A era da mobilidade empresarial moderna

Num mundo onde estamos sempre ligados e em movimento, tudo é mobilidade. Porque este é um tema tanto de tecnologia como de pessoas, Alcatel-Lucent Enterprise, Decunify, Lenovo, Microsoft, MobileIron, Noesis e Targus refletem sobre o que significa hoje para o trabalho e para os negócios

A era da mobilidade empresarial moderna

Repensar o negócio

É impossível falar hoje de mobilidade sem recordar o lançamento do primeiro iPhone, há dez anos, que originaria uma nova categoria de dispositivos móveis: os smartphones. Com eles chegariam novas arquiteturas de software, a popularização da palavra “app” e novas formas de comunicar, trabalhar e socializar. Daniel Madero, country manager da MobileIron para Portugal, Espanha e Itália, disse que vivemos em plena “mobilidade moderna”. “É fundamental entender que o smartphone é uma plataforma distinta do antigo PC, com uma arquitetura de software muito diferente”. Toda esta mudança acabou por permitir “uma transformação do negócio”, referiu Daniel Madero, “que passou a aproveitar todas as potencialidades deste novo paradigma”.

Nelson Pereira, CTO da Noesis, deu o exemplo de uma grande organização mundial verdadeiramente movida por este paradigma. “A Unilever não tem escritórios, todos os colaboradores trabalham remotamente”. A mobilidade, observou, é uma das formas da Internet of Things e indissociável da transformação digital: “Veja-se o exemplo do retalho, que percebeu que tinha de apostar no e-commerce e num canal digital. A este nível, a mobilidade permite acabar com o regionalismo, alcançar um público global. Trata-se de repensar todo o negócio e também de como se diminuem custos através da tecnologia”.
 

O escritório em qualquer lugar

Nos últimos dois a três anos verificou-se um “grande boom da adoção da mobilidade enquanto conceito de trabalho”, disse José Manuel Oliveira, CEO da Decunify. Porque a definição do que significa trabalhar também mudou e já não passa por estar fisicamente presente num local, principalmente nas grandes organizações. A Microsoft tem observado um crescimento “exponencial” da mobilidade em Portugal, ao qual não é indiferente a adoção de serviços cloud. “A cloud permite que tenhamos o nosso escritório em qualquer lugar”, lembrou. “E não se trata apenas do e-mail, mas da possibilidade de recorrer a software para atender uma chamada no PC, por exemplo”. Também a Lenovo vê na mobilidade empresarial uma realidade incontornável. “Um estudo curioso da Salesforce diz que 38% dos colaboradores se sentem mais produtivos a trabalhar em casa. E 11% evitam ir ao escritório quando têm de realizar uma tarefa crítica, que lhes exija mais concentração”, adiantou Rui Gouveia. Se outrora as pessoas tinham acesso apenas a um dispositivo – fixo ou móvel –, é hoje comum terem três ou quatro dispositivos “ligados em simultâneo”.


Conectividade à prova do futuro

Sem a evolução da infraestrutura comunicacional, a mobilidade teria falhado. A rede WiFi é “a principal rede de comunicações”, reconheceu José Manuel Oliveira, e Henrique Amaro, technical sales and services da Alcatel-Lucent Enterprise, realçou que as novas gerações, quando chegam ao mercado de trabalho, “procuram as ferramentas que já utilizavam na esfera privada” e que a tendência, por isso mesmo, é que a própria rede funcione de forma seamless e segura, seja com ou sem fios. “O objetivo é que o utilizador não sinta a diferença, o que é um desafio. É importante dar resposta não apenas à qualidade do serviço dos novos tipos de aplicações, mas também às necessidades do IT manager. Entendemos que, perante um ataque, tem de ser o próprio equipamento – switch ou access point – a ter a capacidade de cortar a comunicação machine to machine”.

E que caraterísticas deve ter uma infraestrutura de comunicação interna à prova do futuro? “Para manter-se preparada para um período de dois anos, tem de estar bem alicerçada na componente passiva”, aconselhou Henrique Amaro. “É também necessária uma tecnologia que, a três meses, possa funcionar a 2.5 gigabits, depois a 5 e depois a 10, sem ser preciso mudar”. Na componente ativa, importa apostar em equipamentos de última geração. José Manuel Oliveira realçou que a importância do desenho da solução. “Os fabricantes têm opções muito semelhantes, ao nível da conceção dos equipamentos. Mas depois há a componente aplicacional, que faz toda a diferença”.


Do BYOD ao BYOA

A segurança é hoje o tema central da mobilidade empresarial, tendo em conta os dois episódios que marcaram o ano até ao momento – o WannaCry e o Petya. Se há uns anos as empresas se preocupavam sobretudo com os ataques externos, hoje percebem que o perigo também pode vir de dentro, “seja porque os utilizadores estão desprotegidos ou porque alguém de fora da empresa se liga à rede corporativa e a compromete”, sublinhou José Manuel Oliveira. Para esta primeira componente, a da implementação de plataformas que limitem quem se conecta à infraestrutura, "as empresas estão já sensibilizadas”.

A segunda tem sido o aparecimento de soluções de proteção de endpoints que possibilitam o Bring Your Own Device (BYOD), cada vez mais uma realidade. “Muitas empresas começam a adotar ferramentas que permitem criar nos dispositivos os dois ambientes, o pessoal e o profissional, mantendo a sua utilização em separado”, referiu. Ao BYOD tem vindo a juntar-se uma outra realidade: a do Bring Your Own Application (BYOA), fenómeno pelo qual o utilizador recorre a aplicações de uso pessoal, como a Dropbox, por exemplo, para armazenar informação empresarial. “É necessário criar políticas e dar formação aos utilizadores”, disse Rui Gouveia. No entanto, é fundamental implementar mecanismos que limitem essa possibilidade. Daí que as empresas de maior dimensão criem app stores próprias, para que os "utilizadores utilizem apps empresariais”, observou José Manuel Oliveira.
 

Como proteger os smartphones

São um dos alvos preferenciais dos cibercriminosos e não se protegem do mesmo modo que os PCs. “Com o smartphone, o controlo foi cedido ao utilizador final, o que leva a que os modelos tradicionais de gestão do posto de trabalho não funcionem nestes dispositivos”, indicou Daniel Madero. “A boa notícia é que as plataformas móveis, iOS e Android, são bastante seguras se forem bem geridas”, assegurou, deixando um conselho: “É preciso começar por proteger o acesso aos serviços da empresa, on-premises ou em cloud”. O country manager da MobileIron explicou ainda porque é que proteger a identidade não chega no contexto dos smartphones. “É um tema que se prende com a ligação do smartphone à cloud. A diferença, em relação a um browser, é o facto dos smartphones utilizarem por norma apps que sincronizam informação na cloud e a guardam no dispositivo, podendo compartilhá-la com outras apps que a podem partilhar com outras clouds, e assim sucessivamente”. Importa então que, nestas plataformas, se controle não apenas a identidade, mas os dispositivos e as aplicações que estão a ser utilizadas. “Estes três elementos têm de ser de confiança. É algo que se controla com uma boa solução de enterprise mobility management (EMM), em conjunto com extensões de controlo de federação de acesso à cloud”, disse.

 

Passwords com fim à vista?

A cloud é um dos motivos pelos quais proteger o perímetro não chega, em contexto de mobilidade. Numa arquitetura desta natureza, lembrou Luís João, o utilizador pode aceder à informação empresarial dentro ou fora das “muralhas” que protegem as infraestruturas de rede. Para a Microsoft, a identidade é o primeiro pilar da segurança, pela natureza do sistema operativo e da arquitetura do PC: 82% dos ataques são ataques à identidade. “As empresas podem ter o melhor sistema do mundo, mas se alguém sabe a palavra-passe tem imediatamente acesso. Outra estatística diz que 73% das palavras passe são reutilizadas no local de trabalho”, alertou.

A tecnológica tem, por isso, apostado na autenticação biométrica e em mais do que um fator de autenticação. “É preciso ter a certeza de que a pessoa é quem diz que é”. As palavras-passe, no entanto, deverão ter os dias contados. “Dentro de poucos anos, uma das grandes revoluções que vamos observar é a inexistência de passwords”, anteviu o representante da Microsoft. Em relação à proteção dos dispositivos móveis e das aplicações, apontou uma tendência: a adoção de soluções de mobile device management (MDM) e também de mobile application management (MAM), uma subcategoria do EMM, para garantir que a pessoa está a trabalhar de forma segura.


Não esquecer a privacidade

Outra forma de proteção é a salvaguarda da privacidade. “A mobilidade tem esse problema – muitas vezes esquecemo-nos que estamos expostos quando estamos a trabalhar num PC num local público, porque não sabemos quem está ao nosso lado. Podemos ter os melhores sistemas, mas se não protegermos a identidade a pessoa ao nosso lado pode ter acesso a informação de forma gratuita”, advertiu Rui Neves, country manager da Targus. Esta questão também se aplica em ambientes de open space. “Verifica-se que mais de 90% dos utilizadores preferem trabalhar com privacidade, o que aumenta a própria produtividade”, destacou.
 

Trabalho colaborativo

A portabilidade passou a ser caraterística-chave dos dispositivos de computação. Rui Gouveia, da Lenovo, notou que os utilizadores privilegiam a autonomia, o peso e a espessura dos portáteis. “Também temos assistido à adoção crescente dos tablets híbridos e dos convertíveis”. Este último formato, em particular, tem tido bastante sucesso. Com o posto de trabalho a ser cada vez menos um local, o que esperar daqui para a frente? “O posto de trabalho, quando existe, é ocupado pela primeira pessoa que chega”. Este conceito dá pelo nome de hot desking. Rui Neves, chamou-lhe uma tendência ao nível do espaço de trabalho. “Com as hot desks, as secretárias partilhadas, as organizações conseguem reduzir custos e manter o mesmo espaço”, sublinhou, alertando para a necessidade de as empresas terem docking stations universais que permitam conectar um amplo conjunto de periféricos. A tendência será, também, a criação de diversos ecossistemas dentro de um escritório.
 

Trabalhar em cenários de Realidade Virtual

Do ponto de vista humano, o trabalho remoto tem um revés: o isolamento. Rui Neves falou num “renascimento do escritório em si” e Nelson Pereira, da Noesis, relembrou a importância da colaboração e da proximidade. “As metodologias de desenvolvimento de software, por exemplo, dizem que as equipas têm de trabalhar em conjunto, em nome de resultados superiores”, defendeu. A resposta poderá estar na realidade virtual (RV). “Os óculos de RV vão proporcionar o posto de trabalho do futuro. Permitirão reuniões virtuais, mas vão dar-nos a sensação de que estamos fisicamente próximos”, equacionou. “A realidade virtual vai avançar no sentido de nos aproximar digitalmente”. Sobre o posto de trabalho do futuro, foi perentório: “A colaboração, que será um fator essencial. Vão ser investidos muitos milhões em ferramentas de colaboração”.


Continuidade da experiência

A mobilidade empresarial é também um tema de informação e, por isso mesmo, um tema de experiência, que tem de ser única. Ou seja, trata-se da possibilidade de, num momento, trabalhar num tablet e de seguida passar para o PC ou para o smartphone mantendo a forma de utilização. “Existe uma diferença entre mobilidade do dispositivo e mobilidade do utilizador”, distinguiu Luís João.

A chave para esta continuidade da experiência de utilização são as aplicações, que tiveram, também elas, de evoluir. “Toda a nova panóplia de dispositivos, dos smartphones aos tablets, tem nos permitido desenvolver aplicações cada vez mais dinâmicas, conectadas e online”, realçou Nelson Pereira. Quando o tema é o desenvolvimento para ambientes mobile, há quase sempre uma questão que se impõe: web ou aplicação nativa? “Por web temos de ter ligação à internet. Nas apps nativas, conseguimos guardar e fazer cache, sincronizando novamente quando há ligação. Tudo isto está a evoluir".

A mudança imposta às aplicações depende muito da forma como as pessoas querem trabalhar. “Vivemos num mundo síncrono e assíncrono. O primeiro é o do tempo real, da comunicação por chat. O assíncrono é do e-mail e da troca de documentos. Estes dois mundos estão a juntar-se”, salientou Luís João.

 

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