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O caminho da aprendizagem imersiva

A aceleração na adoção de tecnologias exponenciais como a Inteligência Artificial, a Realidade Aumentada ou a Realidade Virtual continua a transformar o panorama educativo, desde as escolas básicas ao ensino superior, passando pela formação ou pela requalificação profissional. Disparidades no acesso a estas ferramentas permanecem um enorme desafio

O caminho da aprendizagem imersiva

Com um crescimento anual médio na ordem dos 17,9%, entre 2020 e 2027, o mercado global da educação e da formação deverá atingir os 680,1 mil milhões de dólares (cerca de 685,9 mil milhões de euros), segundo dados da irlandesa Research and Markets. O novo paradigma educativo, impulsionado pela pandemia de COVID-19, abriu portas a diferentes formas de aprendizagem, do nível mais básico, ao profissional, com a introdução de tecnologias inovadoras de apoio ao estudo, e capacidade de acesso remoto.

Um admirável mundo novo que caminha para o ensino imersivo, repleto de novas oportunidades para professores, formadores e alunos, garantindo uma maior eficiência nos métodos de ensino e um ritmo de aprendizagem à medida e à velocidade de cada um. Contudo, a empresa de pesquisa de mercados irlandesa alerta para a desigualdade no acesso à formação que, em algumas situações, se acentuou durante os dois anos de pandemia. Um desafio que é preciso continuar a combater.

Em Portugal, os anos de pandemia demonstraram, por um lado, uma enorme resiliência por parte das escolas e dos professores que procuraram a todo o custo não deixar ninguém para trás. Aos alunos do ensino básico, por exemplo, foram oferecidos ou emprestados computadores e tablets para que pudessem acompanhar as aulas e, feito um balanço geral, o saldo aparenta ter sido positivo. Agora, com o arranque de mais um ano letivo, que se espera sem sobressaltos de saúde pública, veremos se a aprendizagem sobre a utilização das ferramentas tecnológicas veio, de facto, para ficar.

Em paralelo, ao nível empresarial, as exigências de formação são hoje também muito distintas, com um aumento na utilização de plataformas de e-learning, e um crescimento notável na procura por novas ofertas formativas que vão ao encontro das necessidades de requalificação em vários setores, nomeadamente na indústria que contou com uma aceleração da digitalização sem precedentes. Segundo a Forbes internacional, este é um mercado que se prevê que cresça, em média, 15% por ano entre 2020 e 2025, devendo atingir um valor global na ordem dos 50 mil milhões de dólares (cerca de 50,3 mil milhões de euros).

Tecnologias ao serviço da aprendizagem

As plataformas de e-learning entraram gradualmente na oferta formativa profissional, com maior ênfase ao longo da última década. No entanto, o primeiro grande confinamento em 2020 deu-lhe o fôlego que não tinha conseguido até então. Além do mercado empresarial, estas plataformas alargaram a sua influência ao ensino tradicional, tornando a forma remota de aprender num ‘novo normal’. Professores, formadores, e alunos foram obrigados a adaptar-se rapidamente e a utilizar novas metodologias de ensino e de aprendizagem, e hoje esta é uma das tecnologias que continua a fazer parte do dia-a-dia de milhões de pessoas em todo o mundo.

De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Pew research Center, 92% dos cerca de 2.500 professores inquiridos a propósito da utilização de tecnologia no ensino na sala de aula ou a partir de casa, revelam que a Internet teve um impacto muito relevante na possibilidade de aceder a recursos, conteúdos e materiais para as suas aulas, com 69% dos quais a garantir que a utilização da Internet aumentou exponencialmente a sua capacidade de partilhar ideias com outros professores.

Para as empresas, a utilização de plataformas de formação remotas revelou-se uma forma de redução de custos, quer com as ações formativas, quer com as deslocações que, desta forma, são evitadas. De acordo com um estudo da IBM junto dos utilizadores das suas plataformas de e-learning, com este modelo formativo as empresas conseguem que os seus colaboradores absorvam cinco vezes mais conteúdos, com um terço dos custos.

Mas a possibilidade de recorrer a plataformas de ensino remoto, por iniciativa própria, é também hoje uma realidade para um número cada vez mais elevado de pessoas. A aprendizagem ao longo da vida é uma tendência que irá manter-se, uma vez que as competências profissionais tenderão a alterar-se com frequência. À medida que novas tecnologias entram no dia-a-dia das organizações, a força de trabalho tem que ser atualizada, mantendo-se em permanente formação.

Outra tendência, identificada num artigo recente da Forbes internacional é a nano- -aprendizagem. Trata-se de um conceito formativo que procura combater a dificuldade em reter informação. Num mundo em que a informação é permanente e proveniente de milhares de fontes distintas, a capacidade humana de retenção é hoje cada vez mais reduzida. Assim, a nano-aprendizagem permite consultar pequenos conjuntos de informação sempre que deles precisamos. Um pouco à semelhança de uma receita de cozinha, da qual não nos recordamos, mas que podemos revisitar sempre que desejamos.

A distribuição desta informação pode ser feita através de plataformas de ensino remoto, mas também através de algumas redes sociais como o Twitter ou o TikTok. Os analistas da Research and Markets acreditam que a popularidade deste tipo de formação irá crescer ao longo deste ano, essencialmente pela facilidade de acesso e de interatividade destas plataformas.

Inteligência artificial na sala de aula

Dos assistentes virtuais presentes em qualquer smartphone aos chatbots em serviços de apoio ao cliente, a Inteligência Artificial (IA) faz hoje parte da vida de qualquer cidadão. Na educação esta começa também a ser uma presença assídua através de software com algoritmos que ‘aprendem’ com a repetição de tarefas, e que permitem evitar ações repetitivas dos utilizadores. Aliás, de acordo com um relatório recente da Markets and Markets, o valor da IA no setor educativo atingirá os 3,6 mil milhões de dólares (cerca de 3,63 mil milhões de euros) em 2023.

Um dos exemplos mais comuns da utilização desta tecnologia na sala de aula é a atribuição de notas, uma tarefa que muitos professores e formadores facilmente dispensariam, e que está a ser testado em algumas escolas chinesas. Neste projeto piloto, o software classifica automaticamente os alunos e ainda deixa algumas sugestões de melhoria em cada caso. Ainda na China, algumas escolas estão a usar um sistema de reconhecimento facial para verificar se os alunos estão a prestar atenção às aulas, através de câmaras com visão computorizada.

Um outro exemplo é o sistema Altitude Learning, desenvolvido por um engenheiro da Google e financiado em parte pelo Facebook, que utiliza a IA para sugerir modelos de aprendizagem personalizados para crianças, e que está agora a ser utilizado pela rede internacional de escolas Montessori.

Realidade virtual no ensino real

Para os nativos digitais, a utilização de ferramentas de Realidade Aumentada (AR) ou de Realidade Virtual (VR) já não é um cenário de ficção. Usadas em museus ou em jogos online e de consola, por exemplo, estas tecnologias fazem parte do dia-a- -dia. Não será, por isso, de estranhar a sua utilização no setor da educação, como forma interativa e imersiva de aprender. Quem não gostaria de, numa aula de história, caminhar pelas ruas de Roma antiga e de se cruzar com César, o imperador? Ou de, numa aula de ciências, fazer uma viagem ao interior do corpo humano?

Esta nova forma de ensinar, e de aprender, traz grandes mais-valias, nomeadamente ao nível da atenção e do interesse, essenciais para garantir a aprendizagem. Mesmo ao nível da formação empresarial, este tipo de ferramentas pode ser extremamente útil para simular ambientes perigosos ou para um treino eficaz com equipamentos de custo muito elevado, sem correr o risco de danificá-los. Médicos, bombeiros ou cientistas podem ser profissões onde a utilização de VR durante a formação poderá fazer toda a diferença.

Segurança é elemento-chave

Os ataques informáticos, cujo crescimento acelerou durante a pandemia, obrigaram as organizações a olhar com maior atenção para o tema da segurança. O setor da educação não é exceção, com as ciberameaças a disparar no segundo semestre do ano passado, e cerca de três mil ataques semanais a organizações de ensino. Segundo o relatório ‘Threat Landscape Report’ da S21sec, os sistemas educativos são ainda bastante vulneráveis devido a equipamentos, em muitos casos, obsoletos, falta de literacia digital dos utilizadores, e à crescente utilização da plataforma Zoom ou do software Moodle. Já este ano foram registados ataques ao Ministério da Educação, nomeadamente à plataforma do Júri Nacional de Exames, aparentemente sem consequências.

Devido a estas vulnerabilidades, Susana Cabrita, Inside Channel Account Manager da ArcServe em Portugal, considera que “será fundamental considerar fazer backups às aplicações em cloud”, recomenda, recordando que as escolas têm um ambiente de rede bastante exigente, com alunos e professores a necessitar de aceder com segurança e a partir de qualquer lugar. “Professores e alunos criam e partilham documentos, tornando-os essenciais para a sua organização. Fazer backup desses dados oferece proteção extra em caso de alguém modificar ou apagar um ficheiro acidentalmente, malware, vírus e ataques de ransomware”, salienta.

Adicionalmente, a responsável da ArcServe lembra também os ataques “altamente direcionados” às universidades, reforçando a urgência de os administradores de IT considerarem novas formas de garantir a segurança dos sistemas.

Em jeito de recomendação, Susana Cabrita deixa algumas dicas para garantir a segurança da informação e dos dados. “Além de um backup local, convém adotar uma abordagem para a regra de backup 3-2-1: três cópias totais dos dados; duas dessas cópias em locais separados, um fora da rede e em local externo, e outro na nuvem”. Além disso, diz a Inside Channel Manager, é fundamental garantir também a continuidade de proteção dos dados (Continuous Data Protection) e “o ideal será mesmo adotar a estratégia 3-2-1-1 adicionando backups imutáveis”. Por exemplo, uma solução convergente de proteção e armazenamento de dados que tira snapshot imutáveis— cópias de backup dos dados que não podem ser alteradas ou apagados - garante a sua proteção contínua.

Com o crescimento dos dados a aumentar significativamente off-site graças ao ensino à distância, a capacidade de escalabilidade de armazenamento é também essencial. “Soluções como o OneXafe que usam a tecnologia scale-out baseada em object-storage, é a melhor aposta para resolver esse problema. O armazenamento escalável permite que se adicione capacidade à medida que as necessidades crescem e facilita o dimensionamento”, acrescenta a responsável.

Ainda em relação à segurança, na vertente do armazenamento dos dados, a tecnologia Blockchain terá um papel muito importante em diferentes indústrias, mas também na educação. Garantir a fiabilidade da informação, nomeadamente no que se refere a guardar credenciais de acesso, certificados ou até registos de classificações, reduz a possibilidade de ocorrência de fraudes. O mesmo acontece em situações de plágio, um problema recorrente no ensino superior, por exemplo.

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