A necessidade de otimizar os custos na cloud

Ter parte dos workloads na cloud é normal para uma grande parte das organizações, mas a necessidade de otimizar os custos na nuvem é uma parte essencial para as operações

A necessidade de otimizar os custos na cloud

Flexibilidade e escalabilidade são, habitualmente, dois termos associados à cloud que as organizações procuram para as suas operações. No entanto, esta mesma flexibilidade e escalabilidade podem, com relativa facilidade, gerar despesas desnecessárias se a cloud não for bem gerida.

Ao migrar para a cloud, muitas empresas enfrentam o desafio de equilibrar a utilização de recursos com o controlo de custos, uma vez que o valor pago é, geralmente, baseado na utilização contínua de processamento, de armazenamento e de dados.

Otimizar os custos na cloud permite que as organizações mantenham a sua infraestrutura ágil, ajustando o consumo conforme a real necessidade, sem comprometer a performance ou a segurança, além de melhorar a eficiência operacional das organizações.

Do on-premises para a cloud (e da cloud para o on-premises)

Inicialmente, as organizações migraram uma grande parte dos seus workloads para a cloud. No entanto, com o passar do tempo, muitas consideram trazer parte desses mesmos workloads da cloud para o on-premises.

 

“A questão relevante para as organizações continua a ser se há ou não business case que justifique a utilização, no caso, de IA para determinado use case”


Artur Amaral, General Manager da Crayon Portugal

Artur Amaral, General Manager da Crayon Portugal, refere que, com o advento da cloud, muitas organizações “começaram a experimentar, fazer pilotos, migrar alguns ambientes ou iniciar novos projetos diretamente na cloud” e o conceito e utilização de estar na cloud “já não é estranho à maioria”. A tendência, diz, continua a ser “no sentido da migração de mais ambientes, adoção de mais serviços e maior aproveitamento dos benefícios que a cloud pode aportar”, mas assiste-se “a uma maior preocupação com o controlo dos custos respetivos, bem como uma análise mais criteriosa da infraestrutura a considerar para cada ambiente”.

Para Pedro Teixeira, Cloud & Infra Director da Claranet Portugal, indica que as organizações consideram voltar para infraestruturas on-premises quando, por exemplo, “procuram maior controlo sobre os seus dados e sistemas, precisam de conformidade com regulamentos específicos que exigem armazenamento de dados local, ou enfrentam desafios com a latência e o desempenho” das clouds públicas. Ao mesmo tempo, acrescenta, “a variabilidade dos custos pode também influenciar essa decisão, especialmente se a organização pretender gerir eficientemente a sua infraestrutura on-premises a um custo mais estabilizado”.

Bruno Oliveira, Diretor de Technology Consulting da KPMG, menciona o ‘Global Tech Report 2022’ da KPMG que refere que 73% das empresas estão a migrar workloads estratégicos para a cloud. Ainda que não existam muitas situações que levam as organizações a considerar recuar uma infraestrutura de cloud para on-premises, o mesmo estudo “destaca, de facto, alguns fatores de insegurança no que respeita à adoção de cloud”, como “o potencial aumento de custos, dependência de sistemas legacy, falta de recursos humanos capacitados e a falta de mapeamento entre o custo da infraestrutura e o valor por ela gerado em suporte ao negócio”. Um outro aspeto em consideração pelas organizações “é a crescente criação de normas europeias que regulam cada vez mais os temas relativos à soberania, residência e proteção de dados sensíveis, observa-se uma consciencialização para a implementação de controlos cada vez mais rigorosos, que se pode traduzir num recuo da utilização de computação cloud para estes casos”.

Vanda Gonçalves, Managing Director da Accenture responsável pela área de cloud em Portugal, afirma que, nos últimos anos, assiste-se a “um aumento do compromisso de consumo na cloud por parte das empresas”, onde mais de 86% das organizações – segundo o estudo ‘The race of cloud’ da Accenture – a “reportar um aumento do âmbito e volume das iniciativas de cloud desde 2020”. Numa fase inicial, “as empresas tendem a mover workloads menores, menos críticos, mais fáceis de gerir e sem grande transformação. Ao assumir como foco a adoção da cloud ao invés do que acontece estando na cloud, retira-se pouco ou nenhum valor incremental das migrações efetuadas” e apenas 42% das empresas relatam “ter alcançado em pleno os resultados esperados nas cinco alavancas de valor”: redução de custos, velocidade, capacitação do negócio, melhoria dos níveis de serviço e resiliência/continuidade do negócio. “A redução de custos é um dos resultados que tem sido mais difícil de alcançar e apenas 39% declaram já ter atingido plenamente as suas expectativas a esse nível (mais 2% do que em 2020)”, diz Vanda Gonçalves.

Os desafios de voltar a casa

Mesmo sabendo a escalabilidade e flexibilidade que a cloud proporciona, algumas organizações podem preferir o controlo e a segurança de uma infraestrutura on-premises.

“A governança e políticas de uso insuficientes, sem a definição de políticas de utilização claras da cloud para controlo dos custos, podem levar a gastos excessivos”


Pedro Teixeira, Cloud & Infra Director da Claranet Portugal

 

Pedro Teixeira explica que migrar workloads da cloud para on-premises apresenta os seus próprios desafios, como “a gestão de custos, que pode envolver custos operacionais mais elevados devido à necessidade de gerir e manter a infraestrutura on-premises e que pode abranger a aquisição de hardware, licenças de software e recursos para suporte e gestão de sistemas”. Também a complexidade técnica é um fator importante a ter em conta, “uma vez que reverter a migração requer um planeamento cuidadoso e uma execução técnica que evite perda de dados e garanta a continuidade dos serviços”. Por fim, diz o representante da Claranet, voltar ao on-premises pode trazer um investimento inicial significativo em hardware e infraestrutura para suportar os workloads” e os “custos de manutenção e operação de uma infraestrutura on-premises podem ser substancialmente mais altos em comparação com soluções baseadas na cloud ou em data centers de parceiros”.

Para Bruno Oliveira, “o retorno de workloads a uma infraestrutura on-premises acarreta os desafios próprios de uma migração, sendo para isso altamente recomendada uma avaliação custo-benefício para informar a tomada de decisão, a definição de uma estratégia de migração adequada e o envolvimento de equipas especializadas e multidisciplinares. Alguns desses desafios prendem- se com a migração de dados, gestão de dependências, reconfiguração de infraestrutura física e necessidade de avaliação da capacidade computacional atual para suportar o retorno dos workloads sem perda de eficiência de resposta, reavaliação dos controlos de segurança para garantir cumprimento da regulamentação aplicável e alinhamento com as boas práticas, necessidade de garantir compatibilidade da infraestrutura física atual com os sistemas a migrar”, sendo que “algumas podem sofrer necessidade de refactoring”.

A imprevisibilidade dos custos na cloud

Vanda Gonçalves assume que “a cloud está a assumir um peso relevante nas despesas e isso requer novos mecanismos e processos de previsão para gerir os custos variáveis e dinâmicos” onde “a base de custos se tornou mais complexa e isso requer novos mecanismos de previsão e processos para gerir custos variáveis”. Assim, surgiu, nos últimos anos, o FinOps “como uma nova disciplina para controlar os gastos com a cloud”. Assim, o FinOps “aumenta o valor de negócio da cloud, reunindo tecnologia, negócio e finanças, com um novo conjunto de processos automatizados. Com este framework organizado em torno de cinco capacidades que vão desde o forecast, a otimização, a organização e a tecnologia (ferramentas e automação), até à governance, é possível perceber o verdadeiro valor da computação cloud e estabelecer um maior alinhamento entre o consumo de tecnologia e os resultados do negócio”.

Artur Amaral defende que a imprevisibilidade a que muitas organizações assistem “resulta, na maior parte das vezes, de uma menor compreensão desses custos”, associados a, por exemplo, “projetos não orçamentos, aplicações com maior crescimento, desperdícios em ambientes de desenvolvimento/teste e subutilização de recursos em ambientes produtivos, entre outros”. Se, no passado, a decisão de investimentos seguia processos internos de aprovações bem definidos, “com a cloud estes processos tornaram-se menos claros, com a possibilidade de administradores de sistemas ou developers configurarem novos recursos na cloud”. Assim, “é fundamental que seja criado um modelo de governo para a utilização da cloud, acompanhamento, controlo e otimização dos seus custos”. Pedro Teixeira refere que “é essencial uma abordagem estratégica que inclua a gestão e otimização contínua da plataforma e infraestrutura”, assim como “ter processos que estejam desenhados para cloud pública que acompanhem o dinamismo das plataformas, ajudando a controlar os custos associados à operação e manutenção da infraestrutura de IT e evitando custos adicionais e inesperados”. O Cloud & Infra Director da Claranet indica, ainda, algumas estratégias que podem ajudar a reduzir a imprevisibilidade dos custos na cloud, passam por uma monitorização e análise contínua; orçamentação e previsão; otimização de recursos; e governança e políticas de utilização.

 

“Para gerir custos na cloud com sucesso é necessário conseguir medir, reportar, analisar e otimizar a utilização de recursos cloud, o que requer ter ferramentas e automatismos”


Bruno Oliveira, Diretor de Technology Consulting da KPMG

Sabendo que a tomada de decisão sobre custos e desempenho da cloud “é um desafio complexo”, as práticas de FinOps afiguram-se de extrema importância, segundo Bruno Oliveira. Esta framework “preconiza a otimização de utilização cloud e gestão de custos assente na visibilidade, controlo, automação, otimização e colaboração entre equipas financeiras, de engenharia e de negócio em alinhamento com os objetivos do negócio. Estas equipas colaboram na tomada de decisões sobre custos de cloud com base em dados, a transparência é priorizada através de mecanismos de showback/chargeback e a responsabilidade pelo uso e custo da cloud está claramente atribuído”.

Os erros mais comuns

Ao gerir os seus custos na cloud, as organizações cometem, segundo o representante da KPMG, essencialmente cinco situações que dificultam a gestão dos seus custos: ausência de estratégia e KPI associados – “para gerir custos na cloud com sucesso é necessário conseguir medir, reportar, analisar e otimizar a utilização de recursos cloud, o que requer ter ferramentas e automatismos para capturar métricas relevantes” –; não perceber a origem e tendência dos custos – “olhar para os custos como um todo e ignorar o que origina os custos, quais são justificados e quais podem ser otimizados” –; não utilizar ferramentas, tecnologias, tagging apropriadas e a não gestão dos ativos; falta de colaboração entre equipa financeira e equipas de engenharia; e falta de um plano estratégico de ação a utilizar quando se verifica uma situação anómala – ou seja, “o que fazer, quem envolver e de que forma se soluciona quando se deteta que uma área reportou de forma consistente custos demasiado elevados”.

“Para poder tirar proveito de tecnologias emergentes, como IA generativa, a cloud deve operar com o seu valor total e isto requer a implementação de algumas práticas que têm que ser disseminadas pela organização para maximizar o valor”


Vanda Gonçalves, Managing Director da Accenture responsável pela área de cloud em Portugal

 

Vanda Gonçalves, da Accenture, refere que “há um conjunto de fatores que são mais recorrentes”, como é o caso “da utilização da cloud como se fosse mais um data center, não retirando partido das arquiteturas nativas da cloud nem dos serviços como PaaS, autoscaling, scheduling, etc., e continuar a seguir uma abordagem tradicional sem qualquer otimização”. Outro erro comum é a falta de transparência ou de responsabilização financeira, ou seja, “há, muitas vezes, ausência de imputação de custos, reporting e controlo que permitam capturar picos imprevistos de utilização e custo, num contexto em que as equipas não estão motivadas a reduzir custos”. Um outro erro é a não existência de transformação das competências das equipas e dos processos que permitem adotar uma nova forma de trabalho, necessária para captar os benefícios da cloud.

Para Artur Amaral, da Crayon, é necessário que “a adoção do modelo de governo e estratégia de otimização de custos deve ser feita cedo no processo, antes que a utilização e os custos se descontrolem”.

Pedro Teixeira indica que os erros mais comuns cometidos pelas organizações em relação à gestão de custos na cloud incluem o desconhecimento dos custos reais, “o que pode levar a decisões financeiras mal informadas e a uma gestão de custos ineficiente” onde é “crucial fazer um levantamento completo de custos fixos e variáveis para evitar surpresas”. Ao mesmo tempo, “o planeamento e orçamentação inadequados – onde algumas organizações falham em estabelecer orçamentos claros e realizar previsões precisas com base no histórico de uso e tendências de mercado – podem levar a gastos não planeados”. Por fim, aponta o representante da Claranet, “a governança e políticas de uso insuficientes, sem a definição de políticas de utilização claras da cloud para controlo dos custos, como a implementação de limites de gastos e a aprovação de novos recursos, podem levar a gastos excessivos”.

O advento da inteligência artificial

Com a chegada em massa da Inteligência Artificial (IA), muitas empresas não têm outra escolha se não utilizar a cloud. Por outro lado, a utilização de IA tornar os custos da cloud ainda mais imprevisíveis.

Para manterem os custos tão baixos quanto possível, mas continuarem a inovar, as organizações precisam de adotar “uma abordagem estratégica e utilizar as ferramentas e serviços disponíveis para otimizar e gerir os custos”, defende Pedro Teixeira. “Recomenda-se a utilização de serviços de escalabilidade automática, como Virtual Machines, App Services e Kubernetes Service, que permitem aumentar ou diminuir os recursos de computação em tempo real, otimizando custos durante períodos de baixa procura”, aponta.

Bruno Oliveira refere que os líderes de negócio esperam um aumento nos custos associados a computação cloud em 2024, estando estes diretamente associados ao crescimento da IA. Neste contexto, observa que as organizações estão “a optar por uma combinação de soluções on-premises, por questões de eficiência de custos, segurança, e controlo dos dados, em combinação com opções cloud, em função do caso de uso concreto de IA”.

“Uma infraestrutura cloud moderna é a base para a reinvenção e é fundamental para o core digital que aproveita o poder da cloud, dados e IA através de um conjunto interoperável de sistemas em toda a empresa”, defende Vanda Gonçalves. No entanto, acrescenta, “para poder tirar proveito de tecnologias emergentes, como IA generativa, a cloud deve operar com o seu valor total e isto requer a implementação de algumas práticas que têm que ser disseminadas pela organização para maximizar o valor”, como a procura de vantagens de negócio e indústria que permitam aplicar a cloud estrategicamente como força de mudança ao invés de apenas gerar economias de escala” e a capacitação tecnológica para desbloquear valor através da cloud, como as organizações que veem a cloud como um facilitador estratégico a adotar entre 25% e 80% mais tecnologias, ao mesmo tempo em que oferecem resultados muito melhores”.

Sabendo que a utilização da cloud veio facilitar muito o desenvolvimento de IA, Artur Amaral defende que “a questão relevante para as organizações continua a ser se há ou não business case que justifique a utilização, no caso, de IA para determinado use case. Havendo, deverá ser acompanhado como as restantes iniciativas, através do órgão referido e aplicando as mesmas estratégias de otimização de custos”.

Casos de sucesso

Bruno Oliveira partilha um caso particular onde uma organização conseguiu otimizar custos significativos na cloud. “Apoiámos uma multinacional farmacêutica na otimização de custos na cloud, onde depois de uma análise ao estado atual, implementámos algumas práticas de FinOps maioritariamente assentes na transparência de consumos e estabelecimento do processo de chargeback e conseguimos resultados que ascenderam aos 15% de diminuição de custos. Verificamos também impactos indiretos, como a imediata otimização de tarefas FinOps, permitindo a disponibilização dos recursos humanos para iniciativas de maior impacto e um aumento da maturidade nas operações de cloud, com proporcional aumento da eficiência”, diz.

Vanda Gonçalves também partilha um caso onde foi aplicada uma abordagem de FinOps. Numa empresa de utilities australiana que adquiriu um negócio de contadores baseados em cloud “e estabeleceu uma parceria com a Accenture para gerir a integração e a otimização. Foi utilizada a metodologia de otimização que a Accenture desenvolveu para o efeito juntamente com a análise profunda dos dados da subscrição do cliente, a sua utilização e faturação para identificar as oportunidades de otimização de custos cloud. A análise ficou completa em quatro meses e identificou um conjunto de medidas de otimização que possibilitaram a redução de 50% dos custos num ano”.

Pedro Teixeira refere “um projeto com um cliente em que o principal desafio identificado era a necessidade de otimizar os custos na cloud, através de práticas que ajudem a utilizar melhor os recursos e gerir os custos de forma mais eficiente. A abordagem adotada consistiu no fornecimento e setup de componentes como quick wins, análise do estado atual da infraestrutura, identificação dos workloads e dos top consumers e oportunidades de melhoria. Foi também enfatizada a formalização dos processos, ferramentas, inputs e outputs e o acompanhamento dos custos. Os benefícios alcançados incluem a economia de custos significativa, com um montante total projetado a 12 meses de aproximadamente 1,6 milhões de euros. Além disso, houve um aumento da consciência sobre o uso de serviços na cloud e a implementação de projetos para a migração para on-premises, quando necessário”.

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