Não apenas mais uma bolha

Editorial

Não apenas mais uma bolha

Todas as semanas, para não dizer todos os dias, surgem notícias sobre investimentos cada vez mais avultados na construção de data centers para aplicações de IA, que levam, no extremo, a possíveis comparações com o que aconteceu no final dos anos noventa, na altura do pico e da queda das ditas “dot-com”

Nessa altura, já no início do novo milénio, a implosão especulativa deixou atrás de si muitas empresas encerradas; por outro lado, ficaram quilómetros de fibra ótica, cabos e equipamentos que, embora subutilizados durante anos, vieram a tornar-se a base material da Internet global. O capital dos investidores sofreu um golpe violento, mas a infraestrutura permaneceu — e foi esse resíduo que permitiu a maturação seguinte.

Hoje, a situação é outra. O núcleo dos investimentos concentra-se em GPU cuja depreciação tecnológica é vertiginosa. O valor dilui-se quando surge a geração seguinte de processadores gráficos, o que acontece anualmente. Quando a procura falhar ou estabilizar, não restará uma rede duradoura, mas antes armazéns cheios de máquinas que correm o risco de ficar rapidamente obsoletas. Ainda assim, não é certo que tudo se dissipe. A infraestrutura energética criada para alimentar estes centros pode ser reconvertida; a pressão sobre a indústria de semicondutores tem vindo a acelerar a inovação em fabrico e design, ganhos que dificilmente se perdem. O que sobra pode não ser tão tangível quanto a fibra dos anos dois mil, mas poderá abrir caminhos imprevistos.

Se a história da tecnologia ensina alguma coisa, é que o excesso deixa sempre marcas. O desafio está em transformá-las em alicerces, e não apenas em memória de desperdício.

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IT INSIGHT Nº 57 Setembro 2025

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