Onde investir em 2024?

2024 está à porta e é altura de olhar para os orçamentos do próximo ano. A jornada de transformação digital das organizações continua e é preciso fazer os investimentos certos para não ficar para trás

Onde investir em 2024?

Esta é a altura de preparar os orçamentos. Um pouco por todo o lado, as organizações começam a olhar para as suas perspetivas para o novo ano, o que se espera receber dos seus negócios e, também, onde se vai gastar o dinheiro.

A tecnologia evolui a um ritmo alucinante. Basta pensar que, há um ano, poucos falavam de inteligência artificial generativa e, agora, não há quem não fale e olhe para a tecnologia. Fazer os investimentos certos é uma necessidade para qualquer organização.

É certo que cada empresa é uma empresa, cada setor tem a sua especificidade, mas há tecnologias e soluções que são necessárias para qualquer organização. Olhar para o que aí vem, antecipar-se e preparar o orçamento para permitir fazer investimento tem de estar na agenda.

Tendências tecnológicas

Tendências há muitas, mas nem todas têm o mesmo grau de promessa quando aplicadas às organizações. É preciso separar o trigo do joio e perceber o que faz sentido para cada organização, para cada negócio.

Alexandre Ruas, Executive Director da Claranet Portugal, relembra que “vivemos tempos muito desafiantes a nível social, geográfico, político e económico” e que, “mais do que tecnologia”, as empresas se devem preparar “para responder de forma holística” ao que acontece no mercado.

“A maior preocupação dos decisores passa por, através do digital, proteger os investimentos já realizados, disponibilizar tecnologia acessível e capacitar os colaboradores de forma a impulsionar a criação de soluções que vão ao encontro dos requisitos do negócio”, diz Alexandre Ruas, baseando-se nas tendências indicadas pela Gartner. Esta preocupação, acrescenta, “passa ainda por ajustar toda a operação, desde o produto à entrega, oferecendo melhor perceção de valor e garantindo diferenciação na experiência proporcionada”.

No entanto, do lado da tecnologia, o Executive Director da Claranet Portugal destaca soluções como “Intelligent Security Management, que contribui para diminuir o risco de exposição e elevar a capacidade de deteção de ameaças, ou de Platform Engineering, cujo principal objetivo passa por criar e gerir infraestruturas e sistemas de forma que várias aplicações e serviços sejam orquestrados e disponibilizados, nomeadamente em ambientes complexos e híbridos”. Ao mesmo tempo, diz, 2024 será “o ano da efetiva afirmação e democratização das tecnologias de Generative AI” e “há que contar com o desenvolvimento aplicacional, nomeadamente low-code/no-code e soluções cloud”.

Rui Gonçalves, Partner de Advisory da KPMG Portugal, indica que, de acordo com o Global Tech Report 2023 da KPMG, “as organizações estão claramente a apostar nas tecnologias emergentes. Este ano 38% dos executivos que entrevistámos indicou que obteve buy-in para investir em tecnologias emergentes, face a 10% em 2022. Contribui para esta métrica o facto de 63% dos executivos com quem falámos terem reportado um aumento no desempenho e rentabilidade das suas organizações como resultado dos seus programas de transformação digital nos últimos 24 meses”. Segundo o mesmo relatório da KPMG, no topo da lista de investimentos estão tecnologias como IA generativa, low-code, dados e analítica, cloud pública e tecnologias de everything, ou anything, as-a-Service. Estas apostas, diz Rui Gonçalves, pretendem endereçar os principais tópicos e desafios das agendas das organizações, nomeadamente os compromissos de ESG, aumentar a confiança dos stakeholders, melhorar a eficiência e a qualidade dos processos internos, obter mais valor dos dados, melhorar produtos e serviços e alargar a sua oferta a outras regiões e segmentos de clientes.

Benjamim Vieira, Sócio Sénior e Líder da McKinsey Technology em Portugal e Espanha, defende que a inteligência artificial generativa “será uma das tendências para 2024” e que a tecnologia vai potenciar a utilização de IA e, com base nas tecnologias existentes – como IA aplicada e machine learning –, a IA generativa tem “um elevado potencial e aplicabilidade na maioria dos setores, podendo gerar até 4,4 milhares de milhão de dólares”. No entanto, ressalva, “embora a IA generativa possa desbloquear um valor significativo, as empresas não devem subestimar a importância económica e o potencial de crescimento que as tecnologias de IA subjacentes e a machine learning podem trazer às várias indústrias”.

“As tecnologias de arquitetura de confiança (trust architecture) e de identidade digital também surgem de forma proeminente, uma vez que permitirão às organizações gerir os riscos tecnológicos e relacionados com dados, acelerar a inovação e manter a confiança dos stakeholders”, explica Benjamin Vieira, que ainda acrescenta que “tecnologias de computação de nova geração, juntamente com avanços na bioengenharia, estão a apresentar um aumento constante na inovação em várias indústrias”.

Impacto nas empresas e na administração pública

Com base nos clientes da KPMG, Rui Gonçalves explica que os principais impactos nas organizações são a “melhoria das experiências digitais de clientes e cidadãos através da simplificação, aumento de velocidade e eficácia do acesso a informação, subscrição de produtos e serviços e self-servicing, resultando em maior engagement e fidelização; aumento da eficiência operacional nos processos internos através de automação, resultando em maior qualidade de serviço, menor tempo para a entrega do serviço, redução de custos e melhor experiência para o beneficiário do serviço; aumento de produtividade de colaboradores e dos seus níveis de satisfação; desenvolvimento de novos modelos de negócio; e aumento da capacidade de inovação”.

“Em última instância, os clientes que estão a adotar com maior eficácia e foco estas tecnologias estão a diferenciar-se da concorrência e a redefinir o seu posicionamento nos seus setores de atividade”, diz Rui Gonçalves.

Benjamin Vieira afirma que as tendências tecnológicas que se veem nas organizações podem ter vários impactos, nomeadamente na automatização de processos, na melhoria das eficiências operacionais, na tomada de decisões mais informadas, no melhor atendimento ao cliente e inovação em produtos e serviços, impactando não só as empresas de média e grande dimensão, mas também a administração pública.

Por seu lado, Alexandre Ruas indica que o setor público “procura continuar a sua caminhada de modernização e digitalização, muito alavancado nos programas e financiamentos existentes, para continuar a melhor servir os portugueses e Portugal. Aqui também se destacam os programas que contemplam as áreas de data e collaborative workplace”. As PME procuram “escalar e encontrar novos mercados a endereçar”. Já as empresas de maior dimensão “continuam a ver a tecnologia como uma fonte para a inovação, diferenciação, melhoria operacional, criação de valor para o cliente, crescimento, atratividade e, cada vez mais, para atingir as metas ESG definidas”.

Desafios na implementação

Implementar nova tecnologia não é necessariamente uma tarefa fácil. Ainda que a tecnologia implementada possa trazer melhorias significativas ao negócio, é preciso ultrapassar, primeiro, um caminho.

Benjamin Vieira, da McKinsey Technology, refere que “a falta de talento é um dos principais desafios que afetam a implementação e o crescimento da utilização destas tecnologias nas empresas”. O executivo diz que “existe um grande fosso entre a procura de pessoas com as competências necessárias para captar o valor das tendências tecnológicas e o talento disponível. Nas 15 principais tendências tecnológicas identificadas pela McKinsey, muitas das competências com maior procura têm menos de metade do número de profissionais qualificados por oferta, do que a média global”.

Ao mesmo tempo, alerta, estima-se que, na próxima década, 20% a 30% do tempo que os colaboradores passam no trabalho “poderá ser transformado pelas tecnologias de automatização, o que conduzirá a mudanças significativas nas competências necessárias, sendo fundamental as empresas investirem no reskilling dos seus trabalhadores”. Por fim, sublinha, “a segurança dos dados, os custos de implementação, a integração com sistemas e a resistência à mudança nas organizações são outros desafios que as empresas podem enfrentar”.

Alexandre Ruas, da Claranet, destaca dois desafios para 2024, e o primeiro não é tecnológico: “é previsível uma maior contenção no investimento”, apesar do “crescimento estimado para o mercado de IT”. Esta contenção, explica, “poderá ser um forte vetor de abrandamento na implementação ou experimentação tecnológica”.

De igual modo, diz Alexandre Ruas, “é importante destacar os desafios associados ao conhecimento e competências. Em matérias emergentes e de grande especialização, o conhecimento efetivo é sempre um fator crítico e que pode ser impulsionador ou bloqueante”.

Rui Gonçalves assevera que “46% das organizações indicam que as suas áreas de tecnologia carecem de mecanismos de governo e coordenação que permitam suportar as iniciativas de transformação de forma efetiva. Cerca de 36% dos inquiridos indicam possuir uma cultura aversa ao risco e o mesmo número de organizações indica estar preocupada com a falta de competências necessárias para levar a bom porto a sua transformação. 34% indicam que os seus sistemas legacy inibem a capacidade da organização de se transformar. A maior ameaça aos processos de transformação digital das organizações está relacionada com a insuficiente colaboração entre as equipas – resultado de uma cultura de trabalho menos positiva e de uma fraca comunicação. Nove em cada dez CIO inquiridos revela que a colaboração no seio da empresa seria mais eficiente se a sua função tecnológica fosse mais diversificada”.

Neste contexto, é imperativo “ter uma visão clara, objetivos definidos e uma estratégia para os atingir; identificar as iniciativas que nos permitem executar a estratégia e selecionar aquelas em que devemos apostar, quais nos trarão maior diferenciação e maior retorno; operacionalizar um modelo de governo que permita quebrar os silos funcionais dentro das organizações que impedem a colaboração e a inovação; transformar a cultura da organização; promover o pensamento estratégico, a literacia tecnológica e digital, criar um espaço seguro para experimentar, falhar e voltar a experimentar, criando e dando empowerment a equipas interdepartamentais, constituídas pelo negócio e pela tecnologia, para promover a criatividade e a inovação; adotar metodologias de entrega modernas e ágeis que permitam entregas iterativas com reduzido time-to-market; e identificar os gaps de competências e endereçá-los com os modelos de sourcing adequados e otimizados, alavancar o conhecimento interno como fator diferenciador e recorrer a capacidade externa para obter as competências técnicas necessárias à entrega”.

Como abordar a implementação

Alexandre Ruas indica que, “num mundo onde a diversidade cultural e tecnológica é tão grande, e onde emergem recorrentemente novos conceitos, é fundamental ter equipas multidisciplinares e especialistas a trabalhar em conjunto. As organizações devem pensar os seus modelos de governo e alavancar-se em parceiros chave, trazendo uma visão externa, fundamentada, para o ecossistema”.

Rui Gonçalves refere que “a abordagem deverá envolver uma avaliação cuidadosa das necessidades e recursos da organização, aquisição ou desenvolvimento de talento, elaboração de uma estratégia de implementação sólida, parcerias com fornecedores de tecnologia confiáveis e um foco na mudança cultural”, até porque “as organizações não devem concentrar-se demasiado nas tendências que estão a atrair mais atenção, pois podem perder o potencial de valor significativo de outras tecnologias e dificultar a oportunidade de desenvolver capacidades com objetivos específicos. Em vez disso, as empresas que procuram um crescimento a longo prazo devem concentrar-se num investimento orientado para o portfólio de tendências tecnológicas mais importantes para o seu negócio”.

Benjamin Vieira afirma que as organizações devem definir a visão e os objetivos, assim como a estratégia, e identificar e priorizar as iniciativas que permitem realizá-la. Além disto, estabelecer o modelo de governo adequado e criar as equipas interdepartamentais com o skillset necessário para entregar as iniciativas; estabelecer um plano de comunicação e de gestão da mudança que estabeleça a cultura certa, o envolvimento e a accountability de todos na organização; endereçar o skill gap técnico com recurso a capacidade externa; adotar metodologias de entrega modernas e ágeis que permitam reduzir o time-to-market ou time-to-solution; e, por fim, assegurar envolvimento.

Benefícios para as organizações

Benjamin Vieira, da McKinsey, refere que os benefícios da adoção destas tecnologias “incluem melhoria da eficiência, redução de custos operacionais, aumento da produtividade, tomada de decisões informadas, maior satisfação do cliente e a possibilidade de inovação em produtos e serviços”.

Por seu lado, Alexandre Ruas, da Claranet, destaca cinco benefícios facilmente tangíveis que as organizações podem esperar: reforço do sentido de colaboração nas empresas e da relação com os clientes; aumento dos níveis de segurança e resiliência do IT; ganhos de eficiência operacional; maior produtividade; e transformação mais rápida dos requisitos de negócio em oportunidades concretas.

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