Indústria 4.0 – O paradigma das fábricas do futuro

A quarta revolução industrial faz-se da integração entre sistemas físicos e digitais e depende não apenas da adoção de edge computing e IoT, mas sobretudo da capacidade para aliar tecnologia a uma cultura de inovação

Indústria 4.0 – O paradigma das fábricas do futuro

O termo "Indústria 4.0" surgiu pela primeira vez na iniciativa estratégica “High Tech Strategy 2020 Action Plan” do Governo alemão, em 2012.

“O termo é utilizado para abranger tecnologias e conceitos de fabrico inteligente”, explica Manuel Laranja, professor de inovação e empreendedorismo no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). A indústria 4.0 materializa- se na conetividade plena entre os objetos e equipamentos que integram os processos industriais, unindo métodos de produção a tecnologias de informação e comunicação. Esta fusão, mediada por tecnologias como IoT ou sistemas ciber-físicos, permite “a criação de redes de informação e controlo”, explica o docente, que “promovem informação gerada em tempo real, aumentando a automação de ações sobre estas informações geradas e recolhidas”, permitindo assim “estratégias de produção de customização em massa”.

 

Transformação em múltiplas frentes

 De uma forma geral, a indústria portuguesa, mas também a indústria europeia, terão de “preparar-se para a adoção de todo um novo pacote tecnológico associado à indústria 4.0”. Em primeiro lugar, tem de ocorrer “uma mudança de estratégia para modelos de maior flexibilidade e especialização”, defende o docente do ISEG, de forma a ser possível aproveitar as potencialidades da tecnologia. Um trabalho de maior proximidade com os clientes, “que devem estar integrados nas mesmas tecnologias”, é igualmente benéfico. Ao nível das operações, por exemplo, “é necessária uma maior descentralização e autonomia”. A adoção do paradigma tecnológico da indústria 4.0 pressupõe ainda, dentro da estratégia de customização que estiver definida, o “reposicionamento de produtos/serviços”.

 

Colaborar é preciso

Se adotado pela indústria portuguesa, sublinha Manuel Laranja, o “conceito poderá ter impacto na inovação tecnológica e, por essa via, na competitividade”. A adoção de novas tecnologias, contudo, não se traduz de forma automática em maior capacidade para competir. “A inovação associada à industria 4.0 está fortemente relacionada com múltiplas interdependências entre produtos e processos”, defende. “Será necessário que as empresas que adotem este conceito tenham capacidade de formular novas estratégias industriais e correspondentes novos modelos organizacionais”.

Jorge Portugal, diretor-geral da COTEC Portugal, realça que a capacidade de inovação das empresas, em Portugal, “tem evoluído positivamente”. No entanto, adverte, “é necessário procurar um melhor compromisso entre o presente e o futuro”, no sentido de direcionar o foco do esforço da inovação não apenas para melhorar os produtos e processos, “mas também para antecipar a dinâmica e configurações no futuro do mercado e criar novas opções de crescimento que permitam responder aos espaços de oportunidade”. Para tal, adverte, é imperativo que se cultive uma “maior cultura de colaboração entre empresas e maior aproximação entre o sistema científico e tecnológico e o tecido empresarial”. Certo é que nenhuma mudança estrutural pode ocorrer sem liderança à altura. O caso da indústria 4.0 não é exceção. “A transição para o novo paradigma necessita de forte apoio da gestão de topo”, realça o docente, e envolve uma mudança cultural nas organizações, “no sentido da inovação aberta e gestão da mudança”.

 

Portugal I4.0 - Digitalizar a economia nacional

O Governo lançou oficialmente este ano a iniciativa Portugal i4.0, inserida na Estratégia Nacional para a Digitalização da Economia, com o objetivo de identificar as necessidades do tecido industrial português e de potenciar a evolução para o atual paradigma da economia digital. Ao longo dos próximos quatro anos, está previsto um investimento de cerca de 4,5 mil milhões de euros. A iniciativa integra, no comité estratégico, entidades como a COTEC Portugal, a Confederação Empresarial de Portugal (CIP) e a Agência Nacional de Inovação, e também players das TIC como a Microsoft, a Huawei, a Google, a PT, a Altice e a Siemens.

As 64 empresas que vão ajudar o Governo a pensar na indústria do futuro representam 25% do PIB português e mais de 30% do emprego”, sublinha António Mira, diretor para a indústria da Siemens Portugal. Da iniciativa constam 60 medidas, onde se destacam as que dizem respeito ao financiamento destinado a programas que promovem a aquisição de competências digitais e aos projetos e incubadoras previstos para acelerar a implementação de fábricas inteligentes. A Siemens vai ainda colaborar com a 4AC-Industry 4.0, uma aceleradora, incubadora e espaço de produtização e prototipagem para a Indústria 4.0 que vai ser criada pelo Governo em parceria com o CEiiA e a Startup Portugal, através de uma nova unidade de negócio, o next47. “Esta unidade destina-se a apoiar startups tecnológicas para fornecer à indústria hardware e software, bem como na transformação de ideias em produtos, no desenvolvimento de produto e também na fase de scale-up”, acrescenta António Mira.

 

Ferramentas para a maturidade digital

A implementação das medidas presentes no Portugal i4.0 está a ser acompanhada de perto pela COTEC. “Esta iniciativa constitui uma oportunidade para a evolução da maturidade digital das empresas portuguesas em todos os setores”, frisa Jorge Portugal, diretor-geral. “As economias e as cadeias de valor serão cada vez mais digitais”, assegura. A inovação em direção a um modelo de negócio que se traduza em maior eficiência e produtividade, diz, “terá que ter em conta a força do grupo de tecnologias digitais e a necessidade de ter uma força de trabalho preparada”. No âmbito do programa, a associação está, numa primeira fase, a monitorizar a implementação das medidas já lançadas e a proceder a uma avaliação, “em comparação com outros programas europeus, com o propósito de adaptar e melhorar o programa às necessidades das empresas”, explica. A associação irá ainda lançar ferramentas de apoio às empresas para desenvolverem a sua “maturidade digital” e, nesse quadro, “os processos de inovação, a adoção tecnológica e a qualificação do capital humano”.

Por último, a COTEC promete “dar visibilidade à nova fileira de inovação na indústria 4.0 e, assim, contribuir para reforçar a imagem de Portugal como um mercado de inovação digital”.

 

Como anda a inovação das nossas empresas?

No 14º Encontro Nacional de Inovação COTEC, que decorreu em maio, foi revelado o estudo “Destino: Crescimento e Inovação”, realizado pela associação em parceria com a Deloitte, e que procurou estabelecer uma ligação entre a inovação e o desempenho económico e financeiro das empresas. Jorge Portugal, diretor-geral da COTEC, identifica três grandes conclusões.

“A primeira demonstra que as empresas mais inovadoras apresentam uma performance económico-financeira superior às restantes, que as empresas mais inovadoras apresentam maior capacidade de criação de emprego do que as restantes e que estas empresas contribuem para maior equidade social, quer porque pagam melhores salários aos seus colaboradores quer por via dos impostos que pagam ao Estado”.

A segunda conclusão diz respeito ao ciclo virtuoso que se estabelece entre o crescimento e a inovação: “Parar de crescer prematuramente é travar esse ciclo e inibir a empresa de atingir uma dimensão que a defenda das ameaças de mercado e que lhe permita maximizar as oportunidades futuras”. Por último, o estudo destaca que é importante desenhar políticas públicas “que favoreçam e estimulem o crescimento das PME”.

 

 

CASOS DE REFERÊNCIA

Lá Fora

Tenaris

Esta fábrica de tubagens e serviços de energia, na Argentina, é considerada uma das mais eficientes do mundo na sua área de produção, pela elevada automação industrial. A Schneider Electric introduziu nesta fábrica o primeiro teste da Viejo 360, solução de realidade aumentada que permite visualizar em tempo real dados de gestão, manutenção e planeamento.

Adidas “SpeedFactory”

Com recurso a processos de produção automatizados, a Adidas tem vindo a apostar no conceito de “speed factories”, para criar produtos de elevada performance mais rapidamente. A de Ansbach recorre a tecnologia de robótica inteligente e deverá este ano começar a utilizar tecnologias de impressão 3D. Em abril, a Adidas e a Siemens anunciaram estar a colaborar para impulsionar uma produção mais flexível, rápida, transparente e individualizada.
 

Em Portugal

Fisipe

Esta produtora europeia de fibras acrílicas está a adaptar a fábrica do Seixal, reconvertendo parte das linhas de produção para fornecer materiais em fibra de carbono. A empresa assinou um contrato com a Siemens para fornecimento de sistemas que acionam, controlam e monitorizam a produção da nova fibra. O projeto incluiu o desenvolvimento do setor elétrico e de automação da Fisipe, o fornecimento da instrumentação de campo/processo e dos sistemas de automação, a supervisão WinCC, o fornecimento dos quadros de baixa tensão, o desenvolvimento do projeto elétrico e de automação, o software e o comissionamento de todo o sistema.

ADIRA

Um fabricante de máquinas português desenvolveu equipamentos para fabrico aditivo de peças metálicas de grande dimensão, recorrendo à tecnologia de deposição direta de pó, bem como à tecnologia de fusão seletiva (processamento seletivo de camadas de pó). A ADIRA é o primeiro fabricante, a nível mundial, a posicionar-se na produção de peças metálicas de grande dimensão através da combinação de tecnologias de Fabrico Aditivo. A Siemens é parceiro tecnológico.

Consórcio PSA Mangualde

Iniciativa com investimento estimado de 12 milhões de euros, da responsabilidade da PSA de Mangualde, que assenta num consórcio com três universidades e cinco parceiros tecnológicos. O projeto envolve eixos que vão dos sistemas robóticos inteligentes (robôs colaborativos) a sistemas avançados de inspeção e rastreabilidade (visão artificial), a sistemas autónomos de movimentação, passando pela IoT.

Tags

REVISTA DIGITAL

IT INSIGHT Nº 48 Março 2024

IT INSIGHT Nº 48 Março 2024

NEWSLETTER

Receba todas as novidades na sua caixa de correio!

O nosso website usa cookies para garantir uma melhor experiência de utilização.