A Gartner prevê uma transformação profunda na forma como as decisões empresariais são tomadas, com agentes de inteligência artificial a desempenharem um papel cada vez mais central
Durante o Gartner Data & Analytics Summit, em Sydney, analistas da consultora norte-americana apresentaram as previsões que apontam para uma crescente automatização das decisões empresariais. Até 2027, metade dessas decisões será aumentada ou automatizada por agentes de inteligência artificial, numa tendência que reflete a consolidação da chamada “inteligência de decisão” — conceito que combina dados, análises e Inteligência Artificial (IA) para criar fluxos de decisão mais eficazes. Segundo Carlie Idoine, vice-presidente analista da Gartner, esta transformação não deve ser encarada como uma substituição da inteligência humana, mas como um complemento que requer supervisão, literacia em dados e uma forte componente de governação. “Os agentes de IA não são infalíveis. O seu valor depende de uma aplicação criteriosa, sustentada por gestão de risco e conhecimento humano”, afirmou. Outra previsão destaca que, até 2027, organizações que invistam na literacia em IA dos seus executivos terão um desempenho financeiro 20% superior. A Gartner defende que este grupo deve ser preparado para compreender não só as oportunidades, mas também os riscos e os custos da IA, o que exige abordagens pedagógicas práticas, como o desenvolvimento de protótipos ajustados à realidade do negócio. No entanto, o crescimento acelerado da IA traz novos desafios. Um dos mais críticos é a gestão de dados sintéticos — recurso usado para treinar modelos de IA que respeitem a privacidade dos dados reais. A Gartner alerta que 60% dos líderes de dados e análises enfrentarão, até 2027, falhas graves nesse campo, com impacto direto na precisão dos modelos, na conformidade e na integridade dos processos de decisão. Modelos próprios e semântica aprimorada como estratégia de futuroA consultora prevê também uma mudança na forma como os modelos de IA generativa (GenAI) são desenvolvidos: até 2028, 30% dos projetos de IA generativa em escala serão construídos internamente, e não baseados em soluções comerciais. Esta abordagem permite maior controlo e redução de custos, desde que suportada por uma estratégia clara de decisão entre construir ou comprar, e por equipas com competências técnicas adequadas. Por fim, a Gartner sublinha a importância da semântica na qualidade dos dados utilizados por IA, sendo que uma má interpretação de contextos pode aumentar erros e custos operacionais. Organizações que priorizem a gestão semântica e metadados ativos poderão melhorar em 80% a precisão dos seus modelos IA generativa e, assim, reduzir os custos em até 60%. Esta melhoria nos dados possibilita decisões mais rápidas, inteligentes e com menor risco. O relatório da Gartner aponta para um futuro em que a IA será não apenas uma ferramenta de suporte, mas uma participante ativa e estratégica no processo de decisão empresarial. Contudo, o sucesso dessa integração dependerá, em larga medida, da maturidade organizacional em torno da governança de dados, da capacitação dos decisores e da capacidade de adaptação às exigências tecnológicas emergentes. |