Internacionalização para a Europa: O que não vem “nos manuais”

Internacionalização para a Europa: O que não vem “nos manuais”

Há uma inegável tendência de investimento de empresas internacionais em Portugal, nomeadamente empresas brasileiras. Somos uma delas, e quando a pergunta é - porquê Portugal? – a resposta começa quase sempre com o discurso tradicional: falamos o mesmo idioma

De facto, este ponto em comum desbloqueia de imediato um dos grandes entraves de qualquer processo de internacionalização: a facilidade de comunicação. Mas o facto de todos falarmos português não é sinónimo de “portas abertas” ou sequer de “facilidades”. 

Os processos administrativos e legais, as diferenças culturais, as regras de “boa educação e cordialidade”, a visão de mercado, a confiança, os modelos de trabalho e de negócio e até o próprio conceito de parceria são diferentes. Aliás, existem inúmeras pequenas diferenças que acabam por ter um forte impacto no sucesso dos processos de internacionalização, e que nunca estão contempladas nos business plans. 

Tal como nós estamos a fazer, muitas outras empresas de TI entram no mercado português porque percebem que é mais maduro, valoriza mais os serviços e mostra-se mais recetivo às novas formas de trabalho remotas e ao outsourcing, destacando o contributo que cada parceiro de serviço dá para os projetos. Também valoriza muito o relacionamento pessoal como forma de criar confiança com os parceiros. No mercado brasileiro, por exemplo, estes fatores não são tão considerados, mas por outro lado os tempos de decisão são mais curtos do que em Portugal, o que implica um tempo menor de angariação de clientes.

Portugal e Brasil partilham alguns pontos da cultura de TI, talvez devido à relação histórica que existe entre os dois, e como tal não é, por regra, um obstáculo à internacionalização. Mas tem de haver uma adaptação necessária. A cultura portuguesa é um pouco mais formal que a brasileira. Valoriza uma boa oferta em termos de produto e serviço e a confiança e a credibilidade são basilares para a criação de qualquer parceria.

Portugal está num processo de mudança profundo e está a transformar-se num Centro de Competência e também um “Delivery Center” de serviços de TI para muitas empresas multinacionais de diversos países da Europa e de outras geografias. Este processo tem uma grande necessidade de técnicos com níveis elevados de conhecimento em diversas áreas verticais como o Networking, a Cloud, a Virtualização, a Colaboração, a Cibersegurança e a Gestão de Projetos. 

Perante esta falta de recursos técnicos qualificados em muitas áreas de conhecimento de TI é natural que se criem oportunidades interessantes para profissionais com certificações e experiência. Portugal tem recursos com grande abertura para trabalhar remotamente, tem profissionais altamente qualificados e especializados, com skills (técnicos, linguísticos, etc) acima da média. Mas, tal como acontece em muitos países, estes recursos são poucos para a grande procura que existe. É preciso apostar mais na formação, consolidar equipas que façam de Portugal um lugar ainda mais apetecível dentro da Europa para atrair ainda mais empresas e principalmente mais talento.

A Europa é uma porta aberta para muitos negócios. No velho continente há sempre espaço para mais uma ideia, para mais um produto ou para mais uma solução. As vantagens são muitas, e vão muito para além do clima, da comida ou do turismo. A facilidade em falar outros idiomas, a moeda “forte” ou a capacidade dos recursos humanos e as infraestruturas “state of the art” são apenas alguns dos atrativos que colocam a Europa no radar dos investidores. 

De acordo com os dados do EY European Attractiveness Survey 2022, que avalia anualmente a perceção dos investidores estrangeiros relativamente à atratividade da Europa e dos seus concorrentes, em 2021 foram anunciados 5.877 projetos de investimento direto estrangeiro na Europa, isto é, um valor 5% superior face ao registado em 2020, mas 12% abaixo do máximo observado em 2017. 

Muitos acreditam que o Fundo Europeu de Recuperação e Resiliência terá sido um fator decisivo na decisão de manter ou alargar as operações na Europa, e a verdade é que Portugal surge muito bem posicionado, no 8º lugar do ranking. No ano passado, de acordo com o mesmo estudo, Portugal captou 200 projetos de investimento estrangeiro, o que traduz um aumento de 30% face a 2020. 

Isto mostra que este país está no bom caminho!

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