A inteligência artificial e o emprego tecnológico: o fim da catástrofe anunciada?

Editorial

A inteligência artificial e o emprego tecnológico: o fim da catástrofe anunciada?

Durante estes dois últimos anos, tem sido vaticinado, com persistência quase litúrgica, o colapso do emprego tecnológico às mãos da inteligência artificial

A previsão, repetida em tom apocalíptico, afirma que os modelos generativos substituiriam os colaboradores das empresas com a mesma eficiência com que geram textos infindáveis. Dados divulgados no mês de junho pela Linux Foundation sugerem, porém, um cenário substancialmente distinto — menos distópico, mais prosaico.

Segundo o relatório 2025 State of Tech Talent, os profissionais que recrutam e formam talento em TI estão, maioritariamente, a assistir a um crescimento líquido do emprego impulsionado pela IA. 35% dos inquiridos referem um aumento dos postos de desenvolvimento de software; apenas 8% observam uma redução. A tendência repete-se nos números globais: um terço das organizações atribui à IA um crescimento do quadro de pessoal, contra 12% que lhe imputam um decréscimo.

Este panorama, no entanto, não é uniformemente benéfico. As funções de níveis de entrada — tradicional ponto de partida para carreiras técnicas — surgem como as mais vulneráveis. Embora 24% dos inquiridos reconheçam um aumento dessas oportunidades, 18% notam o inverso. A substituição de tarefas iniciais por ferramentas automatizadas, embora previsível, não é isenta de consequências estruturais: reduz-se o espaço de aprendizagem informal e compromete-se a renovação orgânica do sector.

Outro dado relevante: mais de metade das organizações espera expandir os seus quadros com funções específicas de IA. O perfil de engenheiro de MLOps (operações em machine learning) emerge como um dos mais citados. Em paralelo, 49% planeiam investir na requalificação interna — não tanto por entusiasmo pedagógico, mas pela escassez crónica de competências especializadas.

Em suma: o trabalho técnico não está a desaparecer, está a deslocar-se. A tragédia prevista não ocorreu — não porque a tecnologia se tenha humanizado, mas porque o mercado, com a sua lentidão peculiar, ainda responde mais à escassez do que ao pânico.

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