“É necessário reconhecer os data centers como um setor chave”

A Cuatrecasas e a Portugal DC reuniram o ecossistema para desenhar o futuro dos Data Centers em Portugal. O encontro analisou a oportunidade ibérica e o investimento e soluções de engenharia necessárias para responder a uma procura que cresce mais depressa do que a infraestrutura

“É necessário reconhecer os data centers como um setor chave”

A Cuatrecasas e a Portugal DCAssociação Portuguesa de Data Centers promoveram um encontro com líderes e decisores do ecossistema para discutir as tendências, os desafios, mas também as oportunidades do mercado de data centers em Portugal e também no contexto ibérico.

Miguel Pinto Luz, Ministro das Infraestruturas e da Habitação, responsável por abrir a sessão, começou a sua intervenção por enumerar os vários investimentos que têm sido feitos ao nível da infraestrutura, nomeadamente na ferrovia, na rodovia e nos portos, uma base essencial para projetar e desenvolver o setor de data centers. Sobre a clara posição geográfica estratégica que o país detém, Miguel Pinto Luz recordou que episódios como o Brexit fizeram com que Portugal se posicionasse como a “primeira porta de entrada continental”.

Neste ponto o ministro das Infraestruturas e da Habitação afirmou que existem hoje“data centers de pequena, média e grande dimensão, maiores que o da Start Campus, que já estão a deslocalizar para Portugal”.
 

No entanto, Miguel Pinto Luz salientou que, apesar de estarmos “a construir o país dos próximos 50 anos, capaz de atrair data centers”, existem ainda desafios que se impõem na sua instalação e desenvolvimento, entre eles a disponibilidade de energia e água. “O grande desafio é saber como é que geramos riqueza, que fique em Portugal, e que possa ser ela própria reprodutiva em termos de mais e melhores investimentos no futuro”.

Portugal e Espanha: um trabalho conjunto para fazer crescer o ecossistema

O painel sobre tendências, enquadramento e experiência ibérica colocou o ónus naquela que é a visão portuguesa e ibérica para o desenvolvimento e aposta crescente em data centers.
Rita Lourenço, Vice Presidente Portugal DC, elencou que, neste campo, a relação entre Portugal e Espanha “é uma oportunidade estratégica e não uma competição direta”, sendo necessário olhar para esta oportunidade “como um todo”.

Ainda assim, e numa altura em que a conetividade internacional está em evolução, Rita Lourenço considera que Portugal “tem avançado muito neste setor”, o que tem levado também a PortugalDC a trabalhar em conjunto com a Spain DC para tentar “replicar as boas práticas” do setor no lado de lá da fronteira.

Neste âmbito, a Vice-Presidente do Portugal DC elege três pontos a replicar no contexto português: acelerar o processo de licenciamento; consolidar a competitividade de Portugal a nível geográfico; e promover e atrair investimentos debaixo de uma “capa” de unificação para o país, onde se incluem infraestruturas como a ferrovia.

Para concretizar este cenário, Rita Lourenço deixou no ar a necessidade de proceder a reformas. “A energia é um ponto, e ainda que Portugal tenha facilidade neste ponto, o licenciamento é sempre mais complexo”, reiterou. Por outro lado, “é necessário reconhecer o setor de data centers como um setor chave”.

Com um investimento estimado de 13,7 mil milhões de euros até 2031, Rita Lourenço frisou a necessidade de desenvolver programas de talento – inseridos também no contexto ibérico – para alavancar a capacitação técnica que contribua igualmente para “criar uma visão internacional e um posicionamento ibérico. Posicionar a Península ibérica como um cluster digital e transformarmo-nos numa narrativa”.

O investimento de 10 mil milhões de dólares em Portugal recentemente anunciado pela Microsoft não foi esquecido. Manuel Abellán San Martin, EMEA – Government Affairs Data Center Strategy Director da Microsoft, reiterou a ideia da situação geográfica de Portugal como uma das principais escolhas que levaram ao investimento da tecnológica norte-americana, naquela que é tida como uma era de oportunidades de ‘reindustrialização 2.0’.

À localização estratégica - 25% dos cabos submarinos de internet passam por Portugal, segundo Manuel San Martin – junta-se a estabilidade e previsibilidade económica do país, “muito importante na perspetiva da Microsoft”, reforçou, assim como a aposta em terrenos baratos e energias renováveis. Sobre o futuro, o executivo defendeu a priorização de projetos estratégicos e ainda a adoção de uma estratégia cloud-first.

Fernando García, Managing Director, IDP DC by Bureau Veritas, acrescentou outro ponto à conversa: “90% das atuais conversações estão baseadas no desenvolvimento inicial dos projetos”, constatou, referindo que se “perde mais tempo na especulação do que no desenvolvimento do projeto”Para este setor, o Managing Director enumerou os dois reptos que considera mais importantes: o primeiro passa pela energia e o segundo pela procura de componentes. “Esta é uma indústria supply driven”, reiterou.

Para o futuro, o plano deverá também contemplar o desenvolvimento da infraestrutura de transporte – elencada no início da sessão pelo Ministro das Infraestruturas e Habitação – que se revelará como um “game changer para transformar a Península Ibérica num cluster”, acredita Fernando García.

Por sua vez, Luis Antonio Gaite, Data Center Segment Leader Espanha da ABB, considera o time-to-market o fator mais importante.

O desafio da energia, a especulação e os “híbridos” como solução

Apesar de Portugal estar na rota global dos Data Centers, a transformação do interesse em infraestrutura real exige que se ultrapassem alguns obstáculos. Esta foi a conclusão transversal da conversa que juntou Pedro Malheiro, CEO da LMSI – Engineering, Nuno Martins, Managing Partner na Quadrante, Carlos Paulino, General Manager Portugal da Equinix e Ana Quelhas, EVP Hydrogen and Data Centers da EDP Renewables.

A nível de estrutura, Pedro Malheiro, da LMSI, empresa envolvida em grandes projetos como o da Start Campus, em Sines, mencionou a evolução técnica que o mercado tem sofrido e que tem contribuído para a alteração de soluções técnicas; já Nuno Martins, da Quadrante, recordou que um Data Center não é um edifício comum: “É uma infraestrutura crítica que tem de ser pensada com níveis de redundância”.

No centro do debate esteve, uma vez mais, o tema da energia, nomeadamente o acesso à potência e à rede. Ana Quelhas, da EDP Renewables, descreveu o aumento do consumo como um “upside” para o negócio da organização, mas deixou um alerta: “Temos grandes centros produtores e uma rede desenhada para distribuir para consumos pequenos. O desafio agora é o oposto: centros distribuídos de produção e consumos muito grandes e concentrados”, revelou.

Para fazer face à falta de capacidade de rede, a responsável da EDP propôs o conceito de “Híbridos 2.0”, que passa por recorrer às infraestruturas já existentes para ligar também grandes consumidores, como é o caso dos Data Centers.

Carlos Paulino, da Equinix, responsável pelo maior hub de interligação em Portugal, corroborou as dificuldades anteriormente acordadas, mas considerou que existe uma grande especulação nos pedidos de potência, sugerindo cauções por cada megawatt pedido, de forma a filtrar o pipeline, assim como uma melhor gestão e distinção de projeto reais de intenções e ideias especulativas.

Apesar dos desafios, o painel foi unânime ao concordar que o boom do setor está a atrair o regresso de talento para participarem e contribuírem com know-how. Pedro Malheiro antevê mesmo que, nos próximos cinco a dez anos, Portugal terá capacidade para responder a estes desafios, ainda que o sucesso esteja igualmente dependente da regulação e de uma rede elétrica que evolua em conformidade.

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