Web Summit 2023

Web Summit: “A IA é uma matéria-prima para todos usarmos da maneira que queremos, para construir em cima”

Cassie Kozyrkov, CEO do Data Scientific, explicou como os humanos devem tirar proveito da IA como ferramenta. Áreas criativas vão continuar a necessitar de indivíduos para definir o caminho e o resultado final

Web Summit: “A IA é uma matéria-prima para todos usarmos da maneira que queremos, para construir em cima”

Com o desenvolvimento da inteligência artificial, em especial a inteligência artificial generativa, o futuro do trabalho tem merecido especial atenção, nomeadamente no potencial que estas tecnologias trazem aos trabalhos e à própria forma de trabalhar.

Cassie Kozyrkov, CEO do Data Scientific, levou até ao palco principal da Web Summit a discussão sobre quais as áreas que, de futuro, deverão manter-se 100% humanizadas.

No atual contexto da inteligência artificial, Cassie Kozyrkov apresenta dois tipos diferentes desta tecnologia: a IA generativa e a IA discriminativa. A primeira, mais antiga, tem como objetivo obter uma resposta certa, aplicar um determinado rótulo; no caso da IA generativa funciona hoje como um “fake maker”, criando “exemplares plausíveis” de determinada categoria através da aprendizagem de distribuição e da simulação da mesma.

Cassie Kozyrkov coloca o ser humano como um indivíduo que está a tirar proveito da IA como uma ferramenta, uma vez que “nos casos em que a IA tem um papel criativo, seja uma música, uma pintura ou algum copy escrito”, é o humano quem está realmente a decidir sobre a forma como quer que a tecnologia o faça. Como exemplo, a CEO recorda a obra de arte Fonte, de Marcel Duchamp, de 1917, para explicar que os créditos pertencem, neste caso, ao artista e não à empresa que produziu o famoso urinol.

É a partir deste exemplo que a oradora introduz um novo conceito: o ‘thunking’, oposto ao ‘thinking’. “Em muitas tarefas existe uma componente de pensamento e uma componente de ação. A parte do pensamento é compreender o porquê, o que precisa de acontecer, descobrir o que gostariam de ver no mundo, qual o aspeto da solução”, explica Cassie Kozyrkov que, em oposição, sugere o 'thunking' como uma “parte de execução sem sentido”.

“Os sistemas de IA não pensam. Eles não pensam por nós”, relembra, considerando que, independentemente do processo, “o pensamento permanece 100% humano”.

“Hoje, a IA é uma matéria-prima para todos usarmos da maneira que queremos, para construir em cima. Esta é uma oportunidade sem precedentes para a criatividade”, uma vez que permite testar e transformar, uma oportunidade que não existia com a IA discriminativa. Exemplos de tecnologias generativas como o ChatGPT permitem obter os resultados esperados e utilizá-los de forma livre, naquela que Cassie considera como “uma revolução sem precedentes na experiência do utilizador”.

A CEO aponta para duas grandes utilizações para estas tecnologias: a primeira está relacionada com as ferramentas de produtividade pessoal, um modelo “human-in-the-loop”, onde o utilizador assume responsabilidade pelos seus resultados, trabalhando com a tecnologia para evoluir. Do outro lado, a enterprise automation implica retirar o ser humano do circuito e confiar num sistema de software que deve ser testado, principalmente nesta fase em que as tecnologias generativas avançam, mas são poucos os procedimentos para testar estes sistemas.

A importância da realização de testes ao sistema está também intimamente ligada ao contexto: “Independentemente de funcionar numa determinada situação não significa que continue a funcionar noutra”, reforça a oradora, que alerta também para a possível mudança ao nível do funcionamento no decorrer do tempo.

No caso de se começar a “automatizar e a escalar sem um ser humano no circuito com este tipo de sistemas, é necessário saber se ainda estão a funcionar, o que é que é necessário para que funcionem, sendo necessário continuar a testar, verificar, monitorizar e manter”.

Os humanos ainda têm uma palavra a dizer

Apesar da aceleração da automatização, os sistemas não serão capazes de decidir em nome dos seus utilizadores. Áreas como o design vão manter-se, com a melhoria das ferramentas que vão contribuir para facilitar o trabalho. “Hoje quando falamos de empregos e de empregos a desaparecer, estamos a imaginar que a atividade económica é estática e que todas as nossas preocupações atuais são as únicas que vamos ter. Mas imaginemos um mundo em que a automatização acelera, mas há mais coisas a acontecer. Mais pessoas têm a sua criatividade desbloqueada porque não têm de mexer em ferramentas incómodas; há mais coisas a acontecer, estamos a construir mais, estamos a inventar mais coisas, haverá mais desafios e oportunidades. Tudo vai acontecer a um ritmo mais rápido. Para reagir a tudo isso, talvez precisemos de mais mão de obra, não menos. Mas só o tempo o dirá”, remata a CEO. 

Características como as competências interpessoais e a comunicação tendem a aumentar, acrescenta Cassie, que olha para a resolução de problemas como “uma ferramenta”. Para além da adaptabilidade, a confiança e a colaboração devem ser fomentadas num mundo em constante mudança, uma vez que continuarão a ser tratadas de forma 100% humana.

“Acredito que haverá muito para todos nós fazermos. Haverá doenças para curar. Haverá alterações climáticas para resolver. Haverá invenções para fazer. Haverá todo um futuro para construir. E precisaremos do melhor de nós ao longo de tudo isto. Não vamos sair de moda. Estas competências estarão sempre presentes”, conclui Cassie Kozyrkov.

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