“Nunca houve uma época tão incrível, com tanto potencial e oportunidades”

O Grande Auditório da Nova SBE, em Carcavelos, foi palco de mais um Siemens Tech Day.

Sofia Tenreiro, CEO da Siemens Portugal, foi a responsável pela abertura do evento que conta já com várias edições e que, explica, tem como objetivo ser “um espaço de reflexão, discussão, de partilha, não só da Siemens para o mercado, mas também entre muitas empresas que passam pelo evento ao longo do dia”.

“O nosso grande objetivo é a partilha de tecnologia, da inovação porque acreditamos que, assim, conseguimos influenciar e impactar a economia, a sociedade e levar Portugal a acelerar também o seu crescimento e no seu sucesso”, afirmou a líder.

Em entrevista à IT Insight, a CEO revelou que nos últimos anos o foco tem estado na Inteligência Artificial (IA), na automação e nos dados. Para a Siemens Portugal, as forças têm estado igualmente concentradas em “toda a componente de simulação, onde incluímos o digital twin e também metaverso industrial, que permitem a simulação de situações ou realidades, por forma a conseguirmos ter ganhos de eficiência e custos”. A cibersegurança é outro dos temas que tem conquistado espaço no seio da organização e dos projetos: “É crítico para nós. O mundo vai estando cada vez mais online e precisamos de garantir que toda esta realidade é segura”.

Perante um mundo atual complexo, marcado pelo crescente paradigma da Inteligência Artificial, a CEO relembrou o público do Siemens Tech Day que um dos aspetos comuns da vida são as pessoas – “independentemente da existência dos agentes, dos robots ou de outro membro que nos ajude, ainda nos teremos uns aos outros, por isso temos de pensar nas nossas equipas, nas nossas pessoas”.

Endereçar o presente e o futuro

A Siemens Portugal tem se posicionado ao longo dos anos num conjunto de áreas chave, nomeadamente infraestruturas críticas, transportes, setor da saúde e IA. “Quando falamos em tecnologia, em Portugal temos estado focados em nove de 11 tecnologias core que definem o mundo. Estamos a falar de metaverso industrial, digital twins, que permite replicar a realidade no mundo digital e combinar o mundo real e digital para maximizar o seu valor”, sublinha a CEO.

A prova deste investimento, que não perde de vista o passado, presente e futuro da Siemens, é o facto de Portugal ser morada para um dos seis centros de competências tecnológicas mundiais da Siemens. O Siemens Tech Day contou também com algumas demonstrações das equipas portuguesas que trabalham na criação de aplicações tecnológicas com o intuito de satisfazer os mercados além-fronteiras.

Inovação: as duas faces que podem coexistir na mesma moeda

O painel “The good and evil of Innovation” juntou Siemens, Volskwagen e EY em torno do lado bom da tecnologia, que pode conduzir à prosperidade e sustentabilidade, mas também o lado mau, numa alusão aos temas da ética e da responsabilidade no acesso à informação.

João Nascimento Gomes, Data & Analytics Lead da Siemens Portugal considera que a Inteligência Artificial é uma das inovações que mais se destaca nos últimos anos, tendo contribuído com um impacto positivo, nomeadamente no que diz respeito a questões de mobilidade e sustentabilidade. 

Para João Nascimento Gomes, “se tentarmos ver a IA como uma ferramenta, essa visão vai permitir-nos aproximar de uma ideia de superpoderes, especialmente quando se trata de agrupar informação, digerir e agir sobre a informação que temos”. No entanto, alerta: “Há muitas perguntas abertas sobre como vamos lidar com isto como sociedade e como grupo coletivo de sociedades. Acho que uma das perguntas mais urgentes é saber como é que a regulação vai adaptar-se à emergência da IA. Tenho tendência para pensar na regulação como uma voz da sociedade democrática. Os reguladores devem agir em nosso nome – como consumidores e sociedade. Isto não só se aplica à IA, mas a qualquer tecnologia que venha do setor público ou privado. Existirá sempre um desmatch entre o que é desenvolvido num laboratório ou numa empresa e o que a sociedade precisa, pensa ou quer”, defende.

Numa outra intervenção, e tendo como ponto de partida a forma como a Volkswagen está a recorrer à tecnologia para alavancar e atribuir velocidade à sua produção, Tiago Mayer, Launch Manager da Volkswagen AG, destacou a necessidade de uma legislação e de regras para lidar com os riscos que inovações como a IA podem levantar. No entanto, o Manager acredita que é necessário “sermos abertos o suficiente para ver o futuro e não nos bloquearmos e não aceitarmos que esta realidade existe”.

Ainda no decorrer do painel, José Roque, Energy Segment Lead da EY, acrescentou que os dados e a IA “podem apresentar diferentes equilíbrios no mundo” que não se dividem necessariamente sobre a ideia de bom e mal. “Diria que necessitamos de reter o poder desta inovação, mas temos de ser cautelosos sobre a forma como fazemos isto”.

Já no rescaldo da mesa-redonda, e confrontada igualmente com a ideia do bom e do vilão da inovação, Sofia Tenreiro considera-se “otimista, mas muito realista”. “Costumo olhar para o ‘evil’ na perspetiva dos riscos que é preciso acautelar e que não se podem descurar. E sou muito positiva porque nunca houve uma época tão incrível, com tanto potencial e oportunidades como esta. Temos de ser nós próprios e cada um de nós a estudar, a ter a liderança para perceber que realidade é esta em que vivemos e como é que cada um de nós pode aprender sobre as tecnologias que existem e, no fundo, sermos bens valiosos para a sociedade e fazermos igualmente parte desta solução”.