Atualmente, tendemos a associar os termos “tecnologia” e “inovação” aos correntes dispositivos, invenções e outros avanços do século XXI, mas a verdade é que não é novidade que o ser humano procure criar e reinventar-se para melhorar a sua qualidade de vida
Basta olhar aliás para os nossos antepassados e constatamos que a humanidade sempre procurou usar o seu engenho para inovar e desenvolver novas estratégias, que facilitassem a sua existência. E agora, desde há uns anos para cá, temos a tecnologia, cujo potencial ultrapassa fronteiras. Hoje em dia sabemos que tecnologia é sinónimo de inovação, criatividade e transformação, e, ao longo do tempo, temos vindo a aprender a utilizá-la para resolver milhares de problemas que enfrentamos como sociedade. A inteligência artificial (IA), o machine learning ou, mais recentemente, grandes modelos de linguagem, estão a ser usados não só para simplificarem a nossa vida mas principalmente para ultrapassar obstáculos e resolver problemas em setores tão diversos como o comércio, a logística, os transportes e outros mais sociais como a saúde, a educação ou outros serviços públicos. Usar a analítica avançada para ajudar a humanidade é algo que já se faz, encaixando-se na chamada “Inovação Responsável”, que unifica o conceito de Inovação Social, o processo de desenvolvimento e implementação de soluções eficazes para problemas sociais e ambientais em apoio ao progresso, juntamente com o compromisso da utilização da inovação de forma ética, justa e sustentável. Há exemplos de projetos implementados como o caso do Hospital de São Francisco Xavier (HSFX) em Lisboa, que assenta no desenvolvimento de um modelo que integra e analisa dados de diversas fontes com base em ferramentas de IA. Este modelo otimiza o diagnóstico e intervenção precoce da sepse neonatal, tratando os bebés a tempo e reduzindo potenciais sequelas e, na maioria dos casos, salvando mesmo a vida desses recém-nascidos. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) é outro exemplo, que utiliza esta tecnologia para a inclusão de pessoas com estatuto de refugiado. Neste caso, o poder proporcionado pela análise de dados em tempo real permite gerir a informação sobre indivíduos de todas as idades, para garantir o seu acesso a bens e serviços, empregos ou ajuda financeira. Não devemos esquecer também dois agentes fundamentais capazes de gerar impacto positivo a nível social: as organizações governamentais e as administrações públicas. Sendo que estas estão também a tirar partido da inteligência artificial e da analítica avançada para melhorar os serviços aos cidadãos, a segurança e a cibersegurança, as previsões e o planeamento de tendências económicas, a identificação de irregularidades ou violações de direitos, entre muitas outras questões. Outro aspeto a realçar é a importância das grandes empresas e multinacionais aproveitarem o enorme potencial da sua tecnologia para benefício social. Estas empresas possuem recursos, alcance global e conhecimento técnico que lhes conferem bastante poder e responsabilidade na sociedade. Neste sentido, penso que a colaboração entre os sectores privado e público, visando a resolução de desafios globais, pode levar a avanços significativos em áreas como a luta contra as alterações climáticas, a erradicação de doenças, a educação acessível ou a redução das desigualdades. Quando as empresas se comprometem com o progresso, também fortalecem a sua reputação, constroem a confiança dos consumidores e têm um impacto positivo nos seus resultados financeiros a longo prazo e na sustentabilidade como entidade. Uma coisa é certa… a tecnologia e a inovação conseguem ajudar-nos a construir uma sociedade mais interligada, sustentável, produtiva e capaz de uma melhor convivência. Devido à nossa natureza comunitária, construímos pequenas e grandes civilizações para partilhar entre nós milhões de conhecimentos que nos têm ajudado continuamente a crescer em múltiplas direções. Esta é uma característica que ainda mantemos nas nossas vidas e que não devemos deixar que desapareça: comprometermo-nos com um futuro onde todos possamos desfrutar do mesmo objetivo que é o bem comum. A Inovação Responsável segue esta premissa: o compromisso com as pessoas e o seu bem-estar, com as questões sociais e ambientais, com o crescimento sustentável. Há que ter presente que as organizações têm de conseguir destacar-se num mercado muitíssimo competitivo, evolutivo e imprevisível, no entanto há que integrar sempre as práticas éticas e sustentáveis na sua atividade e estratégia. |