serviços de cloud exigem novas competências organizacionais

A transição de serviços on-premises para serviços cloud obriga a investimentos importantes por parte das organizações que a empreendem. Mas se não existem as competências para aproveitar o que está disponível, ou para otimizar os serviços migrados, as promessas da adoção da cloud podem ficar por cumprir, em parte ou no todo. Não sendo fácil a reversão por completo, não estará decerto fora de questão. A insatisfação com os resultados da mudança pode, pelo menos, levar a um repensar de estratégia, com redução dos serviços usados.

Todos os anos, a Amazon Web Services, o fornecedor de serviços de cloud com maior quota de mercado, realiza, entre o final de novembro e o princípio de dezembro, em Las Vegas, a sua conferência re:Invent. O passado ano de 2022 não foi exceção e só na primeira das sessões gerais foram anunciados, por Adam Selipsky, CEO da companhia, dezassete novos serviços em AWS. Os anúncios não se ficaram por aí, e ao longo dos restantes dias outros anúncios foram feitos levando a um cômputo final de muitas dezenas de serviços lançados já no fim do ano passado. Mas evidentemente, e apesar da sua popularidade, a AWS é apenas uma de entre as muitas empresas de fornecimento de serviços de cloud.

As boas práticas atuais em termos de adoção de serviços de cloud aconselham a que se evitem situações de excessiva dependência de um só fornecedor, pelo que as estratégias de “multicloud” são, não apenas desejáveis, como muitas vezes necessárias. Mas, obviamente, em “multicloud” é necessário estarmos a par do que os respetivos fornecedores podem disponibilizar. Não apenas isso, mas é indispensável também estarmos atentos a um outro fenómeno que acontece com os serviços de cloud e que sucedia em muito menor escala quando os sistemas de informação se baseavam, sobretudo, em produtos on-premises. É que, em cloud, os fornecedores tendem a fazer mudanças de interfaces com menos reticências do que anteriormente. Não é inaudito, em serviços cloud, as interfaces aparecerem mudadas ou a forma de operação dos serviços ser alterada, amiúde com pouca informação associada à mudança. Por outras palavras, para além do aparecimento de novos serviços, a cloud acelera as mudanças nos próprios serviços.

A não ser que as organizações estejam preparadas para absorver esta mudança constante – e muitas não estão – a pós-adoção pode ser desafiante no que se refere às competências necessárias para tirar o máximo partido desta panóplia de serviços.

É necessário repensar planos de formação, de parcerias, de contingência, de evolução, por forma a tornar gerível tal ritmo de transformação. Mesmo que a estratégia de adoção passe, simplesmente, pelo que se convenciona chamar “lift and shift”, ou seja, “embalar” e mudar o que existe on-premises, sem alterações de maior, para a cloud, ainda assim esse é normalmente apenas um primeiro passo. Não invalida que o que se segue obrigue a mudanças profundas na forma de trabalho na organização.

Sim, é possível pensar que se transicionam as aplicações atuais on-premises para a cloud por recurso a um qualquer dos muitos serviços de migração e que o trabalho seguinte é de manutenção de status quo. Mas o resultado mais provável de tal estratégia é desapontamento. A persistência da mudança para a cloud exige, para que dela se tirem os verdadeiros benefícios, que a cloud seja encarada não como mais um servidor de capacidades infindas, mas como uma nova forma de pensar a estratégia de sistemas de informação. Pensar incomoda como andar à chuva, afirmou Fernando Pessoa. No que à cloud diz respeito, as organizações precisam estar preparadas não apenas para a chuva mas para granizos, borrascas, ou mesmo, dilúvios. 

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