“Vemos mais clientes com um ritmo de atualização do que clientes a estagnar”

Nuno Saramago, diretor-geral da SAP em Portugal, analisa o mercado português e como é que as organizações nacionais estão a realizar a sua transformação digital e de processos pelas diferentes necessidades que pautam os negócios

“Vemos mais clientes com um ritmo de atualização do que clientes a estagnar”

As pessoas normalmente associam a SAP mais a uma linha de produto específica, mas hoje é um mundo. Para quem está fora deste universo, o que é a SAP?

A SAP, hoje, fornece os principais serviços para as empresas poderem servir os seus clientes seja com produtos, com serviços, com o que quer que seja. Pode-se dizer que a SAP é, hoje, a infraestrutura principal de muitas das empresas que operam em Portugal e a nível global. Às vezes, isto pode não ser muito percetível para o comum dos mortais, mas temos uma estimativa que, a nível global, 80% das transações entre empresas passam por sistemas SAP.

Se quisermos fazer um paralelo para o nosso quotidiano, podemos pensar, por exemplo, quando abastecemos o nosso carro numa Galp, todo o processo desde a refinaria até ao combustível chegar ao nosso veículo é coberto pelo SAP e serve como infraestrutura para toda essa cadeia de valor. Se pensarmos, por exemplo, quando estamos a abrir uma garrafa de vinho ou até de champanhe, as rolhas da Amorim que estão nessa garrafa também passam elas pelo processo desde a floresta e gestão da floresta até chegarem ao produto final na recolha da cortiça e numa rolha numa garrafa, também num sistema SAP. O próprio conteúdo da garrafa, se nós pensarmos numa Symington, numa Sogrape, numa Fladgate, todas estas empresas usam SAP no seu processo produtivo, desde o fruto no campo até ao produto final do vinho que chega à nossa garrafa. Portanto, diria que a SAP, tal como está na nossa missão, ajuda realmente o mundo a funcionar melhor e a melhorar a vida das pessoas no sentido em que faz com que todos estes serviços ou produtos que sejam produzidos de uma forma sustentável, de uma forma rastreável e com o menor custo e o maior benefício possível.

O que é a SAP em Portugal, neste momento?

A SAP, em Portugal, neste momento tem 680 colaboradores. Temos um volume de negócios na ordem dos 150 milhões de euros e, destes 680 colaboradores, à volta de 400 trabalham no centro de serviços, que é um centro de serviços que permite configurar os produtos da SAP, quer para os clientes nacionais quer para os internacionais. Também temos a felicidade de ter em Portugal outros departamentos da SAP a nível global – por exemplo, de desenvolvimento e engenharia de software, portanto, a trabalhar efetivamente com os últimos temas de inovação a nível global, nomeadamente na nossa plataforma que se chama Business Technology Platform. Temos duas equipas em Portugal que também trabalham em engenharia de software. Temos também as pessoas que trabalham exclusivamente para Portugal, que são à volta de umas cem, e temos um conjunto de outras equipas que dão suporte ao negócio.

Apesar de Portugal não ser um dos maiores países em termos de dimensão do mercado para a SAP SE, é sem dúvida representativa de todas as áreas da SAP SE, que é uma coisa que nos agrada bastante. Conseguimos, a partir de Portugal, não só ter a nossa atividade de serviço aos clientes locais, mas também de contribuir para a SAP SE como um todo em várias áreas.

Quando olham para o mercado português, como é que o sentem? Sentem que o mercado está no plateau ou ainda há muito greenfield?

Diria que ainda há muito greenfield porque, das cem maiores empresas nacionais, cerca de 97 são clientes da SAP. De todas as que estão na bolsa só duas é que ainda não são clientes da SAP. Mas, atualmente, 70% dos clientes da SAP em Portugal são pequenas e médias empresas e, nesse espaço, com este tema do advento da cloud e das economias de escala que conseguimos com a oferta de serviços de ERP ou de recursos humanos ou de compras na cloud, conseguimos chegar a um público muito maior. É por isso que respondo que ainda há muito greenfield.

Temos visto, neste último ano, um conjunto novo de clientes, empresas de média e pequena dimensão portuguesas, que se querem internacionalizar, precisam de um sistema robusto que suporte os processos e as localizações quer em Portugal quer nos países para onde se querem expandir, e temos vindo aí a ganhar um espaço muito interessante e a crescer aí.

Mas ainda há outra área de greenfield: na base instalada – são cerca de 5.600 clientes que temos em Portugal – também aí há muito espaço novo por explorar. A SAP já há muitos anos que deixou de ser uma empresa única e exclusivamente de ERP. Temos soluções tecnológicas, de integração, de desenvolvimento, uma plataforma completa, e também temos soluções muito específicas para gestão de recursos humanos, gestão de fornecedores e de compras, gestão do próprio relacionamento com o cliente final.

Nestas outras ofertas, para além do tradicional ERP pelo qual a SAP é conhecida, também há muito greenfield na nossa base instalada. Vejo o mercado português como um mercado com muitas oportunidades. Somos tipicamente um país que adotamos inovação com rapidez e isto não se deve apenas às organizações, mas também muito às pessoas. Tipicamente temos uma qualidade de profissionais bastante boa, que domina perfeitamente as novas tecnologias, o inglês, com universidades muito boas a alimentar o nosso mercado de trabalho. Muitas vezes, acabam por trabalhar a partir de Portugal, mas para outras empresas, mas tudo isso faz com que o nosso mercado, apesar da sua dimensão, seja muito dinâmico e muito propenso a novas tecnologias, o que para a SAP é interessantíssimo.

A SAP está numa posição privilegiada porque conhece esse tecido empresarial. Sentem que está a evoluir de uma forma positiva ou que estamos a atravessar uma conjuntura muito desafiante?

Há uma conjuntura realmente muito desafiante e diria que por dois temas principais: um, que é conseguirmos ter talento suficiente para fazer tudo o que as empresas querem e precisam de fazer em termos de transformação. Esse é um grande desafio: atrair e reter as pessoas, e diria que esse é um desafio também para o país. Como é que conseguimos ter as pessoas necessárias para fazer toda a transformação digital? E não me refiro a transformação digital como um chavão, mas para digitalizar todos os processos e forma de fazer negócios que ainda é necessário.

Em segundo lugar, todas as disrupções a que temos assistido: disrupções climatéricas, catástrofes naturais, guerras, deslocalizações, pandemias… Tudo isto faz com que as organizações tenham uma vida cada vez mais complexa.

Isto coincidiu com a transformação para a cloud e vemos aí muita oportunidade porque as empresas precisam de ter um sistema que seja simultaneamente previsível em termos de custos e que seja ágil o suficiente para fazer face a todas estas disrupções. Aí trazemos uma novidade, que julgo que é interessante, em termos da previsibilidade nos custos da cloud. Não querendo entrar em questões muito comerciais, mas fazemos uma oferta completa de um serviço na cloud desde a infraestrutura, aplicação e gestão aplicacional, até ao serviço depois da configuração e entrada em produção. Comparativamente a obter cada uma destas peças individualmente, em que normalmente existem duas grandes variáveis – o custo de armazenamento e de processamento –, conseguimos eliminar uma delas que é bastante volátil, que é o custo de processamento.

Quando oferecemos este pacote único – que chamamos Rise – de serviço na cloud, equalizamos a variável custo de processamento porque indexamos a necessidade da empresa àquilo que nós chamamos de full user equivalent. Independentemente se o utilizador está o dia todo a fazer pesquisas intensivas no sistema ou emitir três faturas por dia, o valor neste serviço é o mesmo. Se fossemos adquirir a infraestrutura, este valor oscilava de acordo com a atividade do utilizador.

Para fazer face à outra variável, que são as disrupções, com um serviço cloud, hoje advogamos aquilo que se chama de clean core, que é as empresas não reinventarem a roda naquilo que é standard. Fazer uma guia de remessa em Portugal não há de ser muito diferente em Espanha ou na Alemanha, portanto, se as empresas se conseguirem adaptar a este clean core dos processos e depois aquilo que for diferenciador da sua indústria o façam numa Business Technology Platform, este clean core vai permitir a cada três meses atualizar o sistema e deixa de haver os grandes projetos de migração e atualização. Dá uma flexibilidade às empresas para fazerem o seu negócio sem terem de se preocupar com uma administração e com uma atualização do sistema. A inovação é entregue diretamente na cloud.

O tecido empresarial português tem estado apto para a mudança e para esta modernização que é necessária ou tem vindo a protelar?

Existem várias velocidades, mas, hoje, essa mudança é bastante consciente pelas empresas. Quando há um drive – como falava há pouco da internacionalização –, quando há uma necessidade premente, vemos obviamente a mudança a acontecer a ritmos que são compatíveis com qualquer dos países que estão na crista da evolução e atualização tecnológica. Agora, existem ritmos diferentes.

O sistema SAP por si é um sistema muito robusto e temos sistemas que estão nos nossos clientes a funcionar e não dão problemas por mais de dez anos. Onde vemos a mudança é efetivamente quando existem estes critérios e necessidades. A maioria dos nossos clientes têm essa necessidade, seja por temas do crescimento do próprio negócio, seja por temas legislativos da conjuntura. Vemos mais clientes com um ritmo de atualização do que clientes a estagnar.

Sei que o mercado empresarial não é totalmente comparável com o mercado de grande consumo, mas imagine-se, hoje, ter uma aplicação com dez anos no telemóvel. Falo nisto porque também é um tema que é um grande impulsionador da mudança, as novas gerações que chegam às empresas, que é preciso reter e motivar e, muitas vezes, não estão dispostas a trabalhar com um sistema de dez anos, por muito bom e robusto que seja.

A mobilidade, sobretudo para as novas gerações, também tem sido um driver para a mudança nas próprias organizações? Se calhar, os sistemas legacy são menos suscetíveis de serem transformados para dar outras funcionalidades nestes novos dispositivos?

Se pensarmos nos principais drivers para estes projetos de transformação, a mobilidade já é um bocadinho uma comodity, tem de estar, porque já há bastantes anos que a SAP tem uma interface que é agnóstico em termos do terminal utilizado pelo utilizador, seja num browser no PC, seja num dispositivo móvel. Não diria que é um dos principais drivers, mas é, sem dúvida, um requisito que tem de estar preenchido. Para clientes mais antigos até tornamos esse acesso possível, mesmo com sistemas mais antigos.

Quando chegam novas legislações, como vimos, por exemplo, no início deste ano com as novas tarifas para produtores de plástico descartável em Espanha, aí sim são temas que impulsionam uma mudança no sistema e que estamos preparados para ajudar os nossos clientes nesses momentos e vemos aí uma grande necessidade daquilo que chamamos as nossas soluções de sustentabilidade para permitir fazer este rastreamento de todo o ciclo de vida do produto, desde a produção até ao de comissionamento.

Quais é que são as tendências que mais impacto têm junto das organizações e principalmente das organizações nacionais?

Para além daquelas que estivemos a discutir – como a internacionalização –, neste momento há um grande desafio que tem a ver com a inteligência artificial generativa. Temos na SAP um longo histórico de automação, otimização, usar machine learning para processos, sejam eles industriais no chão de fábrica, sejam eles processos financeiros, por exemplo, para fazer reconciliação bancária de pagamentos a fornecedores, onde já usamos machine learning há muito tempo. Mas agora, com a inteligência artificial generativa, estamos a falar de um mundo completamente diferente, que é o próprio sistema ter capacidade de gerar novo conteúdo.

Quando tivemos a Internet, os custos de transferência da informação caíram brutalmente. Quando tivemos as infraestruturas na cloud os custos de armazenamento de informação caíram brutalmente. Com a inteligência artificial generativa, os custos de geração de conteúdo e criação de informação vão cair brutalmente e isto vai ser completamente disruptivo, não só nos vários negócios como na própria capacidade e modo de vida das pessoas em termos da sua vida profissional.

Aquilo que provavelmente antes fazíamos com duas ou três pessoas vamos conseguir fazer com uma pessoa bem equipada com ferramentas de inteligência artificial. Isto é uma oportunidade para a transformação de competências, para o upskilling, mas é também uma grande oportunidade de negócio porque passamos a ter software que é capaz de gerar novo software com novos processos.

Estamos a ver em Portugal muitas empresas já a fazerem a utilização deste tipo de ferramentas generativas num contexto de geração de conteúdos de texto e que são úteis e que permitem complementar muito os processos. O que estamos a fazer na SAP é pôr esta inteligência generativa dentro das próprias aplicações, ou seja, uma pessoa está a avaliar vários fornecedores, está a avaliar, por exemplo, tempos do seu pagamento a esses fornecedores e o próprio programa consegue sugerir um novo programa que vai fazer um algoritmo diferente que vai fazer a classificação desses fornecedores.

Lançámos recentemente um assistente de IA chamado Joule e o que estes assistentes de IA vão fazer no futuro é permitir em todas as áreas da empresa ter uma versão transversal daquilo que se passa, ou seja, fazer uma pergunta ao sistema que, ao mesmo tempo, possa pedir ‘dá-me uma avaliação de fornecedores’, mas diz-me também quem é que na minha organização é mais competente para fazer a avaliação de fornecedores; vai ligar aos recursos humanos e dar-lhe também a pessoa que tem aquelas competências para gerir fornecedores.

Isto é uma coisa interessante que penso que traz uma mais-valia porque não estamos a falar de modelos de aprendizagem genéricos, mas estamos a falar num contexto muito específico e relevante que é o negócio daquela indústria, os dados daquela empresa, com responsabilidade das autorizações porque não vou poder perguntar ao assistente ‘qual é o salário do meu colega?’. Tem de ser respeitado aquilo que já está definido em termos de autorizações, perfis de autorização dentro do sistema e tudo mais, e ao mesmo tempo um tipo de IA generativa que é responsável e que vai de acordo com os princípios de ética que estão a ser definidos pelas Nações Unidas.

Isso pressupõe que esses modelos vão ser treinados com os dados da empresa e com os guard rails que são definidos pela própria empresa. A questão é se as empresas estão preparadas, têm o know-how para fazer esse tipo de coisa ou terá de ser a SAP e os seus parceiros de referência a conduzir esse processo? Como é que sente a adoção disso nas empresas, tendo essas condições todas que referiu?

Podemos garantir e é por isso que a SAP está a falar neste conceito da IA de negócio, do business AI, porque efetivamente guiamo-nos por estes três princípios: do relevant, no contexto da empresa e no contexto daquela indústria; do responsible, de ser responsável e treinado efetivamente com os dados de acordo com os princípios de ética e legislação em vigor; e o reliable, porque é informação fidedigna e que se pode confiar naquele modelo e que a informação que vai sair dali é apropriada para mim.

Porque é como diz: será que as empresas estão preparadas? Não, nenhum de nós está preparado. Aquilo que estamos a observar neste momento é, mesmo que as empresas não queiram ou não tenham uma política de IA pré-definida, as ferramentas estão aí e são muitas mais do que ChatGPT e muitas mais áreas. Há hoje geração de vídeo, de imagem, de modelos de engenharia, de plantas de arquitetura. Tudo isto são ferramentas simples que existem na Internet. Qual é o grande tema em termos do negócio? Falava com um cliente na semana passada que dizia que não vai querer um engenheiro de produção seu a fazer copy- -paste do modelo de produção para um modelo de IA público, porque está a expor diretamente os segredos de negócio da sua empresa. Vai querer ter um modelo que permite otimizar e gerar novas formas e novos modelos para o seu processo produtivo, mas quer que isso fique dentro de casa e se calhar até tem muito gosto em ver qual é o benchmark dos concorrentes, mas que seja partilhado de forma respeitando a propriedade intelectual e os devidos trâmites de partilha entre as empresas.

Não estamos preparados, mas a IA vai entrar – aliás, já entrou – nas nossas organizações através dos consumidores e das pessoas que trabalham connosco. O que temos de fazer é, de uma forma muito frequente, ter estas conversas dentro não só dos sistemas de informação, mas com responsáveis de negócio e dizer ‘estas ferramentas vãotrazer grandes vantagens competitivas, têm de ser utilizadas no contexto empresarial’.

Quem é o driver dentro da organização, no caso da adoção deste tipo de ferramentas, quem é que deve ser o driver e quem é que deve ser o responsável por isto? Porque isto não é só IT...

Não é, e acima de tudo porque neste momento, com todas as ferramentas que existem disponíveis, está totalmente democratizada a utilização. Se pensarmos, anteriormente quem é que conseguia gerar código relevante dentro de uma organização? O departamento de IT. Hoje, com estes modelos, qualquer pessoa pode gerar código para a sua área de negócio.

Diria que a pergunta é muito pertinente porque não creio que haja uma resposta única, que a responsabilidade deve estar neste ou naquele departamento. Creio que isto tem de ser um tema que tem de ser discutido ao nível da administração porque é de tal forma transversal a todos os departamentos de uma empresa que tem de ser discutido ao nível do board. Tem de haver esta discussão e tem de haver esta discussão de forma muito frequente porque todos os dias assistimos a novas ferramentas, novas possibilidades e acho que as empresas têm algo a ganhar, obviamente consultando os vários players do mercado, mas têm algo a ganhar se fizerem uma pequena lista em vez de tentarem adotar tudo e mais alguma coisa porque isso vai fazer com que haja uma dispersão, que depois é muito difícil de gerir onde é que está o benefício e o custo.

Como é que olha para 2024, não necessariamente a SAP enquanto empresa, mas o mercado em si? E quais é que vão ser as tendências e as principais dificuldades para as organizações?

Esta tendência que falávamos é seguramente uma. Onde as empresas devem insistir, em primeiro, é nas pessoas porque sem as pessoas não vamos conseguir nem adoção, nem transformação digital, nem criação de novos processos. Logo a seguir às pessoas, eu diria, é investir em sistemas que deem agilidade. Um sistema que dê agilidade é um sistema que tem de se reger por algum tipo de standards. Acho que esta distinção é importantíssima: há coisas numa empresa que provavelmente são semelhantes aos das outras empresas – processos financeiros, contabilísticos, inclusivamente alguns de recursos humanos – e esses processos devem estar perfeitamente resolvidos, não devem ser motivo da reinvenção da roda. Não vale a pena porque estão mais do que testados a nível global. Quando conseguimos esse conjunto de processos estáveis, devemos investir naqueles marginais que nos vão dar a flexibilidade para, quando deixar de ter um fornecedor porque está numa zona em que existe um conflito e não conseguem entregar determinada peça ou matéria-prima, tenho automaticamente um sistema que me sabe ir buscar um fornecedor semelhante a outro lado.

O resto tem de ser sistemas ágeis, previsíveis e que não causem oscilações nem no custo nem no risco e que mantenham a empresa com dinâmica suficiente para fazer face a estas transformações. Acho que, para além do tema da IA, em 2024, em Portugal vamos ter dificuldades em termos de, mais uma vez, disrupções – o tema da inflação não está totalmente controlado – e, com essas disrupções, é cada vez mais importante que as empresas resolvam os temas que podem ser resolvidos e standardizados e se foquem naquilo que faz a diferença no seu negócio.

Quais é que são as suas dicas, os seus conselhos, para os decisores de negócio, pensando já no horizonte de 2024?

Tenho de começar pelo tema do talento. É um tema que me aflige porque sentimos essa dificuldade, os nossos parceiros sentem essa dificuldade e os nossos clientes sentem essa dificuldade. Se disser que posso dar alguma dica, é efetivamente o de estabelecer parcerias. Na SAP tentamos fazer isso com várias universidades e com parceiros nossos; as empresas devem estabelecer essas parcerias para conseguirem atrair pessoas e, depois, obviamente ter uma política que lhes permita reter essas pessoas. Uma dica que acho que tem sido válida para a SAP e que julgo que os clientes que participam connosco nessas parcerias têm visto o benefício é realmente estabelecer parcerias na área da educação e, quando digo educação, não são só as universidades e institutos de ensino superior, mas também organizações de upskilling e reskilling e organizações que possam trazer de alguma forma um novo talento e conhecimento científico.

A segunda é resolver aquilo que pode ser standardizado nos sistemas de informação. Vemos muitos clientes que trazem aquele lastro e que, em vez de melhorar, cada dia se tornam mais complexos e cada peça daquelas é mais difícil de manter. Resolver isso, tirar as economias de escala que é possível tirar. Uma das coisas que me lembro diretamente neste tema de ‘resolvam o que pode ser standardizado’ é o tema da cibersegurança porque é muito difícil uma organização per se fazer face à horda de ataques que veem todos os dias e que é profissionalizada, enquanto, num sistema de cloud, há sinergias nos grandes data centers a nível global que resolvem esse tema. Ou seja, a minha segunda dica é: por favor, standardizem e resolvam o que pode ser standardizado para se poderem focar naquilo que vos vai dar agilidade e vantagem competitiva.

E a terceira tem muito a ver com as disrupções na cadeia de valor e acho que aí vamos assistir às empresas cada vez mais a trabalhar em consórcios, naquilo que chamamos de redes de negócio, e isso é uma coisa que vemos muito também nos nossos clientes e algumas empresas a irem buscar processos que são de outras. Tipicamente, quando uma empresa começa a pensar no novo modelo de negócio e quer ter um serviço que nem era muito da sua indústria, nós suportamos 26 indústrias diferentes e, por vezes, vão buscar processos que não têm nada a ver com aquela indústria onde opera. Estes consórcios, estas parcerias e redes de negócio também são uma área interessante e acho que as empresas, principalmente em Portugal, devem aproveitar estes consórcios de partilha de conhecimento, que trabalham ou por indústria ou transversalmente.

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