Mobilidade: quem não lhe obedecer fica para trás

Do lazer ao trabalho corporativo, ou na ténue linha que por vezes os divide, é inegável a necessidade de conversar sobre um paradigma que se altera à mesma velocidade das tecnologias que o suportam, e não à velocidade da vontade das empresas. Alcatel Lucent-Enterprise, Noesis, Softinsa, Softfinança, Unipartner e Universidade Católica participaram na mesa redonda da IT Insight dedicado à Mobilidade e deixaram claro o papel facilitador da tecnologia na adoção de soluções móveis

Mobilidade: quem não lhe obedecer fica para trás

A adoção de soluções de mobilidade ao nível empresarial é um desafio à escala da própria empresa e da sua capacidade de modernização. Conversar sobre soluções móveis a nível corporativo é conversar sobre um ambiente heterogéneo, sobre desigualdades e assimetrias, ou sobre as diferenças geracionais, mas sempre lembrando que esta é uma realidade que as organizações não podem contornar.

Mobilidade - de que tipo e para quê?

“A visão que eu consigo dar é a visão que tenho na universidade”, começa por dizer João Ribeiro da Costa, Head of Digital Transformation na Universidade Católica Portuguesa. “Contactamos com imensas empresas e o que constatamos é que há uma tendência absolutamente clara para a adoção de soluções móveis. Nos alunos mais novos nem há alternativa. Aliás, é curiosíssimo ver a diferença geracional”, acrescenta o docente, que afirma ainda que “para os alunos mais novos o smartphone não é só um smartphone”, “eles seguem as aulas e os PDF das aulas nos smartphones”, tendo-se transformado numa ferramenta de trabalho essencial no meio académico.

João Ribeiro da Costa acredita que a tendência não é igual em todo o lado: “nas empresas varia imenso” e ainda existe “um número completamente despropositado de desktops”, na opinião do professor da Universidade Católica. Além disto, o responsável assinala que “todos os professores usam soluções Dropbox e semelhantes do ponto de vista organizacional” na disponibilização de materiais aos alunos e em outras tarefas. A mobilidade encontra aqui um equilíbrio natural, que tem evoluído favoravelmente, embora se admita ter existido “uma fase em que a vasta maioria dos colegas [professores] achavam negativo os alunos usarem smartphones”, mas “gradualmente começaram a perceber que era completamente inevitável e atualmente passaram a ser o instrumento usado nas aulas”.

Se no meio académico é clara a assimilação destas práticas no quotidiano, simultaneamente do lado do docente e do estudante, as empresas também encontram um grau de assimilação, maior ou menor, mas invariavelmente existente – quer queiram ou não.

“Mais do que uma trend, é uma necessidade”, clarifica Pedro Araújo, Modern Workplace & Security Leader na Unipartner, que acredita que a evolução das soluções móveis tem sido “muito impulsionada não só pela otimização do tempo, mas também pelas novas gerações”, tratando-se de “uma necessidade recorrente e que gera cada vez mais pressão nos clientes e nas empresas”. Luís Coelho, Pre-sales & Business Developer na Alcatel Lucent-Enterprise, diz que a resposta à pressão se tem traduzido em investimento: “as empresas estão a investir, a procurar disponibilizar aos seus colaboradores formas de conectividade móvel, e principalmente fora da empresa”.

O Mobility & Digital Workplace Solutions Architect da Softinsa, João Paulo Ferreira, concorda que se “nota alguma preocupação em termos de estratégia de implementação de soluções de mobilidade”, mas que isto é visível sobretudo “nas empresas mais próximas do IT”, havendo uma disparidade considerável na implementação da estratégia de mobilidade. João Paulo Ferreira acredita mesmo que “na maioria das organizações” essa sensibilidade não existe e, onde ela existe, “é mais uma reatividade por parte das empresas do que uma proatividade na estruturação de uma estratégia verdadeira de mobilidade”. “São os colaboradores o principal motor das mudanças nas organizações, continuam a ser os millennials a empurrar as organizações”, e por isso é preciso serem as empresas a adaptarem-se a eles.

Rodolfo Luís Pereira, Diretor de Enterprise Solutions da Noesis, corrobora a urgência de adaptação com números: “a Noesis tem cerca de 850 colaboradores, 50 a 60% trabalha de forma deslocalizada ou em clientes outsourcing, mas aquilo que vemos nos últimos três anos, até mesmo para efeito de atração de colaboradores, é que as pessoas mais jovens já não trabalham de outra forma”. “Eu próprio”, continua Rodolfo Luís Pereira, “cheguei à conclusão que à volta de 30 a 40% do meu trabalho é feito via mobile”. Além disso, na Noesis já “ninguém trabalha com desktops”, garante.

Luís Teodoro, Administrador da Softfinança, sublinha que a mobilidade em ambiente empresarial é um cenário irreversível, mas lembra que o setor financeiro não se adapta de forma inata a soluções pouco conservadoras, pela própria natureza de uma indústria que é especialmente sensível e fechada sobre si mesma em prol da segurança dos dados. “O setor financeiro é tipicamente dinâmico, mas resiste na adoção de soluções verdadeiramente mobile”, e na banca “o único caso bem-sucedido em Portugal, de mobilidade total, é o da Sonae com o cartão Universo”, segundo o administrador da Softfinança. Na adoção de soluções móveis, o facto de ser necessário um protocolo que obriga a “ter de ir à sucursal assinar”, por exemplo, pode tornar obsoleta a simplificação do processo até aí. “É um processo que ainda nos vai dar muito trabalho”, conclui Luís Teodoro.

A segurança como barreira

“O facto de as organizações terem, na sua grande maioria, ausência de estratégia, acaba por abrir brechas de segurança”, reitera João Paulo Ferreira, e “em vez de se pôr nas mãos dos colaboradores a utilização de determinadas ferramentas, [as empresas] deveriam estar preocupadas em escolher as ferramentas que melhor servem os objetivos da organização e as necessidades dos colaboradores”, acrescenta. “Do ponto de vista da segurança, os colaboradores são uma das brechas, são pontos permeáveis”, já que estes “começam a utilizar as suas próprias ferramentas para fazer face a necessidades que sentem no âmbito profissional”, “mas isso não se pode tornar numa obsessão”, assinala o responsável da Softinsa, sublinhando a importância de uma estratégia eficiente e a necessidade de “investir na formação das pessoas, na utilização correta do ambiente empresarial”. Não havendo “nada eficaz a 100%”, há muito que se pode fazer, acredita.

“O negócio pede, mas... como é que eu vou conseguir fazer esta transição de forma segura?” - a Unipartner questiona, acreditando existirem dois perímetros de segurança: “o perímetro da validação de identidade e o perímetro do serviço propriamente dito”. Este último representa “um desafio muito grande e um custo de adaptação normalmente grande”. Desta forma, “o que muitas vezes facilita os processos é a transição para serviços SaaS, que realmente disponibilizam esta primeira barreira de proteção do serviço de uma forma muito madura”, afirma Pedro Araújo, que lembra que, por outro lado, “quando olhamos para o perímetro da segurança ao nível da identidade, aí já depende das próprias organizações”. É aconselhável, neste espetro, “uma perspetiva de proteção mais analítica, análise de padrões de acesso, padrões de consumo dos serviços, padrões desviantes que vão despoletar mecanismos automáticos de alerta” e começa a ver-se “as organizações a olharem para este paradigma muito devido ao SaaS e à segurança que estes serviços já trazem de base”, “não tendo de redesenhar toda a aplicação”. Será importante “ir segmentando a libertação de serviços” e “deixar amadurecer” a tecnologia para utilização nos “serviços mais críticos”, remata Pedro Araújo.

Do lado da Softfinança, Luís Teodoro admite que estão “mais habituados a definir padrões de segurança quando o ambiente de trabalho está no perímetro físico da organização do que quando está fora desse perímetro”. “Se eu estou completamente deslocalizado começa logo o primeiro desafio: como é que eu sei que aquele colaborador é de facto colaborador?”, questiona. A resposta pode estar na “adoção de padrões de segurança biométricos associados aos dispositivos”.

Além disto, “o setor financeiro obriga muitas vezes a que os dados estejam fisicamente no país da organização, o que à partida torna o processo mais complicado”. No caso das fintech, que “já nasceram num paradigma diferente”, no momento em que selecionam parceiros “já o fazem com a preocupação de darem estas respostas”, estando em vantagem em relação à banca convencional.

Até no ambiente da Universidade Católica o perímetro físico é importante. Diz João Ribeira da Costa que ainda se adotam “soluções conservadoras para garantir que fora do perímetro da universidade não é possível aceder diretamente aos sistemas centrais”.

A Noesis admite que a segurança é entendida como “um entrave a questões de mobilidade”, mas que os clientes são, por vezes, “mais papistas que o Papa”. “Tem de haver uma aposta do lado da tecnologia, mas nunca pode estar desassociada das pessoas e do comportamento” e as questões "cíclicas" devem estar incluídas nas preocupações das organizações. Passar “diretamente para as-a-Service” sem “acautelar os hábitos dos colaboradores” e sem pensar no “trinómio pessoas-processos-tecnologia” é um erro, e Rodolfo Luís Pereira indica que o foco é “muitas vezes na tecnologia e esquecem- se dos outros dois lados da conversa”. É necessária “a sedimentação de processos, de formas de olhar para como as coisas são feitas”, e “não apenas transpor uma aplicação que antes estava on prem e agora queremos pôr na cloud”. De resto, a Noesis é assertiva ao dizer que “o ambiente em cloud é hoje mais seguro do que o ambiente on prem”.

Wi-Fi 6 e 5G - apenas hype ou importância real?

Os standards existentes já são suficientes para uma infinidade de processos que não seriam possíveis com as gerações anteriores de redes móveis, mas, à medida que o volume de dados vai escalando, é preciso pensar além. Prova disso é que a investigação sobre o 6G já está em marcha, ainda o 5G se encontra na fase inicial de comercialização. Começando pelo básico, e pegando numa intervenção de João Ribeiro da Costa - “as maiores queixas que temos na Universidade Católica são quando o Wi-Fi deixa de funcionar” -, não são precisas mais evidências de que as redes móveis fazem parte da ‘paisagem’ do mundo atual. E em relação às próximas gerações de rede? Que mudanças esperar?

A Alcatel Lucent-Enterprise vê que “há algum interesse” nas redes de nova geração – Wi-Fi 6 e 5G - e entende que as duas “são complementares, têm áreas de instalação e coberturas geográficas diferentes” e o impacto sentir-se-á pelo aumento da largura de banda, ampliando-se a capacidade de ligação de “múltiplos utilizadores em simultâneo”, “algo que vai acelerar em 2020”.

A Softinsa mostra reservas sobre se se trata de uma “revolução tecnológica”, acreditando que “não é diferente do que já aconteceu antes”. João Paulo Ferreira releva a maior “capacidade de dados”, mas lembra que o mesmo aconteceu no passado; no entanto, “há aqui se calhar uma ligeira diferença que é o ritmo a que a produção de dados hoje acontece”, mais acelerado do que nunca, exponencial, adequado ao “salto que podemos ter em termos da capacidade de transmissão”. “É um ciclo virtuoso que é, no fundo, a tecnologia a trabalhar para a tecnologia”, refere o responsável, acrescentando que “a nossa vida não vai ficar mais fácil” e que em breve estas redes de nova geração também terão parca capacidade para o fenómeno de crescimento.

Rodolfo Luís Pereira admite que com o Wi-Fi 6 e o 5G surgem “algumas possibilidades pelo facto de podermos conectar mais dispositivos e é provável que haja um boom do IoT”. O consumidor final será o maior beneficiário destas tecnologias, mas não é possível esquecer que ainda “há muitos cenários em que estamos presos a um 3G” e ao mesmo tempo fala-se no 5G. A “componente de realidade virtual” também deverá ser favorecida, acredita a Noesis, mas ainda “estamos na fase do ‘ser sexy’” e “não deve vir a ser assim tão diferenciado no dia-a-dia”.

Das operações em que o consumo de dados se necessita mais rápido, a Softfinança destaca o papel do Wi-Fi 6 e 5G na possibilidade de entregar conteúdo em vídeo com mais eficiência: “os nossos clientes já não querem explicações em texto, querem vídeos”, afirma Luís Teodoro, e a nova geração de Internet poderá ajudar no processo de “consolidar este conceito da imagem”. “O IoT nas funções domésticas ou na indústria” também se alterará para melhor, acredita.

Pedro Araújo acrescenta que a incapacidade das redes atuais se manifestaria em breve, face à explosão de dados: “mais dois, três anos, e estaríamos completamente estrangulados” devido ao volume de informação.

Começar do zero ou adaptar o que já existe?

A Softinsa diz continuar “a sentir que as empresas não pensam à partida na questão da mobilidade”, mas ao mesmo tempo “começam a ter atenção quando desenvolvem uma aplicação, de forma a ser compatível com o maior número de dispositivos possível”. João Paulo Ferreira acredita que “para dentro”, e na disponibilização de ferramentas aos colaboradores, “ainda não está no ADN das empresas desenvolverem as suas aplicações de negócio internas com a mobilidade em mente”, e aponta que “as empresas deviam ver estas estratégias como um fator de motivação para os colaboradores”, assentando o conceito de mobilidade num “ecossistema motivacional” dentro da organização. O Mobility & Digital Workplace Solutions Architect da Softinsa lembra que, quando começou “na informática”, “pensava sempre que a empresa” lhe dava “melhores devices do que os que tinha em casa, e hoje em dia é ao contrário”.

A Noesis lança uma ideia similar: “colocamos os nossos clientes na vanguarda da transformação digital e depois olhamos para a nossa casa [empresas] e não é bem assim”. “Quando não disponibilizamos” as ferramentas adequadas “aos nossos colaboradores, eles escolhem outras rotas”, e a sugestão de Rodolfo Luís Pereira passa por, por exemplo, “disponibilizar serviços críticos ao colaborador, como o registo das horas”, de forma móvel.

No setor financeiro, diz Luís Teodoro, já se “assistiu a uma separação do que é core e do que são camadas de acesso dos utilizadores” e agora “o desafio mais complexo é transformar o legacy em novas aplicações, porque a indústria é lenta e porque o suporte é lento”. A Unipartner concorda, “seria a loucura transformar uma aplicação core no setor bancário, por exemplo” e a estratégia começa por ser a possibilidade de “usar aplicações SaaS, que fazem o empowerment dos próprios colaboradores (...) de uma forma muito ágil, um colaborador consegue rapidamente transformar os processos” e isto, “na prática”, “vai-se traduzir num benefício direto para a organização e para o colaborador”.

No que toca ao setor financeiro, o telemóvel está a transformar- se no “centro nevrálgico da comunicação”, refere o Administrador da Softfinança, e “hoje em dia, se nos esquecermos, já não voltamos a casa para ir buscar a carteira, mas vamos buscar o telemóvel”, ao mesmo tempo que os “movimentos cashless” ganham popularidade no mercado.

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