A tecnologia como uma peça no puzzle da inovação

Na nossa sociedade digital, qualquer avanço tecnológico acaba por ser considerado como inovação - e algo que nos levará ao progresso. Há medida que a tecnologia que temos melhora e que os processos de criação se tornam mais sofisticados, temos dificuldade em separar os dois conceitos. Mas a verdade é que a tecnologia é a parte mais simples dos complexos problemas que enfrentaremos nos próximos anos.

Como atividade humana, a tecnologia antecede tanto a ciência como a engenharia, sendo definida como a concretização da nossa capacidade de produzir resultados práticos por desenhar ferramentas, máquinas e procedimentos que simplifiquem o processo de resolver problemas. Neste sentido, a mais simples forma de tecnologia é o desenvolvimento e utilização básica de ferramentas, como é caso do controlo do fogo em tempos pré-históricos.

Tendo em conta esta clarificação, a realidade é que qualquer um pode criar tecnologia, mas nem todos criam soluções tecnológicas que as pessoas querem usar. Por isso, para um inovador, é importante compreender como é que a tecnologia se interrelaciona com a vida, a sociedade e o ambiente.

De modo a criar soluções úteis, é necessário saber identificar lacunas em qualquer dos tipos de inovação: enquanto a humanidade aperfeiçoava o processo de tornar os negócios eficientes, acabou por ignorar a razão pela qual grandes inventores seguiram as suas paixões – a necessidade humana. Sem uma compreensão de como criar soluções que são realmente necessárias, continuaremos a construir tecnologia pouco user-friendly.

Neste seguimento, apesar de inovação ser frequentemente equiparada a tecnologia, rapidamente compreendemos que a tecnologia é a apenas um dos resultados da inovação. Inovar significa ser inventivo e criativo na resolução de problemas, e isso pode passar por criar tecnologia, mas também por identificar as tais lacunas de necessidade para a depois poder aplicar.

Mas, apesarem de não ser conceitos sinónimos, estão intimamente relacionados aquando da criação de tecnologias que impulsionam a humanidade para o futuro. Assim, podemos questionar: quais são os fatores que impulsionam a inovação que está por detrás da criação de tecnologias bem-sucedidas?

1. Divergência: É fácil e comum para as empresas ficarem presas nos mesmos ângulos, processos ou na utilização das mesmas ferramentas – sejam elas pragmáticas ou mentais. A divergência permite-nos virar um problema ou questão de modo a encontrar abordagens e soluções distintas, que não considerámos anteriormente.
2. Curiosidade: Indivíduos curiosos têm maior probabilidade de encontrar soluções ou novas ideias. Neste sentido, a inovação é baseada em constantemente questionar a realidade, encontrando oportunidades e evitando ficar complacente. Existem ecossistemas, como Israel e a Escandinávia, que fomentam desde a escolaridade um grande sentimento de procura e uma grande abertura à curiosidade. Não é coincidência que estes locais acabam por ser polos de inovação tão ricos.
3. Resiliência: Para qualquer inovação, é necessário testar e reiterar frequentemente. Os testes podem trazer falhanço, mas o mesmo deve ser visto como uma oportunidade de aprendizagem. A resiliência para continuar a idear, experimentar e falhar é chave para a inovação.

Desta forma, a tecnologia não é mais do que uma peça no puzzle da inovação e para que as empresas tecnológicas tirem máximo proveito das suas estratégias e produtos, é necessário que se desassociem os conceitos e que passem a ter em conta que para criar uma estratégia de inovação eficaz é também necessário identificar as lacunas nos campos a impactar, para que criemos uma inovativa e completa cultura empresarial.

por Fabio Rodriguez, Country Manager da OrCam Technologies em Portugal e Espanha