Nos passados meses de março e abril, quem tivesse procurado comprar uma câmara para videoconferência, não deixaria de se surpreender com os preços apresentados nos catálogos.
Não raro, viram-se produtos a duplicarem o valor por eles pedido, como se se tivessem tornado raras peças de coleção. E raras é o termo, porque ainda assim, esgotaram, um sinal da tensão que se gerou entre a procura e a capacidade de oferta. As câmaras para videoconferência exemplificam bem as transformações que este ano de 2020 está a impor às cadeias de abastecimento e distribuição. Imagine-se o que foi necessário aos fabricantes fazerem para conseguirem endereçar tal procura, numa altura em que também os respetivos trabalhadores estavam sujeitos a restrições de movimentação. Cada produto hoje depende, durante a respetiva produção, de uma complexa cadeia de abastecimento, e o fecho das lojas físicas, que levou à mudança para comércio online de milhões de consumidores, obrigou a uma reformulação inédita das cadeias logísticas. Como refere o relatório Supply-chain recovery in coronavirus times —plan for now and the future, da McKinsey, “Numa época de crise, a compreensão da capacidade logística actual e futura por modalidade — e dos compromissos a que esta é sujeita — será ainda mais essencial do que habitualmente, tal como o será a priorização do planeamento da capacidade necessária e da sensibilidade temporal para a entrega dos produtos.” Tal como o bater do coração, a logística subjacente ao comércio eletrónico apenas é visível quando observada intencionalmente. A crise em curso tem servido como lupa para a reavaliação de todos os setores da economia. Na rapidez de resposta e resiliência da logística, está também parte da cura para estes tempos que precisam, como poucas vezes antes, de operações robustas e oleadas. |