“Transformar digitalmente uma organização é repensar e reconceptualizar os processos”

Numa extensa entrevista à IT Insight, Mário Campolargo, Secretário de Estado da Digitalização e Modernização Administrativa, analisa o atual nível de digitalização das organizações portuguesas – públicas ou privadas – e quais os programas preparados para ajudar na transformação digital do país

“Transformar digitalmente uma organização é repensar e reconceptualizar os processos”

Como é que avalia o nível de digitalização das empresas portuguesas?

Há sempre uma ambição grande de ajudar o tecido industrial a aproveitar as oportunidades da transformação digital para conseguir novos mercados, para abrir outras perspetivas, para sair fora das fronteiras físicas do país – um país que não é central no plano geográfico, mas que pode ser central porque tem uma capacidade de talentos e um ecossistema de inovação que queremos melhorar todos os dias.

Temos a capacidade digital nas empresas e vamos tentar sempre ajudá-las a melhorar. Essa ambição é particularmente importante em Portugal e faz parte da consciência estratégica que o Governo tem. É, por isso, que, no plano de ação para a transformação digital, temos três pilares que rodam à volta deste aspeto de como ajudar as empresas a transformar e de como é que o tecido empresarial se vai transformar.

Como é que isso se faz: apostando, especificamente, no pilar das pessoas, apostando no pilar de uma administração pública – que é particularmente atenta às necessidades do tecido empresarial e da inovação – e investindo, também, nas próprias empresas – quer sejam elas grandes empresas que tentamos atrair para Portugal, quer sejam pequenas e médias empresas que são o grande conjunto das empresas que temos em Portugal e para as quais temos programas específicos, quer participando ativamente no desenvolvimento das chamadas startups para que elas possam nascer, crescer, que possam ter a fase de scale up e chegarmos a unicórnios, como temos alguns em Portugal.

Mas não é possível fazer isto tudo sem investir também naquilo que chamamos de catalisadores para esta transformação digital e que tem a ver com coisas que temos já muito boas, mas que passa também por investir em tecnologias disruptivas – como a inteligência artificial ou a Web 3.0 e blockchain –, para além de uma aposta nos dados. Se há alguma coisa que vai mudar no futuro digital é que as políticas também vão ser informadas, vão ser baseadas nas evidências que vêm dos dados e da informação recolhida.

Qual é, atualmente, o nível de digitalização do setor público? Em que ponto está a modernização administrativa do setor público?

Aqui tenho que ser muito objetivo. Olhamos para um grupo de indicadores que a Comissão Europeia publica todos os anos – o DESI – e vemos claramente que, na área dos serviços, do e-Government ou Governo digital, estamos muito bem posicionados. Somos, aliás, líderes nessa matéria, fruto do Simplex, que vem da noção de simplificar a nossa relação com a empresa, simplificar a nossa relação com o cidadão, ou seja, desenvolvermos serviços digitais que correspondam às expectativas de cada cidadão e de cada empresa num momento importante da vida do cidadão ou da empresa e que não reflitam necessariamente a estrutura orgânica ou administrativa do Governo.

 

“Temos investido fortemente numa plataforma de interoperabilidade que garante que os dados que estão num departamento da administração pública são utilizáveis por outros departamentos, tendo em consideração as questões relacionadas com RGPD”

Esta noção de simplificação e de Simplex tem outra noção associada a ela, a noção de ‘sim’, ou seja, a administração pública vai, sim, responder positivamente aos anseios dos cidadãos e das empresas. É por isso que a estratégia para a digitalização da administração pública é uma estratégia centrada nos eventos de vida do cidadão ou da empresa, ou seja, quando a pessoa nasce ou quando a pessoa tem um evento importante na sua vida ou quando a empresa é criada ou quando aumenta o capital. É à volta disso que a administração pública se reúne para satisfazer, de uma forma simples e sem fricção, os interesses de que naquele momento são importantes para o cidadão ou para a empresa.

Existe, cada vez mais, uma articulação europeia nas várias iniciativas de transformação digital. Qual é o espaço para que cada país avance com iniciativas isoladas em algo que é tão estratégico não só para o país, mas também para União Europeia?

Há um aspeto importante que é a interoperabilidade a nível europeu, é absolutamente crucial. Não é meramente uma interoperabilidade física ou de IT, mas é uma interoperabilidade que é semântica, ou seja, que garante que um ato produzido em Portugal é entendido da maneira correta noutro país; é uma interoperabilidade também legal, saber qual é a implicação jurídica daquele ato; e é uma interoperabilidade também organizacional, ou seja, a organização que me dá aquela informação é ou não é a organização responsável por aquela informação.

Estes quatro níveis são muito importantes, mas são importantes a nível europeu, como são importantes dentro da administração pública quando temos que juntar peças que vêm da segurança social, da autoridade tributária, dos registos notariais ou de outra área para satisfazer um evento de vida do cidadão ou da empresa temos que garantir a interoperabilidade. É por isso que, através da Agência para a Modernização Administrativa [AMA], temos investido fortemente numa plataforma de interoperabilidade que garante que os dados que estão num departamento da administração pública são utilizáveis por outros departamentos, tendo em consideração as questões relacionadas com RGPD. Este aspeto é fundamental para que consigamos ter uma administração e não uma multiplicidade de administrações que interagem com o cidadão.

A nível europeu, temos, também, conceitos que vão para além da interoperabilidade, ou seja, como é que utilizamos a inteligência artificial que a nível europeu é usada com parcimónia, com valores éticos, com os valores que nos atribuímos a nós próprios, mas que, tendo em consideração o bem que a inteligência artificial pode dar, têm, por outro lado, alguns riscos. Minimizando esses riscos e garantindo que se faz uma utilização ética da inteligência artificial – e, da mesma maneira, com a utilização dos dados e da utilização da segurança – o objetivo fundamental da administração pública é ser uma administração pública confiável em que as empresas e os cidadãos confiam nos serviços digitais que lhe são dados. Nesse contexto, os aspetos de cibersegurança são absolutamente fundamentais e temos investido bastante.

 

Falou de cibersegurança e, durante a C-Days, mencionou o papel da cibersegurança na digitalização das organizações. Na sua opinião, as empresas percebem esse papel?

Acho que cada vez mais as empresas estão conscientes. Não sendo um elemento funcional no desenvolvimento de um serviço, é um elemento não funcional que hoje é, quiçá, mais importante que os aspetos funcionais de um serviço que é dado ao cidadão ou às empresas.

Essa consciência vai existir cada vez mais e vem, também, dos esforços que coletivamente a sociedade faz para, primeiro, ter uma literacia digital da cibersegurança generalizada, ou seja, o cidadão saber quais são os cuidados que têm de ter quando utiliza serviços digitais; vem pela capacidade que vamos ter de formar os funcionários públicos e privados em cibersegurança – a C-Academy que foi anunciada tem como objetivo específico formar 9.800 trabalhadores de uma forma avançada – que vai criar uma pool de conhecimento grande para que as próprias empresas beneficiem disso.

 

“Nem todas as empresas têm de ser empresas digitais, mas o digital dá uma perspetiva nova a cada uma destas empresas”

Do nosso lado, estamos apostados em aumentar a consciência e aumentar a literacia coletiva. Com a C-Academy, juntámos mais de 30 universidades e politécnicos para termos uma dimensão universitária, institucional, de formação de qualidade. Julgo que algumas empresas podem ajudar também nesse aspeto com os seus demonstradores, que vão estar, por exemplo, patentes num dos digital innovation hubs que formalizámos à volta da cibersegurança, mas também numa dimensão de cooperação entre várias empresas e, como vimos na C-Days, há um conjunto alargado de empresas – e ressalvo que são de várias áreas económicas – com uma consciência já bastante grande da importância da cibersegurança e que se juntam para partilhar boas práticas e isto num esforço coletivo que vai muito para além do plano jurídico – onde temos os decretos-lei e as transposições da diretiva NIS para Portugal, onde temos um quadro nacional de cibersegurança que também define boas práticas – e todos os investimentos à volta do PRR. Os investimentos estão na ordem dos 47 milhões [de euros] para reforçar a qualidade e a quantidade de conhecimento à volta de cibersegurança nas empresas e na administração pública.

No mesmo evento, também foi referido a C-Network, uma rede de centros de competências para apoiar os processos de transformação digital.

Isso é importante porque uma network, como o próprio nome diz, é uma rede que nos vai permitir esta capilaridade importante. As PME são a forma mais habitual das nossas empresas se criarem e constituírem e temos de ter esta capacidade de estar junto delas para formar, para as ajudarmos a ter essa literacia digital sobre a perspetiva de cibersegurança, mas que é tão importante quanto os aspetos da privacidade ou quanto os aspetos da usabilidade.

A ideia desta rede vai também com a ideia dos selos de maturidade digital através dos quais as empresas se podem apresentar perante os seus clientes de uma forma certificada de qualidade e através, também, de uma série de investimentos que estamos a fazer no quadro do PRR. Para ajudar a que essas próprias pequenas e médias empresas transformem o seu negócio, dando-lhe esta perspetiva digital. Nem todas as empresas têm de ser empresas digitais, mas o digital dá uma perspetiva nova a cada uma destas empresas.

“O que vemos hoje é que temos quer grandes empresas, quer pequenas empresas em Portugal a exportar para todo o lado. A nossa balança tecnológica é extremamente positiva”

 

Isso foi visto durante a COVID-19, em que foi absolutamente fundamental para que os nossos cafés, os nossos cabeleireiros, as nossas pequenas e médias empresas de bairro pudessem sobreviver, mas aos quais é agora preciso dar uma outra dimensão; têm que ganhar escala, e o digital dá-lhes valor acrescentado, competem num mercado muito competitivo e esse é o elemento diferenciador. É o elemento diferenciador dentro do bairro, dentro do país ou pode ser o elemento diferenciador quando o foco da empresa está na exportação.

Mencionou um mercado mais competitivo onde as empresas em Portugal podem estar a vender para qualquer ponto do mundo. Da mesma maneira, qualquer empresa de qualquer outra parte do mundo pode estar a vender para Portugal. Qual é a aposta que as empresas portuguesas podem fazer para superar também essa nova concorrência estrangeira?

Na economia do último século havia elementos diferenciadores; tínhamos ou não matérias-primas; tínhamos ou não capacidade de manufatura. Hoje, temos aspetos que são absolutamente fundamentais que são a inovação e o talento. É por isso que o investimento que é feito nas universidades, que é feito em criar jovens talentosos, em criar jovens com capacidades e competências também de criação de novas empresas é fundamental para a formação de um país digital como queremos ter.

É por isso que fazemos um investimento tão grande nas pequenas e médias empresas que acabam de nascer e que são de raiz digital, aquilo que normalmente se chamam de startups digitais. É um mercado importante para nós por várias razões. Primeiro porque é um ecossistema complementar às grandes empresas que já operam em Portugal e que cada vez mais queremos atrair para Portugal; elas criam a inovação, criam os novos serviços, que muitas vezes alimentam as pequenas e as outras grandes empresas de alguma maneira circulando talento com aquisições, com colaborações, com parcerias, trabalhando em rede.

 

“O conceito de cidade digital evolui ao longo do tempo do conceito muito tecnológico para um conceito mais humano e que garanta o bem-estar das pessoas na cidade”

O que vemos hoje é que temos quer grandes empresas, quer pequenas empresas em Portugal a exportar para todo o lado. A nossa balança tecnológica é extremamente positiva e é um investimento que o Governo vai fazer cada vez mais para aumentar. É por isso que trabalhar com as startups, investir com elas, ajudar a que, por exemplo, nos digital innovation hubs se ponham à disposição das pequenas e médias empresas ou das startups oportunidades de teste para novos produtos, oportunidades de utilização de inteligência artificial, de cibersegurança ou de computação de alta performance. As pequenas e médias empresas e as startups que podem não ter a capacidade de ter as infraestruturas, sejam elas infraestruturas físicas de teste – como 5G e mobilidade avançada – ou virtuais – por exemplo, supercomputação ou bases de dados, a utilização de sistemas avançados de inteligência artificial ou data analytics –, possam fazer essa experimentação através dos digital innovation hubs ou mesmo nas test beds quando estamos a investir, a testar novas soluções. Todos esses investimentos que fazemos são para dar músculo às startups para elas poderem aparecer com produtos inovadores no futuro.

Qual será o impacto que o Plano de Recuperação e Resiliência vai ter na digitalização do país, tanto nas organizações privadas como no setor público?

O impacto vê-se quase analisando as várias medidas do PRR. Aqui juntaria talvez um pouco o PRR ao programa PT2020 e àquilo que iremos fazer no programa PT2030 que foi assinado recentemente com a Comissão Europeia. Porquê? Porque há um continuum entre estes vários mecanismos de financiamento ao serviço de uma estratégia nacional que está plasmada no programa de ação para a transição digital.

Como referi há pouco, na área, por exemplo, da literacia digital, basta olharmos para os programas que temos neste momento lançados, aqueles que permitem um acesso básico a todos os cidadãos, aqueles que permitem que as pessoas que estão empregadas tenham um reskilling, aqueles que permitem que a pessoa se auto certifique para saber em que ponto é que está nos seus conhecimentos digitais e possa ter um plano de ação através de MOOC [Massive Open Online Courses], que, com a iniciativa da academia Portugal Digital, passa também por olharmos para camadas especiais da população, passa por apoiar os nossos bairros, o comércio digital através dos bairros digitais.

Na administração pública temos feito um esforço muito grande na área da interoperabilidade, na definição de quais são os serviços que são mais utilizados e, portanto, garantir que eles são sob o ponto de vista digital, mais adequados às necessidades dos cidadãos, que estão desenhados em função das necessidades do cidadão. Como dizia em relação à cobertura do país, também aqui não deixamos ninguém para trás.

“Quando temos uma iniciativa na área da literacia digital e outra na área da cibersegurança, não são duas coisas distintas; têm que ter uma coesão e uma coerência grande para serem efetivas”

 

Terá um investimento muito forte também nos aspetos de utilização da cloud, nos aspetos de interoperabilidade, nos aspetos de certificação e nos aspetos cibersegurança. Há aqui um conjunto alargado de iniciativas com fundos diversos, mas todos eles apostado em fazer uma implementação, na prática, do plano de ação para a transição digital.

Ainda estamos a trabalhar em medidas emblemáticas, como, por exemplo, uma estratégia nacional para as cidades inteligentes, uma das coisas que vamos anunciar a curto prazo e que é muito importante. É como se tivéssemos um plano de transição digital focalizado nos municípios, focalizado nas cidades. No fundo, como é que as cidades podem, de uma forma geral, partilhar boas práticas para desenvolver o seu conceito de cidade digital de forma não isolada, mas colaborando com outras cidades, quiçá, de uma forma complementar para que Portugal possa, não só ao nível dos serviços públicos centrais, mas também ao nível dos serviços públicos municipais e da relação entre as cidades e os habitantes dessas cidades, ter uma visão estratégica importante.

Há todo um conjunto de ações que estamos a tentar pôr na prática, com a celeridade que o próprio programa PRR, de alguma maneira, a aconselha e dentro dos planos que estavam já no plano de ação da transição digital. Uma vez esses planos implementados, novos desafios virão e são esses novos desafios que vão constituir um plano de ação para a transformação digital – se puder dizer – 2.0 que nos guiará depois de termos alcançado as metas fundamentais deste plano.

Referiu um plano para cidades inteligentes. O que é que pode adiantar sobre o programa?

O conceito de cidade digital evolui ao longo do tempo do conceito muito tecnológico para um conceito mais humano e que garanta o bem-estar das pessoas na cidade. Há muitos casos já em Portugal – Lisboa, Porto, Cascais, Fundão e seguramente muitas outras cidades que estarão tão avançadas nesse aspeto – e tem sido um desenvolvimento, de alguma maneira, um pouco isolado e com experimentação. O que a nossa estratégia vai ajudar é que, de alguma maneira, olhemos de uma forma holística para o país e saibamos quais são as experiências-piloto que tiveram mais sucesso numa cidade para os podermos replicar noutras.

Há um aspeto também de governação, obviamente. Em colaboração com a União Europeia, fizemos um estudo para desenhar uma estratégia nacional. Dentro de um mês ou dois teremos o prazer de anunciar os resultados desse estudo, mas o que queremos é ter uma estratégia que tenha sido desenvolvida com os atores do terreno e para os atores do terreno e que consigamos dar uma maneira, através de alguns aspetos fundamentais e de alguns indicadores importantes, termos uma perspetiva nacional para as cidades inteligentes e possamos passar de algumas experiências que são extremamente válidas – e que têm já uma dimensão muito grande – para uma mobilização de outras cidades – quiçá mais pequenas – que possam participar ativamente na criação de cidades inteligentes que são hoje cidades inteligentes, sustentáveis e humanas.

O objetivo é, em vez de termos cidades inteligentes isoladas, termos cidades inteligentes conectadas que, no seu conjunto, vão criar um país inteligente?

Exato. Trabalhar em rede é fundamental. Quando temos uma iniciativa na área da literacia digital e outra na área da cibersegurança, não são duas coisas distintas; têm que ter uma coesão e uma coerência grande para serem efetivas. Quando a universidade e os politécnicos formam os engenheiros, os investidores, os inovadores do futuro, isso não é independente da criação de startups ou da inovação em geral.

Há sempre esta noção de rede que é fundamental num país dito digital e também nas cidades, ou seja, criar mecanismos que permitam que os investimentos feitos na cidade sejam utilizados por outras cidades. Ter também a capacidade de trocar dados, fazer com que a economia de dados, através da informação que se recolhe numa cidade digital, possa ajudar essa cidade digital a ser mais bem gerida.

 

Não há necessidade de todos investirmos em soluções diversas; há, sim, necessidade de observarmos, compararmos as melhores práticas e podermos utilizar essas melhores práticas para desenvolver noutras cidades. Um país dito inteligente tem de ter a capacidade de utilizar as boas práticas para desenvolver os planos para o futuro e não repetir eventualmente as experiências que tenham mostrado que não são as melhores.

A noção de rede é fundamental. A cidade inteligente não é uma cidade desenhada – com todo o respeito pelo papel que obviamente os presidentes de câmara e os eleitos têm – só por uma pessoa. Temos de garantir que a inovação inclui o cidadão, as empresas, as universidades; é uma inovação incorporando todos estes pontos de vista. Quem conhece realmente os problemas da cidade são os seus cidadãos, são as suas empresas, e obviamente que as experiências – quer aqui, quer noutros países – são fundamentais quando utilizamos, por exemplo, sensores que meçam ruído para definir a localização da próxima escola ou da próxima creche; aí estamos a fazer uma decisão baseada em evidências e é nesse caminho que temos que avançar e sermos inovadores. Temos empresas que inovam em tantas coisas e o mercado das cidades digitais é provavelmente o mercado mais rico para as nossas empresas inovarem. Se eles inovarem nas cidades portuguesas, têm uma capacidade de exportação, de serem escolhidas para inovar em cidades a nível europeu.

Quais são os conselhos que deixa aos gestores das organizações que estão no processo de transformação digital?

Fazerem uma reflexão sobre o que é a transformação digital das suas empresas. Este é o ponto de partida. Cada empresa é um caso e temos que olhar para o valor da nossa empresa, como é que o podemos aumentar, onde é que temos os conhecimentos dos nossos empregados que nos possam ajudar a dar esse salto e a liderança é fundamental. Se o líder não for capaz de dar exemplo de uma transformação digital, é muito difícil que a empresa se transforme digitalmente.

Um dos riscos é que nós digitalizemos os modelos do passado. De facto, dá impressão de que ganhamos alguma coisa, mas no fundo estamos pura e simplesmente a acelerar os processos que existiam no passado e não estamos a fazer uma transformação digital. Transformar digitalmente é repensar os processos, é reconceptualizar os processos.

Tenho um conceito muito caro pessoalmente que é o conceito de fluidez digital. Ou seja, quando conseguir que a minha força de trabalho consiga pensar cada um dos seus postos sob uma perspetiva digital, então a minha empresa adquiriu um estado de maturidade muito avançado.

As empresas em processo de digitalização ou transformação digital sofrem ou beneficiam exatamente da mesma noção de trabalhar em rede. Deixam de trabalhar dentro das paredes físicas da sua empresa para trabalhar com os seus clientes; estendem as suas plataformas de inovação aos seus clientes, permitem que os seus clientes influenciem a maneira como o serviço ou produto é fornecido. Esta é a verdadeira transformação digital. É uma transformação digital que não acelera, que não digitaliza processos que foram concebidos sobre a metáfora da segunda revolução industrial, mas que desenvolve e que cria valor por repensar todos os processos de uma forma digital. Claro que isso numa startup é inerente, mas as empresas que já estão estabelecidas no mercado – e as próprias startups daqui a mais alguns anos – têm de ter consciência de que a transformação digital não é uma coisa que se faça no momento, é um processo contínuo. Para estar à frente do seu tempo tem que continuamente digitalizar e transformar os seus processos.

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IT INSIGHT Nº 48 Março 2024

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