A IA esperava pela maturidade da cloud para se revelar em pleno

Sem dúvida que o referido investimento deve contemplar também muitas horas de tempo de computação, de uso de aceleradores gráficos e de armazenamento, para permitir que a OpenAI continue a atualizar os seus modelos e disponibilizar um nível de serviço conveniente ao elevado número de utilizadores que a eles acedem. É impossível pensar no aparecimento de algo que atinge rapidamente tal grau de popularidade sem a associar à escalabilidade da cloud atual.

De certa forma, e caso a cloud precisasse ainda de um serviço emblemático, de um porta-estandarte, IA poderá ser o mais emblemático e demonstrativo até hoje. Sem cloud, isto é, apenas com recurso a infraestruturas próprias, seria inteiramente inviável a uma startup, ainda que com financiadores com bolsos fundos, lançar um serviço que atingisse tal divulgação no escasso espaço de semanas. Mas não se trata apenas da escalabilidade, ou do treino dos modelos. Trata-se antes de uma conjugação de fatores que inclui a integração de atualizações rápidas que, mais uma vez, a cloud possibilita a entidades ainda em fase emergente. Os caminhos percorridos pelos chatbots avançados são tão sujeitos a escrutínio, potencialmente tão destruidores de reputações, que apenas uma capacidade de mudar rapidamente de agulha permite evitar males maiores (vejam-se os avanços e recuos da Microsoft com o Bing).

Não há casamentos eternos – e, decerto, a conjugação da IA com a cloud não o será também – mas há pelo menos, neste caso, um ponto de partida identificado. Sem cloud, o ChatGPT e seus sucessores seriam apenas produtos de utilização laboratorial. Ora essa visão de IA, que sempre existiu como promessa adiada, já tardava em mudar de estado. Mudou finalmente, e não será exagero dizer que, doravante, nada se assemelhará ao antes.