A mobilidade do IT

Num mundo cada vez mais móvel, ter os equipamentos, ferramentas e abordagem certos para o trabalho híbrido vai fazer a diferença em relação à concorrência. Nesta mesa-redonda da IT Insight, representantes da Bravantic, da HP, da Lenovo, da Noesis, da Universidade Portucalense e da Warpcom partilham a sua opinião sobre o mercado de IT mobility

A mobilidade do IT

A pandemia fez de muitos de nós teletrabalhadores, mas o seu desaparecimento fará de nós nómadas digitais. Na mais disruptiva transformação das nossas vidas, estamos a criar um novo normal cujos efeitos sociais são tão profundos que tornam largamente irreversíveis as alterações para lá da questão sanitária.

Gerir, trabalhar, estudar e socializar têm, pela primeira vez desde a revolução industrial, fronteiras mais ténues e dissociadas de espaços temporais e físicos rígidos. A criação em curso de um novo quotidiano, pessoal e profissional, só é possível de materializar porque a tecnologia da mobilidade estava em grande medida disponível, mas os desafios que se continuam a apresentar são colossais.

Nos últimos anos, muito se falou de trabalho híbrido, remoto e presencial. Neste momento, e de um modo geral, qual é o principal modelo adotado pelas organizações portuguesas?

Rodolfo Pereira, Diretor de Enterprise Solutions, Noesis: “Temos vindo a assistir ao longo destes anos a diferentes situações em que a pandemia nos obrigou a pensar e a repensar em termos do que seria a forma de trabalhar e relacionarmos com os colaboradores e clientes. Julgo que não vamos voltar totalmente ao presencial; muitas destas novas formas de estar, de equilíbrio entre aquilo que é a vida pessoal e a profissional, não voltaram atrás. Existe uma facilidade maior de interagirmos, independentemente de onde estamos no país”

 

Ricardo Lopes, Portugal End User Territory, HP

Ricardo Lopes, Portugal End User Territory, HP: “Há uma primeira aprendizagem que já todos temos: cada organização é única. Não existe – e creio que não vai existir – um modelo que sirva todas as organizações; depende da própria empresa, do tipo de indústria onde está inserida, dos colaboradores. Aquilo que mais vemos nas interações que vamos tendo com as organizações portuguesas é um modelo três por dois, ou seja, três dias em casa e dois no escritório, ou vice-versa”

Abílio Cardoso, Docente e Diretor dos Sistemas de Informação, Universidade Portucalense: “Tivemos de pôr todas as pessoas – docentes e alunos – em casa, mas não há como dar aulas à distância. É preciso estar fisicamente com os alunos. Outro problema que tivemos e que é muito complicado são as avaliações dos alunos. Realço a passagem bastante rápida que tivemos de fazer de, em dois ou três dias, ter de pôr todas as pessoas em casa a funcionar. O principal desafio foi as pessoas habituarem-se a um modo de funcionamento um bocadinho diferente”

Quais são os desafios e as oportunidades numa sociedade que experimenta a liberdade de movimentos e que está muito mais bem equipada para a mobilidade?

Rui Gouveia, Enterprise Business Manager Portugal, Lenovo: “Hoje, estamos muito mais preparados para a mobilidade. A pandemia veio, de facto, acelerar a adoção, mas já existiam ferramentas – como a cloud e infraestruturas de redes 5G – que estavam a ser implementadas. As organizações têm o desafio de procurar o equilíbrio entre a área da segurança – que está no top of mind de quem decide –, a flexibilidade que os colaboradores procuram e a produtividade que é determinante para as empresas”

Paulo Amaro, Consulting Services Solutions Architect - Collaboration & Customer Experience, Warpcom

 

Paulo Amaro, Consulting Services Solutions Architect - Collaboration & Customer Experience, Warpcom: “O trabalho híbrido tem alguns desafios e basta percebermos que as próprias organizações precisam de alterar a cultura. Em algumas não é possível ter trabalhadores remotos – como algumas indústrias –, mas, na generalidade, dá. A questão da segurança, da gestão de equipamento e dados, gestão dos recursos – tanto humanos, como equipamentos – são desafios que têm de ser alcançados, mas também tem várias vantagens, como melhor prestação dos colaboradores e redução de custos, por exemplo”

José Rodrigues, IT Key Account Manager, Bravantic: “Podemos dotar os colaboradores com equipamentos que têm baterias mais duradouras, que permitem trabalhar mais tempo fora de casa. Hoje, podemos trabalhar a partir de qualquer local; o trabalho híbrido não significa trabalhar apenas em casa ou no escritório. Temos de dotar os colaboradores com equipamentos que tenham placas 5G para que possam trabalhar em qualquer lugar. Para os fabricantes traz novas oportunidades para aplicar as tecnologias que desenvolvem nos próprios clientes”

Estamos perante um novo paradigma da forma de trabalho, de colaboração e até de educação e aprendizagem em que a pandemia se constituiu como um enabler da transformação. Como vê o futuro da mobilidade e da forma como as empresas podem organizar o trabalho nesta nova realidade?

Abílio Cardoso, U. Portucalense: “A pandemia foi um grande impulsionador para mudarmos para este ambiente e para testarmos, de alguma forma, como seria quer ter as pessoas em casa. Mas também serviu para passarmos a adquirir soluções que contavam com isto de termos uma grande quantidade de pessoas em casa. Uma das implementações que fizemos e que foi de grande utilidade foi quer os alunos, quer os professores, foi não terem informação nos computadores e trabalharem com base nos computadores da universidade”

Ricardo Lopes, HP: “Um dos principais desafios que estamos a sentir é a resistência dos colaboradores no regresso ao escritório, mas também já todos entendemos que não faz sentido obrigar a este regresso. O que estamos a ver muitas organizações a fazer é o recriar o escritório e que o tempo passado no mesmo seja atrativo, seja inovador e não seja visto como uma obrigação. O escritório tem de ser uma experiência daquilo que o colaborador não consegue replicar em casa”

 

Rui Gouveia, Enterprise Business Manager Portugal, Lenovo

Rui Gouveia, Lenovo: “As organizações estão mais conscientes da necessidade para a criação de espaços de trabalho que sejam eficientes para o regresso ao escritório, para este trabalho híbrido, e têm de ser sensíveis às necessidades dos utilizadores. Uma evolução que noto nas organizações é que são mais sensíveis às necessidades dos utilizadores e ao que potencia à sua produtividade, procurando dar resposta a essa necessidade”

Rodolfo Pereira, Noesis: “Falamos muito ou de equipamentos ou de vontades, mas as coisas são feitas de pessoas. Ainda há muita coisa que nos obrigam, nas organizações, a fazer de uma forma tradicional e há espaço para melhorar na digitalização de processos; existe um conjunto de processos que temos vindo a desmaterializar onde o número de interações físicas já é diminuto. Outro ponto são os estilos de liderança porque os colaboradores têm necessidades diferentes e as novas gerações obrigam-nos a repensar a forma como gerimos as pessoas”

A realidade atual potenciou uma transformação em termos de adoção de soluções de workplace e até da forma como se perceciona este mercado por parte das organizações portuguesas. Quais foram as principais aprendizagens deste período e como é que as empresas estão a melhorar estas políticas garantindo que mantêm a produtividade dos seus colaboradores?

Paulo Amaro, Warpcom: “As organizações tiveram de se adaptar muito rapidamente e isso obrigou-as a terem de alterar alguns modelos de gestão e funcionamento. Antes da pandemia, haveria poucas empresas aptas para o trabalho remoto; as empresas portuguesas sempre foram um pouco adversas à adoção de trabalho remoto, ferramentas as-a-Service e mesmo migração para a cloud, mas, neste momento, grande parte das empresas já estão nessa fase”

Abílio Cardoso, Docente e Diretor dos Sistemas de Informação, Universidade Portucalense

 

Abílio Cardoso, U. Portucalense: “Muitas empresas que fazem manutenção na universidade antes tinham de vir cá para instalar software ou resolver problemas. Agora, através de controlo remoto vêem qual é o problema e resolvem-no. Também muitas vezes temos de instalar software nos portáteis dos alunos para trabalhar em casa; até há uns anos, tinham de ir ao help desk para instalar o software e ver o problema que tinham. Hoje, a resolução desses problemas é feita remotamente”

José Rodrigues, Bravantic: “Algumas organizações não estavam preparadas para esta transição nem para adotar soluções de mobilidade. Isso fez com que, no momento, não existisse a necessidade para trabalhar fora do escritório. Esta mudança levou as organizações a adaptarem-se rapidamente. Com esta aprendizagem, as organizações recorreram a parceiros especializados de diversas áreas para lhes implementar melhor as medidas de segurança e redes para trabalharem com a máxima produtividade”

Ricardo Lopes, HP: “O primeiro objetivo é manter a produtividade dos colaboradores – seja em casa ou escritório. O dado novo é que temos de aliar a isto a satisfação do colaborador. A primeira aprendizagem que todos tivemos foi de que a minha casa não é igual à casa do meu colega; todos os profissionais de IT tiveram de estar preparados para estas diferenças, porque nem todos os colaboradores conseguem ter as melhores condições. As soluções de workplace tentam diluir estas lacunas que, individualmente, possa existir”

Numa organização, a gestão eficaz dos dispositivos fisicamente presentes e ligados remotamente é um dos pontos mais importantes. Num mundo híbrido, em que os colaboradores tanto trabalham no escritório clássico como milhões de novos escritórios que nasceram da pandemia. Como é que se faz uma gestão eficaz dos dispositivos fisicamente presentes e os ligados remotamente à rede da organização?

José Rodrigues, Bravantic: “As organizações devem usar ferramentas de MDM, de gestão. Estas ferramentas são importantes porque permite às organizações ter uma gestão eficaz, abordando vários fatores – como rede, aplicações e segurança –, adicionar facilmente um dispositivo à rede, definir que tipo de aplicações é que esse dispositivo ou utilizador pode aceder. Esta é uma das ferramentas mais utilizadas atualmente. A gestão tem de ser controlada e centralizada”

 

Rodolfo Pereira, Diretor de Enterprise Solutions, Noesis

Rodolfo Pereira, Noesis: “Existem algumas ferramentas novas que auditam a forma como os sistemas são utilizados para detetar padrões maliciosos, daquilo que possam ser possíveis ataques. À parte da tecnologia, há uma vertente que temos vindo trabalhar que é uma formação contínua daquilo que é o horizonte de segurança, das responsabilidades inerentes a cada colaborador ou serviço de forma a minimizar esses aspetos”

Rui Gouveia, Lenovo: “Em complemento às ferramentas de EDR, por exemplo, é importante dar formação aos colaboradores. Na parte da gestão do dispositivo, os MDM permitem-nos fazer uma gestão mais eficaz do dispositivo; para além de melhorar a produtividade, traz uma poupança de custos e, concretamente na área da mobilidade, permite-nos fazer uma gestão independente da parte física”

Paulo Amaro, Warpcom: “Existem várias ferramentas – como MDM, ou outras de segurança. Grande parte destas ferramentas são plataformas de cloud que permitem uma agilidade e flexibilidade melhores. Com isto, torna-se bastante fácil gerir os equipamentos remotamente como se estivessem dentro do escritório. O IT tem o trabalho bastante facilitado se tiver as ferramentas adequadas, mesmo para os colaboradores que estejam fora”

Como estão a evoluir os dispositivos para fazer frente a esta nova realidade e ir ao encontro às reais necessidades dos utilizadores?

Ricardo Lopes, HP: “Os dispositivos tiveram de se reinventar nos últimos anos para que o equipamento permita o trabalho remoto, on-site ou onde tiver de ser executado. Para além da óbvia otimização de hardware – que passa pelas webcams com maior resolução ou os ecrãs que se adaptam mais facilmente a um ambiente exterior – há outras inovações mais genéricas: desde logo, os equipamentos têm de permitir uma gestão mais simplificada através de software que entendam os devices em tempo real”

Rui Gouveia, Lenovo: “Temos sempre em mente que, no trabalho remoto, há o desafio da falta de contacto pessoal; somos seres sociais. Os dispositivos têm de tentar minimizar o impacto dessa distância. Por outro lado, têm de proporcionar um balanço – dentro do possível – entre a vida pessoal e profissional, ou seja, ter uma melhor qualidade de vida; se o dispositivo ajudar nesse equilíbrio, melhor ainda. Cada vez mais isso está a ser conseguido”

De que forma é que os decisores de IT estão a ajustar os seus investimentos para se adaptarem aos novos modelos de trabalho remotos e híbridos?

José Rodrigues, IT Key Account Manager, Bravantic

 

José Rodrigues, Bravantic: “Os decisores de IT têm de se adaptar a esta nova realidade. Como tal, procuram equipamentos que os ajudem a facilitar o seu trabalho. É importante obter equipamentos – como webcams e monitores – que melhorem a experiência do colaborador com as ferramentas que já estão à sua disposição. Isto vai traduzir-se numa maior produtividade, numa maior performance, equipamentos com performance elevada para que o utilizador não tenha de andar sempre junto do IT a pedir ajuda e a solicitar intervenções”

Abílio Cardoso, U. Portucalense: “Estamos na altura de fazer orçamentos para o próximo ano e, aqui na universidade, vamos apostar em tecnologias e soluções que permitam que os utilizadores estejam em qualquer lado; não vamos adquirir soluções para o gabinete do professor ou para a sala de aula, mas sim para que os professores e colaboradores possam trabalhar em qualquer lado. Aí, englobamos muito a virtualização e a desmaterialização de processos que é muito importante para a independência do local de trabalho”

Rodolfo Pereira, Noesis: “Aquilo que vemos ao longo dos últimos tempos e as iniciativas que estão a ser lançadas pelos nossos clientes dividem-se em três grandes áreas sem uma ordem específica: a primeira é a segurança; depois, temos a capacitação de organizações que tipicamente faziam a sua atividade maioritariamente física e que investem cada vez mais em omnichannel; e, por fim, as questões relativas à produtividade, movendo muita coisa para a componente móvel”

Paulo Amaro, Warpcom: “Temos notado alguma preferência por tecnologia suportada por cloud e as-a-Service porque permite uma maior flexibilidade e agilidade na aquisição e disponibilização dos serviços, estando disponível tanto no escritório, como em qualquer outra parte do mundo, desde que exista uma ligação à Internet. Também temos assistido a uma evolução e procura por ferramentas de colaboração o mais integradas possível, assim como ferramentas de gestão de recursos”

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