O que falta ao nosso país não é necessariamente infraestrutura digital, mas antes a literacia para tirar pleno partido da existente
Esta é uma das conclusões da entrevista central deste mês ao presidente da APDC, Rogério Carapuça. E não haverá, atualmente, área da literacia mais relevante para a evolução que as empresas terão de fazer nos novos cenários competitivos do que a literacia dos dados. Não se trata apenas de os utilizadores aprenderem a trabalhar com as aplicações correntes de análise de dados – para além do nível básico das operações de soma ou cálculo de média. Não, será, mais uma vez, na análise e interpretação crítica de resultados numéricos. A parte da interpretação é, por enquanto, das poucas que não podem ser delegadas por inteiro a software, embora algumas aplicações incorporem cada vez mais o suporte de inteligência artificial na cloud para sugerirem caminhos interpretativos aos utilizadores. E esta é, curiosamente, das mais ignoradas em termos dos programas de formação comuns, do que se considera literacia digital. Existe, portanto, um fosso que é fundamental tapar: se por um lado é consensual que as organizações devem conduzir a sua atividade pelos dados, se quiserem ser competitivas num mundo em que os competidores mais fortes têm poderosas capacidades analíticas, e se até estão relativamente estabelecidas as competências de uma equipa de ciência de dados empresarial, por outro, não é de todo consensual qual o grau de literacia de dados que devem ter os restantes níveis da organização, menos ainda como desenvolver esta dita literacia. É tema pouco falado, que gera mais dúvidas do que respostas. E é precisamente pelas dúvidas que devemos começar: uma empresa com défice na literacia de dados, será, a prazo, uma empresa viável? |