Web Summit 2025: Dow Jones quer redefinir o valor do conteúdo na era da inteligência artificial

No Web Summit, Almar Latour, CEO da Dow Jones, defendeu que os media devem recuperar o controlo sobre o valor do seu conteúdo na era da IA generativa, e detalhou a estratégia B2P do grupo, que aposta na valorização económica e salvaguarda dos ativos editoriais.

Web Summit 2025: Dow Jones quer redefinir o valor do conteúdo na era da inteligência artificial

Num momento em que a Inteligência Artificial (IA) está a transformar radicalmente a forma como a informação é criada e consumida, Almar Latour lançou um aviso à indústria: “O conteúdo é o ativo mais precioso das organizações noticiosas e tem valor”. O CEO da Dow Jones defendeu, no Web Summit, que os media precisam de reafirmar esse valor e de encontrar novas formas de o proteger e rentabilizar.

Latour considera que a indústria dos media vive um momento mais decisivo do que quando a Google entrou em cena, e que a fronteira entre colaboração e exploração de conteúdo pelos grandes modelos de IA precisa de ser clarificada.

Historicamente, os media subestimaram o valor do seu próprio conteúdo. Hoje temos de o defender e garantir que é devidamente compensado”, afirmou o responsável, sublinhando que a Dow Jones segue uma política que designa por sue or work with you — ou se estabelece uma parceria comercial justa, ou se recorre aos tribunais.

A empresa tem preferido o caminho da cooperação e já firmou um acordo de licenciamento com a OpenAI, que permite o uso remunerado de conteúdo para treino de modelos de linguagem. Paralelamente, a Dow Jones moveu uma ação contra a Perplexity AI, que considerou estar a usar indevidamente material editorial do grupo.

Factiva: o marketplace global da era GenAI

Uma das apostas mais estratégicas da Dow Jones é a Factiva, descrita por Latour como um mercado de dois lados que liga publicadores e empresas de IA. A plataforma reúne cerca de 7.500 publicadores de todo o mundo, cujos conteúdos são licenciados e comercializados, e que agora começam a receber royalties sempre que o seu material é usado por sistemas de IA generativa.

Mesmo pequenos editores podem agora garantir a proteção dos seus direitos e receber compensação justa. Este modelo é um passo importante para criar uma economia sustentável de conteúdos na era da IA”, afirmou.

Latour acredita que este é um modelo replicável para toda a indústria dos media, combinando proteção da propriedade intelectual com oportunidades de negócio baseadas em dados e licenciamento.

Do B2B ao B2P: o novo paradigma da Dow Jones

O CEO explicou ainda o conceito de B2P, Business to Professionals, que define a atual estratégia da Dow Jones. “Servimos como um sistema de informação para o mundo dos negócios”, disse, salientando que os leitores do Wall Street Journal são também decisores empresariais, profissionais que usam o jornalismo como ferramenta de trabalho.

A Dow Jones atua hoje em quatro eixos: notícias premium, dados proprietários, analítica avançada e criação de comunidades profissionais. Estes pilares dão origem a verticais de negócio centrados em áreas como energia, geopolítica, risco, compliance e gestão de riqueza. A IA, segundo Latour, funciona como um acelerador de todo este ecossistema.

O grupo tem reforçado esta estratégia com aquisições recentes, como a Oxford Analytica, especializada em análise geopolítica, a EcoMovement, que fornece dados sobre carregamento elétrico, e a A2i, uma empresa dinamarquesa de informação sobre preços no setor energético. O objetivo é integrar dados, jornalismo e inteligência analítica numa única plataforma Dow Jones que permita aos clientes extrair informação acionável e criar o seu próprio mosaico de conhecimento.


Um modelo para o futuro do jornalismo

Latour defende que este cruzamento entre jornalismo, dados e tecnologia pode inspirar toda a indústria. Ter jornalismo distinto, dados proprietários, ferramentas analíticas e comunidades focadas é, para mim, o modelo do futuro. É assim que o jornalismo se pode reinventar.

Para o líder da Dow Jones, a missão essencial mantém-se: defender o jornalismo livre e de qualidade, mesmo num contexto de automação crescente. “Há 40% menos redações locais nos EUA do que em 2005. É responsabilidade do jornalismo reinventar-se, e acredito que o nosso modelo é um bom ponto de partida.

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