No keynote de abertura da mais recente edição da IT Insight TALKS, Henrique Carreiro, Diretor da IT Insight, desafiou a audiência a olhar para a cloud híbrida e multicloud para lá da lógica da migração, defendendo uma abordagem mais madura, assente na liberdade de escolha, na governação e na adequação de cada ambiente às necessidades concretas do negócio
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O Fórum Tecnológico Lispolis, em Lisboa, acolheu a última edição da IT Insight TALKS de 2025, dedicada ao tema da hybrid cloud e multicloud. Com o mote “Cloud híbrida e multicloud: maturidade além da migração”, Henrique Carreiro, Diretor da IT Insight, começou por referir no seu keynote que já não nos encontramos na fase de perspetiva tradicional da migração para a cloud. “Neste momento já não estamos exatamente nesse ponto. Todas as empresas, de uma forma ou de outra, nem que tenham um Microsoft 365, já migraram parte da sua infraestrutura para cloud, aquilo que era o Exchange tradicional, por exemplo”, contextualizou. Henrique Carreiro colocou o ónus na questão da liberdade de escolha no que diz respeito ao fornecedor de cloud, recorrendo ao exemplo da mudança de operadores de telecomunicações: “Porque é que numa empresa também não podemos mudar de fornecedor de cloud? Porque é que estamos presos, muitas vezes, para a vida?”, questionou. Na sua perspetiva, são três as forças responsáveis por esta perceção: num primeiro momento a Inteligência Artificial (IA), que se apresenta, do ponto de vista mais estrutural, como uma componente essencial para as empresas. “Não é a questão da engenharia e do contexto da prompt, mas tudo o que está por trás. Se para um utilizador individual passa por escolher o modelo A ou B, para uma organização é muito mais do que isso”, reforçou. Nesta equação é igualmente necessário olhar para variáveis como a própria localização dos dados e a forma como serão geridos. Uma das outras forças enumeradas passa pelo edge e pelos dados distribuídos. No caso dos serviços críticos, é necessário refletir sobre latências, dependências, ligações. O on-premises é, segundo Henrique Carreiro, uma das soluções que poderá fazer mais sentido. A regulação é a terceira e última força enumerada. A exigência cada vez maior por parte da regulamentação europeia vai obrigar as empresas a reverem e refletirem sobre o que devem ter localmente ou noutras geografias, perante a possível gestão de terceiros e a soberania de cloud. O resultado da combinação destas três forças demonstra que o “migrar tudo” não é a opção vencedora, mas sim a ideia de coreografar os aspetos de forma a encontrar o melhor fit para cada caso. Os ingredientes para a construção da maturidadeNeste âmbito, Henrique Carreiro considera que a maturidade da cloud não passa necessariamente por mapas de maturidade, mas sim por questões como a portabilidade, vista não como uma promessa, mas sim como uma política, e onde têm de ser tidos em conta parâmetros como os pipelines de dados, as aplicações, as equivalências e os contratos, com o diretor da IT Insight a alertar: “Alguém já olhou a sério para as cláusulas de saída de um fornecedor de cloud? Quanto é que se paga para tirar de lá os dados?” Outra das questões a ter em conta no atual estado da maturidade passa por uma governação unificada, que contempla a segurança, o risco e o custo. Nestes casos, Henrique Carreiro reiterou que as organizações ainda se veem a braços com os custos finais e, consequentemente, com as contas de return on investment. “Uma das características importantes a ter em conta é quanto é que nos custa servir um utilizador. Esta é uma conta que muitas vezes não é feita. Porquê? Porque é feito um valor agregado. Mas é importante saber quais são as componentes de custo que são importadas a utilizadores internos e externos”, sublinhou. Por fim, a eficiência é o terceiro conceito a ter em conta quando falamos de maturidade. Henrique Carreiro considera que parte de cada organização a decisão sobre a escolha dos ambientes certos para cada workload, independentemente do provider associado, garantindo que a eficiência está orientada ao produto. “Gerir múltiplas clouds e essa liberdade é muito complicado, mas quanto é que nos custa estarmos ‘presos’ porque o provider, por vários motivos – estratégicos, comerciais – tem uma visão relativamente limitada sobre a oferta que pode ter?”, observou. Europa não abre mão da proteção de dadosAinda que seja criticada pelo excesso de burocracia e pela preocupação com a regulamentação – que leva muitas vezes à colocação de entraves ao sucesso –, a Europa oferece às organizações uma camada de proteção sobre a privacidade dos dados superior à de outras geografias. “Eventualmente, hoje até já se começa a colocar a questão de ‘será que algumas das clouds do outro lado do Atlântico dão as garantias que nós pretendemos? Ou teremos de ter aqui alguma solução mais europeia?’”, questionou o Diretor da IT Insight. Palavra de ordem: testarHenrique Carreiro sugere três testes para serem feitos em equipa de forma a testar a maturidade: o primeiro passa pela portabilidade, que pressupões a simulação da saída de um serviço, de uma cloud para outra, e as implicações que tal mudança provoca; a visibilidade, que implica a reconstituição de um incidente antigo, compreender o que aconteceu no passado; e o custo económico de incidentes passados. “Hoje, a questão da cloud híbrida e da multicloud tem muito a ver com o tema da liberdade. Na verdade, é crucial neste mundo dinâmico em que todos sentimos que estamos, em que as coisas mudam rapidamente, onde as ideias sobre o que é que a IA deve ser mudam rapidamente, assim como a própria geopolítica e o posicionamento dos vários mercados e dos intervenientes”, constata. No fim da linha, a disciplina de liberdade na maturidade da cloud assenta na liberdade de mudar de posição sem perder integridade; em auditar sem paralisar; e em investir onde o produto é vencedor. |